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sábado, 26 de junho de 2010

Pensar a educação...

Tive recentemente a oportunidade de participar numa Missão Aventura Solidária, com a AMI, numa das zonas mais pobres do Senegal. Entre o projecto em que estivemos envolvidos e o contacto com a comunidade, visitámos duas escolas, a de Kaba e a de Parba. Esta última foi a que mais me impressionou. A escola não era mais que 5 palhotas, deitadas pelo vento, com umas mesas lá dentro e um quadro preto pendurado em paus. Sentar-me numa destas "salas" de aula foi uma experiência emotiva e transformadora. Queixamo-nos de tanto quando há tanta gente no mundo sem as mínimas condições para trabalhar, quando há meninos e meninas que aprendem sentados no chão, entre o pó, sem material escolar do mais básico que existe, como um caderno e um lápis.



E ali, naquele sítio onde tudo parecia impossível, havia uma coisa que aqui pergunto onde anda... respeito. À entrada na sala, todos os meninos se levantavam sem uma única palavra da professora. À saída, ordeiramente, cada fila de alunos aguardava a sua vez. Na entrega de material escolar à comunidade, não houve uma única criança que ousasse tocar em nada, apesar de também nada ter e a tentação poder ser muita (pelo menos no nosso entender). Os olhitos brilhavam a olhar os lápis de cor, as canetas, os cadernos, mas ninguém tocou em nada com um dedo que fosse e não foi preciso alertá-los para que o fizessem. E havia sorrisos. Muitos. Orgulho em andar na escola, em aprender. Orgulho em mostrar as palavras que iam desenhando nos cadernitos sujos e gastos. Ali, naquilo a que vulgarmente chamamos "fim do mundo", encontrei eu o princípio. Os princípios, a essência do ser humano. Aquilo que nós aqui, apesar de todas as condições que possamos ter, perdemos.
Há tanto, tanto para fazer por esse mundo para que a educação seja, efectivamente um direito de todos, principalmente das crianças! Porque só com a educação pode haver desenvolvimento, mudança, transformação.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Como podemos melhorar?...

«Os adultos reconhecem a importância da sua participação nos programas de educação de adultos e valorizam a Iniciativa Novas Oportunidades mas confessam que os impactes reduzidos no emprego e na própria empregabilidade constituem uma decepção. É nessa base que preconizam ligações mais estruturadas da Iniciativa ao mundo do trabalho. Esta avaliação diz respeito quer à frequência de acções estruturadas, como os Cursos EFA – Educação e Formação de Adultos, quer à participação em processos de reconhecimento e validação de competências (RVC) que, de uma forma geral, são acompanhados por acções formativas de curta duração. Estamos a considerar, para efeitos desta avaliação, o campo da participação formal, naquela que é estruturada pela lógica do diploma e da certificação, sabendo-se que neste domínio existem abordagens e modalidades flexíveis que incorporam alguma informalidade. Mas a participação em espaços mais informais de educação e formação de adultos não é aqui tida em conta.

Duas conclusões:

“É nos ganhos do Eu que quase tudo se joga no que concerne a consequências da passagem pela Iniciativa Novas Oportunidades”;

“Dois terços dos sujeitos que frequentaram a Iniciativa Novas Oportunidades dizem não ter recebido reconhecimento no local de trabalho”.

Estas duas afirmações, presentes no Relatório de Avaliação Externa realizada em 2009 por uma equipa multidisciplinar coordenada por Roberto Carneiro (ex-Ministro da Educação), ilustram bem as questões fundamentais que estão em jogo quando falamos da avaliação dos sistemas pelos próprios adultos.
Sabendo-se que existem elementos extremamente positivos e que a medição de impacte revela alterações substanciais nas próprias vidas dos participantes, quer no plano afectivo quer ainda no reconhecimento social, importa aprofundar as pistas que indiciam potencialidades de melhoria e ouvir os adultos sobre os campos de progressão do sistema.»

