terça-feira, 6 de novembro de 2018

Faz-me falta a liberdade ... Prends garde à toi!

Estou cansada
da ordem,
das regras homogeneizadas,
das veneráveis Portarias obsoletas
da hipocrisia dos discursos inovadores,
da mudança prometida em gotas de autonomia
do atraso crónico da inovação anunciada
da consternação perante a inoperância
da inoperância perante a consternação
da resistência de que se reveste o poder,
da verdade da mentira, sem que se minta de verdade,
das correntes legisladas que me impedem de avançar
dos sussurros que encorajam
das decisões que não chegam
dos buracos no terreno que piso
do tempo de espera que, de tão lento, desespera
das trincheiras que se vão construindo
da trova que passa e do vento que nada me diz
da omissão pesada
do sucesso fictício
da absurda importância da presença física, em eras de virtuosismo virtual assíncrono
da vetusta irrelevância de aprendizagens significativas, em prol de presenças percentuais
do silêncio que invade os meus ouvidos ávidos de som, de sim, de sem, de nada

Estou cansada
de querer soluções,
de criar pontes, bem sei, despudoradamente, e, aliás, quem sou eu para as querer criar?
de acreditar no homem inteligente
de olhar um pouco para além da ponta do meu nariz
de ver o que tantos não querem ver ou ler, nem ouvir, nem saber
de escrever letras aparentemente translúcidas em correios que não obtêm respostas
de ouvir palavras ocas de quem nada quer dizer
de esperar desesperadamente
de acreditar que o homem é inteligente (já o disse?)
de marcar passo no espaço lamacento da evolução e da promoção do sucesso

Faz-me falta a esperança
a ética e os valores,
a criatividade
a paixão
a confiança, ah! a confiança! 
o entusiasmo
a pertinência
a ousadia
a significância
a vontade de querer ir mais além e de o poder fazer...
Faz-me falta a fé!
Faz.me falta a liberdade...
[Lamúria para um Projeto EF@]

 - Dis-moi, Stromae, c'est comme ça qu'on sème?

"Prends garde à toi
Si tu t’aimes
Prends garde à moi
Si je m’aime

Garde à nous. Garde à eux. garde à vous
Et puis chacun pour soi
Et c’est comme ça qu’on s’aime s’aime s’aime s’aime
Comme ça consomme somme somme somme somme..."

quarta-feira, 18 de julho de 2018

E depois do adeus?


Foto de ANQEP - Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional.













Hoje, a 18 de julho de 2018, aconteceu o Encontro Nacional de Centros Qualifica, subordinado à comemoração dos 10 anos do Sistema Nacional de Qualificações. 
Aconteceu em Aveiro, no Centro Cultural e de Congressos, para uma plateia constituída por cerca de 700 participantes, de acordo com os organizadores. 

Gostava de poder dizer que o entusiasmo que ali me levou ficou ainda maior após o evento, mas não foi o caso. 
Apesar de ter sido preparado com um cuidado evidente, o atraso com que começou viria a condicionar o decorrer dos paineis da manhã, com o transbordo consequente para as sessões da tarde. Sim, o horário importa. 
O que também importa, por razões bem diferentes, é a memória do arrepio causado pela Escola Profissional de Música de Espinho, numa introdução irrepreensível e agradabilíssima. Foi tão sublime que houve quem dissesse "Só por isto, já valeu a pena!". 
Mas voltemos ao Encontro. 
É verdade que havia, dentro de mim, expectativas altas, após uma eternidade sem um "banho de Agência", de que falara, aliás, com entusiasmo, a colegas  que estavam, pela primeira vez, em funções no Centro Qualifica. E, à imagem do que acontecera noutros tempos, esperava que houvesse a assunção do que está no core da demanda do Graal na Educação e Formação de Adultos. 

Desculpem-me, mas não consigo dizer o contrário do que sinto: ali faltou fullness, completude.

No que aos paineis diz respeito, a apresentação dos temas foi formal, correta e cheia de palavras. 
Se, por um lado houve, por vezes, palavras a mais, também houve, pelo menos, uma palavra a menos: não houve tempo para a conceder à plateia. Et pourtant... a plateia tinha tanto para dizer, a julgar pelo ruído de fundo constante, que se manteve, desagradavel e teimosamente, ao longo do dia, a velar, com zunzuns, um silêncio precioso que nunca se fez ouvir. Falta de interesse? ou de respeito? de tempo de antena? 

Mas no discurso final, algo aconteceu... o ainda presidente do Conselho Diretivo, Gonçalo Xufre, anunciou a sua saída da ANQEP e futura ida para Paris. 
Muito trabalho foi feito, a julgar pelo que nos foi apresentado e pela recente publicação do livro "Sistema Nacional de Qualificações-10 anos", numa edição da ANQEP. Um trabalho meritório num tempo sem andaimes, em que era imperioso não deixar cair o testemunho em caminhos enlameados de escárnio e ladeados de precipícios preconceituosos. 

Por entre desafios e propostas, vislumbram-se, de novo, interstícios de dúvidas e incertezas: o que virá, agora? A que pressões ficará a Agência sujeita? Quem ocupará esta cadeira em setembro? Que rumo tomará a Aprendizagem ao Longo da Vida e com que seiva financeira poderá esta Árvore contar?
Que silêncios foram estes, afinal? 


terça-feira, 27 de março de 2018

Integração e Preconceito: o jeito de ser "Inoque".


Hoje o assunto voltou à superfície, qual bola cheia de ar, enviada à força para o fundo do mar, que regressa numa explosão de movimento de água e nos salpica despudoradamente as rugas convictas de sulcos arados em tantas campanhas em prol da defesa dos direitos humanos e da igualdade de tratamento, independentemente das distinções individuais. 