Carlos Ribeiro, InfoNet

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Acreditar, Motivar, Transformar

Como profissional RVC cada vez tenho mais noção da responsabilidade das funções que desempenho. E essas funções extravazam em muito aquilo que está definido formalmente. Uma das funções mais importantes, para mim, é a motivação dos adultos que acompanho. Motivar não é tão difícil como pode parecer. Primeiro há que conquistar a pessoa. Para isso, é necessário conhecê-la, dar espaço para que ela se mostre e até se descubra melhor a si própria. Durante essa fase temos que estar muito atentos, para começarmos a perceber as potencialidades daquela pessoa que temos à nossa frente. Quando isso acontecer, temos que nos tornar um espelho, ou seja, devolver-lhe o que de mais positivo ela nos mostra. Se pensarmos em nós próprios, quantas vezes achamos que não valemos nada, que o que dizemos não é importante, que o que fazemos não tem utilidade?... Acontece-nos a todos, em tantos momentos da nossa vida! No entanto, quando temos alguém que nos diz o contrário, paramos e pensamos: "secalhar até é verdade...". E se continuarmos a ouvir o mesmo, várias vezes, em diversos momentos, começamos a acreditar que realmente talvez seja mesmo verdade! E parece que nos sentimos mais fortes, mais capazes, parece até que conseguimos fazer coisas que nunca pensámos vir a fazer!... É isso que penso que devemos fazer com os adultos que acompanhamos: estar atentos, reforçar positivamente, incentivar, ser constantes, perseverantes. Temos que ajudar a pessoa a reconstruir a sua imagem, aquela imagem que tem de si própria quando se vê ao espelho e que, regra geral, não é muito positiva. Para isso é preciso tempo, dirão alguns. Eu penso que o tempo pode ser o que fazemos com ele. Numa hora com um adulto podemos fazer tanto! Basta estar disponível e mostrar-lhe o que o espelho mostra de melhor... Outros dirão certamente que isto não é um processo terapêutico. É verdade, não é. Mas de que parte o Balanço de Competências, a metodologia de base dos processos de reconhecimento e validação de competências? Precisamente da promoção do autoconhecimento e da autovalorização das pessoas. Porque quando se transformam estas duas variáveis, tudo o resto se começa também a transformar.

Devia-se falar mais na importância da motivação na educação de adultos. Devia-se falar mais em balanço de competências. Devia-se ter tempo, dar tempo. Vivemos numa sociedade que se preocupa demasiado com os números, estão-se a esquecer as PESSOAS.

Publicado aqui.
Imagem: Freedom, Duy Huynh

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

E hoje, ainda será assim?...

"Não podemos negar que a escola não deu aos seus alunos todas as possibilidades que lhes devia dar, desprezou os mal-dotados, obrigou-os a actos ou tarefas que lhes depuseram na alma as primeiras sementes do despeito ou da revolta, lhes deu, pelo quase exclusivo cuidado que votou ao saber, deixando na sombra o que é o mais importante - formação do carácter e desenvolvimento da inteligência -, todas as condições para virem a ser o que são agora; se não saíram da escola com amor à escola, a culpa não é deles, mas da escola. Acresce ainda que, lançados na vida, a escola nunca mais procurou atraí-los, nunca mais foi ao encontro dos seus antigos alunos, para lhes aumentar a cultura, os informar e esclarecer sobre novas orientações de espírito, para lhes pedir a sua colaboração, o seu interesse na educação das gerações mais moças. Houve um corte de relações, quando a sua manutenção poderia ainda de algum modo apagar as más lembranças que os alunos levavam. Que admira que sintamos agora à nossa volta paixão e rancor? Tivemo-los nas nossas mãos e não fizemos por eles tudo quanto podíamos, mesmo com as possibilidades económicas e pedagógicas de que nos cercara o meio; em nós temos de reconhecer o principal defeito; por consequência, também em nós a principal causa do ataque."

Agostinho da Silva, in Glossas

sábado, 17 de outubro de 2009

Portefólio como instrumento de reflexão - vale a pena relembrar

“Grande parte dos discursos (...) apontam para que se dê importância à aprendizagem, e não apenas ao ensino, e para que se criem condições que permitam o desenvolvimento de competências durante a formação” (Bernardes & Miranda, 2003, p. 11). Uma vez que as competências se reportam à própria pessoa, bem como às suas habilidades, saberes tácitos e capacidade para desenvolver a inteligência no agir, coloca-se um problema: “como criar situações que acentuem a sua tónica na pessoa” (ibidem)?