Às vezes é apenas um trejeito, quase impercetível, mas presente no final de uma afirmação, "Esteve aí um senhor...", carregado de interrogação, na tentativa de se percecionar se o interlocutor vai ou não dar seguimento à pitada de racismo contida nas reticências silenciosas, espectante, mas hipocritamente disponível para qualquer saída airosa alternativa, no caso de ser necessário escudar-se nas palavras usadas, negando, então, obviamente, o peso do silêncio, das reticências, do trejeito. Nem foi preciso completar, bastou o silêncio, o trejeito, a hesitação para perceber que a frase tinha "...cigano" na ponta. 

Na cartilha dos (In)tolerantes, o termo "CIGANO" tornou-se uma injúria, é dito à boca pequena, em sussurro, frequentemente substituído por "etnia", porque parece conter consequências quase tão graves quanto as da "Palavra Mágica" de Vergílio Ferreira. 
Declaração Universal dos Direitos Humanos, no seu artigo 26º, lembra-nos que "A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das atividades das Nações Unidas para a manutenção da paz."

Ora a Declaração Universal dos Direitos Humanos é apenas um dos muitos Mapas criados pela  humanidade, em busca de orientação, para a descoberta e construção de novos mundos, confrontada com uma realidade tantas vezes tão distante do sonho, como o eram as terras remotas descritas por Piri Reis nos seus mapas de marear. 

A nossa vivência do dia a dia com os ciganos está tremendamente afastada da imagem social preconizada na Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas, outro mapa que nos guia em direção ao diálogo intercultural,a promoção da educação, da cultura e da cidadania, a integração social, o direito à habitação, ao emprego e à saúde. Parece existir um fosso enorme entre o que todos sabem que está politica e socialmente correto e a atuação, o modus operandi, que se verifica quando estamos no terreno. 


O cigano é persona non grata, excluído socialmente, temido e evitado, por ser cigano. "Ninguém dá emprego ao cigano: ele não sabe ler nem escrever!" dizem, ao falar da sua condição social. 

A escrever o Portfólio Reflexivo de Aprendizagens
As escolas, por seu lado, preferem "evitar que esses dois universos se cruzem", referindo-se, por um lado, à população constituída por alunos do ensino regular, de dia, e por outro lado, aos formandos adultos de EFA B1 (maioritariamente ciganos). 
Mas o caminho do futuro não se faz com mais exclusão. Quando encontramos ciganos que se recusam a assumir as normas por que todos os portugueses se devem reger, em deveres e direitos, devem ser (in)formados para o exercício de uma cidadania plena, ativa e participada, conciliando as suas regras internas com as da lei geral, pois são cidadãos portugueses. A Educação e Formação de Adultos é a ferramenta eficaz para promover a inclusão social, sobretudo junto de adultos pouco qualificados e desfavorecidos, para prover lacunas de competências e para promover igualdade de oportunidades. 


Para construirmos sociedades mais justas, integradoras, culturalmente diversificadas e respeitadoras dos indivíduos, precisamos de perceber o valor intrínseco de cada ponto de vista, acolhendo-o e, depois, encaminhá-lo para um percurso de desenvolvimento adequado, tendo em vista a plena integração social, no respeito pelas particularidades. 

O caminho é longo, sim, mas se queremos alinhar com a Estratégia Europa 2020, não podemos parar de caminhar, devemos continuar a procurar soluções, em lugar de sermos parte do problema. 

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Aprendizagem ao Longo da Vida: aprender não tem idade

Implementados no âmbito do Programa Qualifica, os Centros Qualifica de Norte a Sul do país desejam dar resposta à procura por mais qualificação, com vista à obtenção de melhor qualidade de vida, de um melhor emprego, num paradigma socioeconómico cada vez mais exigente, nomeadamente quanto às literacias digitais, mas não exclusivamente. Os Centros Qualifica pretendem estimular o gosto por aprender, tornar a formação uma realidade acessível a qualquer pessoa, quaisquer que tenham sido as circunstâncias que levaram à interrupção da escolarização: mais que um desígnio nacional, a Aprendizagem ao Longo da Vida surge como um direito do cidadão do século XXI.

Numa notícia veiculada pela TSF online em 2003, descobrimos que o provérbio “Burro velho não aprende línguas” está ultrapassado. A notícia refere que os resultados de uma investigação conduzida pela Dra. Angela Friederici, neuropsicóloga e linguista alemã, diretora do Instituto Max Planck, foram publicados na revista americana «Proceedings of the National Academy of Sciences» (www.pnas.org) e garantem que os adultos podem aprender uma língua estrangeira com tanta fluência como o seu idioma materno “Our findings demonstrate that a small system of grammatical rules can be syntactically instantiated by the adult speaker in a way that strongly resembles native-speaker sentence processing
(ANGELA FRIEDERICI, 2001-Brain signatures of artificial language processing: Evidence challenging the critical period hypothesis).  
O estudo realizado pela Equipa do Instituto Max Planck de Ciências Cognitivas descobriu que as regiões do cérebro usadas para processar a língua materna eram ativadas durante a aprendizagem de um novo idioma. Angela Friederici refere que, para aprender um segundo idioma, a fluência na língua materna é um fator muito mais importante do que a idade. Por isto, o velho provérbio tem que ser arquivado por caducidade e adaptado a estas descobertas científicas: “Aprender não tem idade”.
Obviamente, não é apenas de línguas que se trata, nem de um simples capricho, como referem alguns que se deixam ficar acomodados à sua condição limitada. Trata-se de um direito associado à cidadania do século XXI.
Ao longo do tempo, os conceitos foram-se adaptando às características do meio ambiente, transformando-se de acordo com as vivências engramadas e as necessidades emergentes, visando, na adaptabilidade, manter alguma homeostasia social. Por outro lado, a ideia que construímos sobre o conceito vigente de literacia vai moldando, igualmente, as nossas ideias e as nossas atitudes perante o que entendemos ser o ensino ou a educação.
Hoje, quando falamos de info-excluídos, referimo-nos, na globalidade, àquela franja da população que não domina o conjunto de competências básicas de escrita e de leitura que nos fornecem os computadores: a utilização da tecnologia em ambientes educativos é, sem margem para dúvida, uma nova forma de literacia. No entanto, aprender no século XXI (EPALE) implica bem mais do que adquirir competências digitais. É preciso saber filtrar o conhecimento a partir da pesquisa por entre universos de desinformação, por entre meios massificados de comunicação e universos privados de publicidade consumista, em que somos e estamos constantemente envolvidos.
Nos nossos dias, quem não domina as competências digitais não conhece a informação globalizada, sendo facilmente ludibriado por propostas menos escrupulosas, nem é cidadão de pleno direito, com tudo o que abarca o conceito alargado de cidadão da Aldeia Global em que se tornou o mundo das redes sociais. Fazer parte de uma comunidade, mesmo que apenas por alguns instantes, aumenta o prazer de viver. Ora, existem miríades de universos culturais, ainda pouco cartografados, construídos a partir do que cada um de nós lê, ouve, vê, publica, segue, guarda, reencaminha, gosta ou não… num nível tão consistente quanto pode ser um universo cultural individual.
Num tempo de aprendizagens não-formais e informais, não importa tanto quem ensina ou o que ensina, mas sim o que cada um aprende. Como nos alertou Einstein, no mundo da educação, é sobretudo preciso criar condições para que a aprendizagem aconteça, despertando a motivação, o prazer de perceber a pertinência do que se aprende e adequando essas condições ao momento da vida em que se aprende. 

Aprender não tem idade: é uma necessidade.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Petit poisson deviendra grand....


Estamos a chegar a um momento charneira do ano, quer acreditemos quer não: vem aí o solstício de inverno, no próximo dia 21 de dezembro às 16h28. Este momento mágico celebrado desde os confins dos tempos, foi-se adaptando às circunstâncias dos homens, em rituais mais ou menos religiosos, mais ou menos pagãos.
Desde o solstício de verão, os dias têm vindo a diminuir, deixando-nos, agora, com um período noturno mais longo. É o tempo em que o sol parece parar no seu curso, em torno do nosso planeta, numa rota pautada pela soma de todas as ilusões dos sentidos: o que está em cima é igual ao que está em baixo, o que está em baixo é igual ao que está em cima, na lógica hermética do Universo enquanto, na minha lógica, permanece a dúvida que se estende em todas as outras direções: o que está à esquerda e à direita, à frente e atrás, não conta? 
Bem, com as limitações que os meus sentidos me impõem, fico confinada a uma visão sincrónica dos acontecimentos, bem longe das dicotomias diacrónicas de quem vê, no decurso da história, muitas explicações. Assim, olho para o mundo e não compreendo por que razão ou razões as diferenças continuam tão difíceis de aceitar. De um lado, o dinheiro, as compras, as prendas, os bolos, as passas, os desejos de paz, de abundância, de calor humano e de amor e do outro nem passas, nem bolos, nem prendas nem compras: a guerra, a fome, a miséria, o frio e o sofrimento.


E se o mundo fosse feito de desejos? Ah! como gostava de ver o mundo mudar e aceitar que não há bandeiras nem nações, apenas humanos, mas sou pequena demais: nem consigo perceber que o planeta respira...


Sou tão pequena que mal consigo discernir o valor do que penso, digo ou faço, mas tenho uma certeza comigo: o que quer que seja que me proponha fazer, deverei procurar fazê-lo com perfeição na intenção e com entusiasmo: os reais segredos do sucesso. "Porque eu sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura."
E no alvoraçado mundo da superfície terrestre, com o bulício desta época festiva, quem se lembra da existência deste pequeno peixe japonês, artista dos fundos marinhos, impelido pela paixão? O que significa para a História o sucesso deste peixinho? Em que medida terá ele contribuído para a construção de um mundo melhor? O seu modelo de perfeição inspira-nos, a sua contribuição para o equilíbrio das espécies, por mais ínfima que seja, reveste-se de um enquadramento fenomenal.  


Assim somos, como o peixinho, cada um de nós no seu cantinho de mar, o seu Centro Qualifica, a contribuir para que os portugueses fiquem com "mais qualificação melhor emprego" fazendo tudo o que está ao seu alcance para cativar atenções, dedicando-se à sua tarefa com todo o aprimoramento possível.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Semana Aprender ao Longo da Vida 2017- para bom entendedor...


Começou hoje a Semana Aprender ao Longo da Vida 2017, tendo sido o seu início magistralmente assinalado com o Encontro subordinado ao tema " Educação de Adultos num mundo digital". 

Tive o prazer de assistir aos diversos painéis de oradores deste Encontro, no Grande Auditório do ISCTE, em Lisboa. Muito bem organizado e simpaticamente enquadrado com pausas para café e bolinho, pautadas por uma preocupação quase austríaca com o cumprimento do horário, o Encontro ficou, não obstante, marcado por ausências que se fizeram notar: representantes do Ministério da Educação, do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, assim como da UNESCO. 

O Presidente do Conselho Diretivo da ANQEP, Gonçalo Xufre, assinalou a importância do evento com várias referências à visão da Comissão Europeia quanto ao modo como poderemos criar um Espaço Educativo Europeu, procurando a convergência e aumentando a percentagem de pessoas envolvidas na aprendizagem ao longo da vida até 2025, assim como a integração da inovação e das competências digitais na educação. 