O portefólio é um dos instrumentos que permite responder a esta questão, pois:
  • permite identificar a progressão e construção (com uma intenção específica) da pessoa;
  • estimula o pensamento reflexivo;
  • preocupa-se com todo o tipo de aprendizagens decorridas ao longo do percurso e não apenas com aquelas que se prendem com objectivos propostos;
  • procura evidenciar o percurso de aquisição de competências;
  • espelha reflexões a partir do estabelecimento de objectivos, desafios e estratégias;
  • testemunha a importância que o saber representa em diferentes fases do percurso de vida.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Para reflectir...

"A experiência, as experiências de vida de um indivíduo são formadoras na medida em que, a priori ou a posteriori, é possível explicitar o que foi aprendido (iniciar, integrar, subordinar), em termos de capacidade, de saber-fazer, de saber pensar e de saber situar-se. O ponto de referência dos adquiridos experienciais redimensiona o lugar e a importância dos percursos educativos certificados na formação do aprendente, ao valorizar um conjunto de actividades, de situações, de relações, de acontecimentos como contextos formadores. Assim, os tradicionais curriculum vitae, que pretendiam fornecer indicações úteis para a determinaão dos percursos, dos contextos e dos níveis de formação, revelaram-se de uma extrema pobreza.
O reconhecimento destas aquisições experienciais pela pessoa, em situação de balanço ou em formação, e pelas instituições ou organismos de formação, é, desde há alguns anos, um campo de práticas novas em que se jogam, simultaneamente, o valor das competências quando se está à procura de um emprego, a questão das equivalências que podem economizar tempo de formação, a determinação dos conhecimentos, das capacidades, das competências quando se procura indiviudalizar a formação, a explicação da bagagem intelectual e das representações quando se procura adaptar o ensino aos aprendentes.
Em formação de adultos, este reconhecimento das aquisições experienciais abre a porta a uma concepção renovada dos dispositivos de formação, das situações educativas e das modalidades de aprendizagem. A tarefa é, no entanto, considerável na medida em que, para efectuar este reconhecimento, as metodologias são ainda balbuciantes, não estandardizadas (se é que elas o podem vir a ser) e que os contextos, nos quais um acontecimento se pode efectuar, são extremamente heterogéneos."

Marie-Christine Josso, in "Experiências de Vida e Formação"

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Ler e escrever: um direito fundamental

Assinala-se hoje o Dia Mundial da Alfabetização, promovido pela UNESCO, que, aliás, contempla uma década (2003-2012) de investimento no combate ao analfabetismo, que está bem longe de ser conseguido. Estima-se que cerca de 700 milhões de adultos em todo o mundo mão saibam ler nem escrever, sendo que desses cerca de 500 milhões são mulheres.
Em Portugal, a taxa de analfabetismo ainda ronda os 9%, de acordo com os Censos de 2001, o que representa cerca de 1 milhão de pessoas. Para o presidente da Associação O Direito a Aprender, Rui Seguro, "estes números ainda estão muito longe do ideal. Nos países nórdicos é um escândalo quando se encontra uma pessoa analfabeta. Já em Portugal menospreza-se essa realidade. Estamos a falar de quase um milhão de pessoas", refere.

Num país que investe actualmente na formação de base da população adulta, a verdade é que muitas pessoas continuam sem ter acesso àquele que é um direito fundamental de qualquer ser humano: aprender a ler e a escrever. É verdade que esta taxa tão elevada se deve ao envelhecimento da população, mas quem trabalha com adultos, sobretudo em zonas do Interior, sabe que esta não é uma realidade exclusiva dos mais velhos. Não é uma raridade encontrar vários casos de adultos, na casa dos 40 anos, logo em idade activa, que são analfabetos. Não estou a traçar um quadro negro, é a verdade dos meios rurais e desfavorecidos, onde muitas vezes a sobrevivência e a necessidade se sobrepõem àquilo a que se considera como básico e fundamental para a maioria de nós: a Escola.