O conceito subjacente à Aprendizagem ao Longo da Vida obriga a uma autêntica revolução de mentalidades, uma assinalável mudança paradigmática que implica disponibilidade para desaprender parcialmente informações gravadas nos nossos anéis de crescimento mental.
- Ora "a informação não é conhecimento", pois não, Albert? até porque a informação muda consoante as condições ambientais, tal como se pode verificar nos anéis das árvores: com mais ou menos chuva, a largura dos anéis denuncia anos de seca...E não basta desaprender: é preciso abrir horizontes em direção ao futuro, tão mutável e imprevisível quão proporcional está à velocidade com que se aproxima do nosso presente, estando este, a contrario, ainda muito virado para o passado, em atitudes, convicções, em estratégias dogmáticas, em aulas por vezes anacrónicas e obsoletas. Tendemos a replicar modelos; esquecemos, amiúde, que, agora, é com a ponta do(s) dedo(s) que o mundo se governa nas telas alfanuméricas, em tweets eventualmente aterradores e que, amanhã, 90% dos empregos exigem algum nível de Digital Skills. 

Ouvir os palestrantes falar sobre Aprendizagem ao Longo da Vida na era Digital, foi como uma sinfonia para os meus ouvidos. É nestes momentos que dou comigo a pensar que este evento merecia outro tipo de divulgação, que havia de chegar a muito mais do que 350 inscritos (lotação do Auditório) e, sobretudo, ser tão noticiado quanto foi o Web Summit
Dir-me-ão que "santos da casa não fazem milagres": enganam-se. Só não fazem milagres para aqueles que não os sabem reconhecer. Aliás, está na altura de pensarmos em rever alguns ditados que com a sua suposta "sabedoria popular" minam o progresso e entorpecem mentalidades. "Burro velho não toma ensino" tem efeitos devastadores e contrários à missão a que Portugal se propôs. "A galinha da minha vizinha é sempre melhor que a minha" explica o sucesso da Web Summit e o silêncio mediático sobre a Semana ALV 2017. 

Para bom entendedor.




sábado, 21 de outubro de 2017

Orgulho e Paixão ou como se constrói um Portugal Maior


Orgulho e Paixão.

Foi o que senti, hoje, mais ou menos no final da sessão de formação das Jornadas Qualifica. 
Estas Jornadas destinadas aos elementos da Equipa dos Centros Qualifica realizaram-se ontem e hoje, 19 e 20 de outubro nas instalações da ANQEP, Agência Nacional para a Qualificação e Ensino Profissional, I.P. em Lisboa. 

Do programa constou: 
- Orientação ao Longo da Vida, Plataforma SIGO e Passaporte Qualifica
- RVCC escolar: metodologias e instrumentos
- RVCC escolar: validação e certificação de competências (formação complementar; condições de validação e de certificação; prova)
- RVCC profissional: metodologias e instrumentos
- RVCC profissional: validação e certificação de competências (formação complementar; condições de validação e de certificação; prova)

Foto de Anabela Luís.


As temáticas foram apresentadas em diferentes salas de trabalho, sendo que me foi dada a oportunidade de descobrir o RVCC profissional: uma oitava acima do RVCC escolar. Confesso que não aconteceu logo, tive que passar pelo umbral da resistência, estranhando o sistema, sentindo-me que nem crisálida apertada no casulo, expelindo, ainda, fios de argumentos... Mas à medida que fui descobrindo o tecido entrelaçado resultante de cruzamentos felizes entre o CNQ- Catálogo Nacional de Qualificações e o SIGO, o Sistema de Informação e Gestão da Oferta Educativa e Formativa, qual seda brilhante, despertei para a magia do voo, agora borboleta monarca, disposta a atravessar o mar...
Pintura chinesa do século XII mostrando mulheres fabricando seda
in pt.Wikipédia.org
Paixão: por detrás dos teares das plataformas, subjaz a presença elegante e discreta (apenas visível para os olhos do coração) de um duro, persistente e resiliente labor, de cada um dos responsáveis pela conceção, construção, correção e adaptação do CNQ e do SIGO.
Percebe-se dedicação, cuidado e rigor nos processos de validação e certificação, essenciais para que, em futuras avaliações, sejam reconhecidas, aos instrumentos e seus atores, competências de qualificação.

Orgulho: vivo num país onde a inovação acontece, em permanência, muitas vezes com o silêncio inocente do sucesso sem expressão mediática.

O Programa Qualifica ganha asas e sobrevoa, subtil, sereno e seguro, antigos oceanos de preconceitos: muito para além das divergências de outrora, os Centros Qualifica desenham sinergias para uma missão comum, qualquer que seja a tipologia da entidade promotora. Mais cooperação, mais qualificação, para a construção de um Portugal Maior.
                                                                   Resultado de imagem para borboleta monarca

quarta-feira, 19 de julho de 2017

De regresso ao cais ... ou um barco chamado QUALIFICA


Na nossa escola há umas escadas onde se pode ler um poema, quando se sobe. As letras foram coladas uma a uma e estão recortadas cuidadosamente para caberem no espelho dos degraus, obrigando-nos a refletir nas imagens das palavras que o compõem.  
Curioso é que nunca parei para ler o poema todo de uma vez, mas a cada subida, ficava invariavelmente com um eco na memória, daquela primeira frase e do título.
Sísifo

Recomeça…Se puderes, Sem angústia e sem pressa.
O resto do poema ficando para trás, sentia, ao chegar ao topo das escadas que a intenção fora a de nos levar, vezes sem conta, a recomeçar a escalada, em busca de um qualquer caminho duro, no futuro. E chegava a sentir vaidade em viver numa escola com uma escada poética, parecia até que, por vezes, se animavam aquelas letras pretas recortadas quando alguém parava para ler melhor e mais um pouco...
E os passos que deres,

Nesse caminho duro

Do futuro,

Dá-os em liberdade.
Mil subidas sem ler, outras tantas descidas, ali, sob os nossos pés, a alegoria da vida a passar despercebida para quem não queira ver. Mas quando a alma silencia todos os ruídos do dia e os fantasmas da noite, brotam dos degraus da escada mágica, palavras recheadas da sapiência dos antigos... 
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo Ilusões sucessivas no pomar
E vendo Acordado, O logro da aventura.
Aqui estou eu, de novo, a empurrar o mármore montanha acima, a lançar o barco para longe do cais, a ajustar a vela ao vento, segura da nova aventura, sem logro, ladeada de marujos decididos a chegar a bom porto.

És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura Onde, com lucidez, te reconheças.    
Miguel Torga, Diário XIII
Não é só minha a loucura, pois somos mais que muitos, a querer com uma gota de água reconstituir o mar e com um grão de areia reerguer a praia,  grão a grão, gota a gota: assim é a nossa tarefa perante o desafio de relançar a Educação e Formação de Adultos e de combater o abandono escolar, promovendo a Aprendizagem ao Longo da Vida. 
Estou de volta!... e o meu barco chama-se Centro Qualifica de Cister.



Vídeo Promocional do Programa Qualifica from ANQEP on Vimeo.

terça-feira, 11 de julho de 2017

“Desafios e Mudanças nas Bibliotecas: perspetivas de desafios”



No dia 10 de julho de 2017 decorreu, no Auditório da Biblioteca Municipal de Pombal, o Seminário Rede de Bibliotecas de Pombal subordinado ao tema “Desafios e Mudanças nas Bibliotecas: perspetivas de desafios”.

Durante a tarde, os temas das Mesas gravitaram em torno das seguintes ideias-chave:
1) O que falta às bibliotecas para serem o melhor lugar?
2) Desafios e mudanças nas bibliotecas
3) Autonomia nas bibliotecas escolares
4) Que práticas nas bibliotecas perspetivam o futuro?

De facto, as Bibliotecas (não apenas escolares, mas também municipais e as de instituições de ensino superior) assumem-se hoje como estruturas formativas de aprendizagem e de construção do conhecimento, assente em novas abordagens pedagógicas, baseadas na pesquisa e no processamento da informação e no uso intensivo dos novos recursos e media digitais.
O evento proporcionou aos presentes o privilégio de contar com o contributo de um versátil painel de especialistas que inegavelmente os colocou a refletir sobre o papel, a missão e "boas práticas" das bibliotecas enquanto espaços educadores e construtores de Saber(es) e de conhecimento(s).
De entre as muitas (e relevantes) ideias partilhadas, é de sublinhar a intervenção de Pedro Príncipe, que atualmente exerce funções nos serviços de documentação da Universidade do Minho como Gestor de projetos Open Access e integra o Conselho Diretivo Nacional da Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas. Este orador, da sua experiência académica e, sobretudo, profissional, fez emergir o seu enriquecedor contributo focando-o em três aspetos centrais:
  1. Mudanças nas bibliotecas;
  2. Desafios às bibliotecas;
  3. Ações em Portugal.

Quanto às mudanças nas bibliotecas, referiu que as mudanças ocorrem:
* no acesso e gestão da informação;
* nas tecnologias da informação e comunicação;
* na intenção social e nas comunidades;
* nos serviços e recursos e no ensino-aprendizagem.

Em termos de desafios, destacou os seguintes (sublinhamos o primeiro por ir diretamente ao encontro dos pressupostos da Educação Permanente e Formação de Adultos e do paradigma da Aprendizagem ao Longo da Vida):
  • valorizar a expansão dos recursos educativos on line (valorizando a Aprendizagem ao Longo da Vida e promovendo um maior reconhecimento da educação formal, não-formal e informal);
  • defender os valores do acesso à informação (pois em tempos de agitação política e económica, as bibliotecas são mais desafiadas a defender a liberdade intelectual e, o livre acesso ao conhecimento e à informação);
  • promover o acesso livre à informação e ao conhecimento (uma vez que nas bibliotecas das instituições de ensino superior é possível aceder a bases de dados e repositórios digitais de diversas publicações científicas);
  • tornar relevantes os fluxos de informação institucionais (devendo ocupar um lugar de destaque nos processos de gestão da informação e da visibilidade de resultados e permitindo a estudantes e a investigadores aceder a uma diversidade de publicações científicas);
  • reforçar as competências profissionais (apostando em desenvolver comunidades de prática e um esforço de diálogo e de convergência profissional);
  • criar makerspaces (disponibilizando, por exemplo, impressoras 3D, sendo esta uma prática em funcionamento na Universidade do Minho).

Por fim, em relação às ações em Portugal, foi destacada:
  • a importância de “fazer mais com menos” (como sempre tem sido, em plena época de contenção e, simultaneamente, exigência, mostrando o valor da ação);
  • a ampliação do campo de ação e a captação de novos públicos (mas… estarão as bibliotecas excessivamente focadas na animação e leitura? Dever-se-á apostar menos na coleção e mais na comunidade e melhor na gestão de informação?);
  • a recuperação da memória e do património local e regional (criando suportes sólidos que congreguem esse material e legado);
  • o papel das bibliotecas como agentes facilitadores da Ciência Aberta (dada a relevância na política nacional, transformando as bibliotecas em pequenos laboratórios de ciência).

É assim que, enquanto espaços educadores, também as bibliotecas (escolares, municipais e de instituições de ensino superior) se enquadram nos princípios da Cidade Educadora, constituindo-se como verdadeiros palcos vivos de experiências em ebulição. 

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Orçamento Participativo Portugal | Fase de votação



Porque votar é também um ato de cidadania e de participação…

…encontra-se a decorrer a 4.ª fase do Orçamento Participativo Portugal, podendo votar todos os cidadãos nacionais e os cidadãos estrangeiros a residir legalmente em Portugal.

Cada cidadão tem direito a dois votos: um para projetos de âmbito territorial e um para projetos de âmbito nacional.

É possível conhecer a lista de projetos aqui

terça-feira, 30 de maio de 2017

Do seminário “Educação e Formação para a População Adulta”…



Sessão de abertura (Luís Filipe Menezes, David Justino e António Gomes Ferreira)

A adoção recente da “Agenda para as Novas Competências na Europa” coloca grandes desafios a Portugal, pois apesar dos progressos alcançados nas últimas décadas subsiste um expressivo défice estrutural de qualificações na população adulta portuguesa. Assim, e tendo por base a importância de promover um momento de reflexão coletiva em torno das necessidades de educação e formação das pessoas adultas – tanto para o aumento da sua escolarização, como para o desenvolvimento das suas qualificações profissionais -, a FPCEUC foi palco, no dia 29 de maio, do Seminário “Educação e Formação para a População Adulta”, organizado por esta Faculdade e pelo Conselho Nacional de Educação.


1.º PAINEL | Análise crítica da evolução das políticas e retrato atual

Ana Cláudia Valente abriu o 1.º painel e, assim, a “ordem de trabalhos” com a apresentação intitulada “Adultos e participação na Aprendizagem ao Longo da Vida: desafios para Portugal”. Salientou que a taxa de participação desagregada por níveis de qualificação é reveladora do significativo atraso do nosso país e que são os adultos mais escolarizados quem mais procura formação. Afirma existir, assim, um grande desafio estrutural colocado a Portugal (cujos valores estão completamente invertidos em relação àquela que tem sido a tendência da UE): romper com a “low skills trap”. Referiu, ainda, que é necessário ter em consideração a “procura” (sabendo que a idade e a escolaridade são as variáveis que mais contribuem para explicar a participação na ALV e que a escolaridade de ensino secundário aumenta em 83% a probabilidade de participar), mas também a “oferta” (considerando que os processos de RVCC, os Cursos EFA e as Formações Modulares Certificadas constituíram-se como as respostas de qualificação da população adulta). Aponta, face ao que tem sido a EFA nos últimos anos, três desafios: (1) reduzir a “quase inevitabilidade” da desigualdade na participação em ALV, não esquecendo as pessoas que apresentam mais baixas qualificações e contrariando o “peso” da idade; (2) apostar na educação e formação formal, mas sem desperdiçar o contributo e a complementaridade das aprendizagens não formais nem a necessidade de formação relevante, com sentido e qualificante, em períodos de desemprego; (3) promover orientação ao longo da vida através de: redes e parcerias locais, serviços de proximidade, plataformas de mobilização para a ALV, capitalização de percursos de formação e experiências anteriores e regresso de adultos com percursos de formação por completar.

De seguida, assistiu-se à intervenção de Paula Guimarães com um contributo alusivo às “Políticas públicas de educação de adultos e aprendizagem ao longo da vida em Portugal: circunstâncias e desafios”. O ano de 2000 marcou o surgimento de ofertas inovadoras, como os processos de RVCC e os Cursos EFA. Após 2005, a educação de adultos ganhou destaque na agenda política e o elevado financiamento concedido, sobretudo por via da UE, favoreceu um aumento significativo da participação dos adultos, levando a reconhecer o esforço no cumprimento do direito à educação para todos. No entanto, 2011 marcou uma forte viragem, que se traduziu na desvalorização política e social da educação de adultos, na expressiva diminuição do financiamento e das ofertas existentes e no reforço dos dois sistemas de educação e formação existentes (a escola/educação formal e os centros de formação profissional) marcados por práticas frequentemente escolarizadas. Emergiram, assim, novos desafios, entre os quais podem sublinhar-se dois: (1) o necessário relançamento político, institucional e profissional de um sector que se mantém pouco reconhecido socialmente; (2) a forte dependência do financiamento da UE (não havendo mudanças na situação atual, poderá agravar a tradicional tendência de descontinuidade e intermitência das políticas públicas) deveria dar lugar a uma maior intervenção do Estado Português. 


2.º PAINEL | Necessidades de educação e formação de pessoas adultas em idade ativa

Joaquim Ferreira abriu o 2.º Painel com a comunicação "Trajetórias pessoais de desemprego e reemprego: fatores pessoais e contextuais", salientando logo no início que o desemprego é também uma forma de exclusão. Neste sentido, referiu que a investigação sobre o desemprego aponta para as consequências adversas deste para as pessoas e para as comunidades, sendo o trabalho considerado por diversos autores como determinante para a saúde psicológica e para o bem-estar. Apontou, ainda, alguns desafios no âmbito das políticas públicas de formação e emprego e do aconselhamento de carreira, nomeadamente: (1) promover o acompanhamento/aconselhamento e orientação ao longo da vida; (2) construir comunidades de responsabilidade social (envolvendo as pessoas que estão mais na periferia, com menos qualificação e com menos recursos financeiros).
 
Posteriormente, João Caramelo organizou a sua comunicação a partir da “Agenda para as Novas Competências na Europa”.Reforçou, neste sentido, que é fundamental trabalhar sobre o que é a formação como um direito e que além de existir reconhecimento das aprendizagens ocorridas em contextos informais e não formais deve existir reconhecimento social desta prática. Acrescentou, ainda, que deve promover-se a territorialização dos processos formativos (sendo essencial uma lógica de proximidade), pois as necessidades formativas encontram-se relacionadas com as dinâmicas das próprias cidades e da diversidade de contextos. 


3.º PAINEL | A agenda política até 2020 e os desafios levantados a entidades e profissionais


Painel "A agenda política até 2020 e os desafios levantados a entidades e profissionais"
(Margarida Chagas Lopes, Luís Capucha e João Couvaneiro)

Na parte da tarde, João Couvaneiro começou por apresentar um diagnóstico geral: cerca de 55% dos adultos (entre 25 e 64 anos) não concluíram o ensino secundário; redução acentuada da rede de centros especializados em educação e formação a partir de 2012; recuo da participação de adultos em atividades de educação e formação; quebra (para números praticamente residuais) da atividade dos Centros. À semelhança dos contributos anteriores, também aqui foram registados alguns desafios, particularmente: (1) dar um novo impulso à Educação e Formação de Adultos para melhorar os níveis de qualificação da população portuguesa; (2) assumir a plena integração da educação e formação da população adulta no sistema educativo (a educação de adultos tem de ser convocada, pois ainda não está naturalizada no sistema educativo); (3) assegurar a estabilidade e a resiliência política; (4) melhorar as representações sociais associadas aos processos de educação e formação da população adulta; (5) garantir o financiamento e a sustentabilidade; (6) assegurar a agilidade dos processos de candidatura financeira e o pagamento atempado; (7) reforçar a qualidade dos processos de educação e formação da população adulta; (8) contrariar os baixos níveis de execução que os centros apresentaram nos últimos anos; (9) ampliar a oferta de educação e formação para a população adulta.

Margarida Chagas Lopes prosseguiu a “ordem de trabalhos” com uma comunicação intitulada “A Educação e Formação para a População Adulta: uma questão de responsabilidade social” através da qual realçou dois aspetos essenciais: por um lado, o de que a área da educação e formação de adultos constitui um palco onde se cruza uma variedade de interesses (formativos, sociais e políticos), onde se encontra e tenta concertar uma rede de instituições que intervêm a diversos níveis e em distintos planos; por outro lado, a educação e formação da população adulta assume-se hoje em dia como um dos principais desígnios sociais, visando a inclusão social (pois nesta fase de acentuada inovação tecnológica e económica, com crescente risco de desemprego por obsolescência de qualificações, a aprendizagem e formação permanentes e a educação e formação ao longo da vida constituem veículos fundamentais de inclusão no mercado de trabalho, sobretudo em situações de reinserção após desemprego prolongado). Sublinhou, ainda, que o risco de se ficar à margem da sociedade, da comunidade e até da família aumenta também substancialmente nos dias que correm e tanto mais quanto menor for o acesso à informação e ao conhecimento. Além disso, quem pouco estudou em criança e em jovem tem agora maior dificuldade em aprender e processar as novas formas pelas quais o conhecimento e a informação se expressam, circulam e, eventualmente partilham. Também aqui foram deixados três desafios: (1) fazer face aos nódulos de injustiça (sendo uma das mais significativas, na sua opinião, a de género); (2) promover a qualificação de gestores de pequenas e médias empresas que detêm baixas qualificações; (3) articular de forma consistente e sólida com as tutelas, de forma a não alimentar iniciativas avulsas. 


4.º PAINEL | Como motivar as pessoas adultas a investir nas suas qualificações?

“Como motivar as pessoas adultas a investir nas suas qualificações?” foi o mote da comunicação de Albertina Oliveira. As sociedades contemporâneas, caracterizadas pela aceleração exponencial das mudanças (a nível científico, tecnológico, económico, cultural, etc.) colocam-nos perante a necessidade de renovar e desenvolver constantemente os conhecimentos e competências, sendo forçoso elevar o nível educacional e formativo das pessoas. O direito de aprender crescentemente assume a forma de obrigatoriedade de aprender, sendo a nível profissional que esta última mais se faz sentir (embora os seus reflexos estejam presentes em todas as esferas do quotidiano). A disposição para aprender, porém, não é mobilizada da mesma forma em todos os adultos, nem as oportunidades de educação e formação chegam a beneficiar todos tanto quanto seria desejável. Sublinha que, de facto, é um dado recorrente que são os adultos mais jovens, os que apresentam um nível superior de educação e um nível socioeconómico mais elevado, que mais beneficiam das oportunidades educativas/formativas (como também foi possível constatar através das intervenções anteriores). Salientou, ainda, que existem três níveis integrados da motivação das pessoas adultas:
  • Nível 1 | Sucesso + Volição 
  • Nível 2 | Sucesso + Volição + Valor 
  • Nível 3 | Sucesso + Volição + Valor + Prazer 
Esta intervenção foi finalizada com algumas “inquietações”, entre as quais se destacam as seguintes: (1) trabalhar mais, mais depressa e de forma mais inteligente está a servir os interesses de quem?; (2) o planeamento da educação e formação e o modelo motivacional não podem dispensar a reflexão crítica e o compromisso com valores humanos fundamentais. 

António Fragoso encerrou o Painel com a comunicação intitulada “Investir na qualificação dos adultos: responder às perguntas ‘certas’?”. Para tal, organizou o seu discurso no sentido de responder a quatro questões nucleares: (1) quem queremos nós qualificar?; (2) que oferta formativa existe?; (3) quais os agentes educativos?; (4) quais as instituições educativas?. Em relação à primeira questão, referiu que é fundamental compreender quais as características centrais da população adulta portuguesa e se é possível, ou não, desenhar um perfil do “adulto não participante” na educação e na aprendizagem. A resposta é afirmativa, tratando-se, geralmente, de pessoas com mais de 45 anos, que auferem menos de 700€/mês, com escolaridade inferior ao 9.º ano, habitante em zonas de baixa densidade populacional (ou mesmo isoladas), com baixa qualificação profissional, não utilizador/a de computador ou Internet, desconhecedor/a de línguas estrangeiras e sem hábitos de leitura. Naturalmente é a este grupo populacional que devemos dirigir-nos quando queremos melhorar as qualificações dos adultos. Quanto à segunda questão, foi feita alusão à alfabetização, às ofertas de segunda oportunidade, às parcerias com as organizações da sociedade civil, à existência de conceitos e dispositivos de formação flexíveis e diversos (como, por exemplo, educação com alternância de períodos de formação com períodos de trabalho), validação de adquiridos experienciais e alternativas que cubram uma vasta gama de situações, propósitos e objetivos dos adultos. A terceira questão foi “respondida” com outra: onde estão os educadores de adultos, formados como tal? Neste sentido, foi discutida a pertinência de um curso (de licenciatura) específico para formar educadores de adultos. No que concerne à última questão, foi reforçado que instituições educativas são todas aquelas que respondem às necessidades locais. 

Por fim, David Justino, procedendo ao encerramento do Seminário, resumiu-o em três palavras-chave que estiveram presentes (direta ou indiretamente) em todas as comunicações: princípios, finalidades e desafios. De facto, ao alicerçar-se nos princípios que a legitimam, a Educação e Formação de Adultos deve gravitar em torno das suas finalidades, respondendo aos desafios que a sociedade (lhe) vai colocando.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Seminário “Educação e Formação para a População Adulta”





No âmbito das suas atividades, a Comissão Especializada Permanente do Conselho Nacional de Educação – Ensino e Formação Vocacional – definiu uma linha de trabalho em torno da Qualificação da população adulta.

Apesar dos progressos alcançados nas últimas décadas subsiste um expressivo défice estrutural de qualificações na população adulta portuguesa. Assim, importa refletir em torno das necessidades de educação e formação das pessoas adultas, seja para o aumento da sua escolarização, seja para o desenvolvimento das suas qualificações profissionais, assegurando a continuidade da aprendizagem ao longo da vida e a permanente melhoria da qualidade dos processos e resultados de aprendizagem.

A Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidadede Coimbra associa-se à organização do Seminário “Educação e Formação para a População Adulta”, cuja temática se enquadra na área de especialização em Educação Permanente e Formação de Adultos do Doutoramento em Ciências da Educação.

Este promete, assim, constituir-se como mais um espaço e um tempo de discussão e partilha sobre uma das áreas prioritárias de atuação sempre que tomamos consciência de que vivemos numa Sociedade e Economia do Conhecimento.

O programa provisório pode ser consultado aqui, sendo a inscrição obrigatória.

segunda-feira, 6 de março de 2017

De Música a Café… agora é que é!


Fonte: APCEP

Por estes dias, quem acredita no que faz e defende o que faz (e quem não, em ambas as situações também, naturalmente) foi agradavelmente surpreendido por uma lufada de ar fresco. Talvez sejam os ares primaveris. Ou talvez seja, “apenas”, porque de facto se trata de um projeto que nunca deveria ter sido exterminado cruelmente, a sangue frio, deixando um inesquecível rasto de destruição…

(Re)construção da rede nacional de Centros
Foi assim que por estes dias a página eletrónica da ANQEP publicou não apenas o despacho de autorização de criação e funcionamento dos Centros Qualifica, como também o aviso de abertura de procedimento para a autorização da criação e de funcionamento de (novos) Centros.
As entidades interessadas e que acreditam na EFA dispõem de 25 dias úteis a contar da publicação do Aviso CQ/1/2017 para apresentação de candidaturas à criação e funcionamento de Centros Qualifica.

Habemus (possibilidade de) candidatura
No Portugal2020, no âmbito do POCH – Programa Operacional do Capital Humano, encontram-se abertas as candidaturas aos Centros Qualifica. Apesar dos contratos-programa e das constantes botijas de oxigénio, esta continua a ser a forma de continuar a acreditar…

Sessão de lançamento do Programa Qualifica
A 18 de abril de 2016 teve lugar a apresentação do Programa Qualifica, no Auditório do Conservatório de Música de Coimbra.
E hoje, por esta hora, decorre no Auditório do Centro de Ciência do Café, na Herdade das Argamasas, em Campo Maior, a sessão de lançamento do Programa Qualifica, que se define como “uma aposta nacional para responder ao défice de qualificação da população portuguesa”, pois “nos últimos meses foram consolidadas as bases e instrumentos normativos, técnicos e de expansão da rede para voltar a afirmar a educação e formação de adultos como uma prioridade do país”.

Em dezembro, no encontro EFA | Reflexões, competências, atividades e perfis profissionais, foi referido que no 1.º trimestre de 2017 seriam divulgadas novidades quanto à constituição da rede (criação de novos Centros) e ao financiamento. 

Eis-nos no 1.º trimestre. Com as tais novidades. Até ver, não nos deram Música. Sirva-se o Café. Queremos acreditar que agora é que é o que nunca devia deixar de ter sido!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

“Já” em março…



À semelhança de um qualquer download – de um ficheiro “pesado”, de uma música ou de um filme – que fica anestesiado na eternidade, paralisado e sem evidenciar qualquer sinal de vida… assim vai estando, mais uma vez (como infelizmente temos vindo a ser habituados), o “download” do Programa Qualifica.

Consta-se que foi esta quarta-feira, no debate quinzenal, que o Primeiro-Ministro, António Costa, anunciou – entre várias medidas de apoio à economia e à formação – o arranque, previsto para 6 de março, do Programa Qualifica (aquele que já ficou conhecido pela «versão atualizada do “Novas Oportunidades”»).

De acordo com o primeiro-ministro, o Programa Qualifica será um “programa de qualificação de adultos que associará a certificação de competências à criação de percursos personalizados de formação”. A intenção é dar resposta às necessidades de educação de adultos que surgiram após a extinção do programa “Novas Oportunidades”.
Mas isso não acrescenta nada de novo ao trabalho que tem vindo a ser desenvolvido de forma mais marcante e social e internacionalmente reconhecida, desde há duas décadas. O que queremos, efetivamente, é isto: novidades. Mas novidades a sério. Enquanto isso, aguardamos pelo download daquela que se espera ser a “nova” musculatura da Educação e Formação de Adultos (até quando?). Desejando que não seja apenas mais uma "série" (com intervalo infindo até à próxima temporada) ou um simples ato de "dar música"...

Fonte: aqui

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Saberes em Festa



Lagoa será palco do Encontro Regional de Cultura e Educação Permanente “Saberes em Festa”.

O evento decorrerá nos dias 7 e 8 de abril de 2017 e constituirá um diversificado e privilegiado espaço de workshops, tertúlias, convívio e animação (contando com momentos musicais, poesia, literatura, teatro e gastronomia).