Como profissional da Educação de Adultos, mas sobretudo como cidadã, interrogo-me muitas vezes sobre a (des)igualdade no acesso à formação/educação. Como sabemos, os adultos que pretenderem frequentar um Curso de Alfabetização, não têm qualquer apoio para o fazerem. Falo, por exemplo, de subsídio de alimentação e de transporte, como acontece actualmente, para os restantes adultos, na formação financiada. Sabemos também que estes adultos têm imensas dificuldades de transporte, por razões várias e, por experiência própria, nem sempre se consegue apoio por parte de outras entidades (como os Municípios) na resolução deste problema. Um dos principais motivos é "serem poucas pessoas, num período de contenção de despesas". E eu pergunto: essas pessoas, mesmo sendo poucas (5, 10, 15, 20...), não têm direito a saber assinar o seu nome quando querem passar um cheque ou até fazer uma inscrição num Centro Novas Oportunidades?... Urge pensar, encontrar e implementar estratégias efectivas no combate ao analfabetismo no nosso país. Não basta criar os Cursos de Alfabetização, é preciso criar condições para que sejam frequentados. É preciso haver, verdadeira e urgentemente, uma igualdade de oportunidades no acesso à educação.

Deixo, para reflexão, alguns versos do maior poeta popular português, que mal sabia ler e escrever, mas que nos deixou aquela que era a sua maior riqueza: a sabedoria de vida... Os seus versos continuam tão actuais como se fossem escritos hoje.

Sei que há homens educados
Que tiveram muito estudo.
Mas esses não sabem tudo,
Também vivem enganados;
Depois dos dias contados
Morrem quando a morte vem.
Há muito quem se entretém
A ler um bom dicionário...
Mas tudo o que é necessário
Calculo que ninguém tem.

Ao primeiro homem sabido,
Quem foi que lhe deu lições
P'ra ter habilitações
E ser assim instruído?...
Quem não estiver convencido
Concorde com este aviso:
— Eu nunca desvalorizo
Aquel' que saber não tem,
Porque não nasceu ninguém
Com tudo quanto é preciso!


António Aleixo, in "Este Livro que vos Deixo, Vol. II"

Mafalda Branco
Profissional RVCC

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Teoria e Prática: Uma reflexão...

«Se, por um lado, qualquer teoria positiva deve ser necessariamente fundamentada em observações, é igualmente sensível, por outro, que, para se entregar à observação, o nosso espírito necessita de uma teoria qualquer. Se, ao contemplar os fenómenos, não os ligarmos imediatamente a alguns princípios, não apenas nos será impossível combinar essas observações isoladas e, consequentemente, delas tirar algum fruto, mas seríamos inteiramente incapazes de retê-las; e, na maioria das vezes, os factos permaneceriam despercebidos aos nossos olhos.»
Auguste Comte, in 'Curso de Filosofia Positiva'

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Em resposta a uma questão...

Li, recentemente aqui, uma questão que penso é comum (ainda e infelizmente) a muita gente. Foi por isso que pedi a dois profissionais de RVCC e a um adulto que fizessem uma reflexão para poder dar uma resposta à questão que é colocada. Obrigado à equipa do Centro Novas Oportunidades da Gafanha da Nazaré pela disponibilidade na resposta ao meu pedido.

A visão dos Profissionais de RVCC:

«O Processo RVC – Reconhecimento e Validação de Competências – consiste num modelo que, na sua génese, tem por fim criar uma justa equivalência entre aquilo que foram as aprendizagens formais, informais ou não formais e um determinado grau de escolaridade (Básico ou Secundário) de um indivíduo em idade adulta. Partindo do pressuposto que existe uma franja da população portuguesa que abandonou precocemente a escola, por motivos vários, e que foi adquirindo ao longo da vida competências, experiências (profissionais, pessoais e de cidadania) e conhecimentos que nunca viram reconhecidos, este processo constitui a forma de valorizar e validar tais aprendizagens.
Não se tratando de um curso ou de um processo escolar, tal como comummente o concebemos, o Processo RVC resulta da reflexão de cada adulto acerca das suas aprendizagens, orientada por uma equipa de técnicos e formadores, com vista à abordagem, em registo escrito, de um conjunto de critérios pré-definidos num Referencial de Competências-Chave, correspondente a cada nível (Básico ou Secundário). Como este processo tem um cariz individual, nem todos os candidatos a certificação têm perfil para uma equivalência ao nível pretendido, devendo ser orientados para outros percursos formativos complementares. Esta situação verifica-se sobretudo no Nível Secundário, onde os adultos em processo poderão ser encaminhados para outras ofertas formativas, obtendo em RVC uma certificação parcial.
Enquanto técnicos de RVC, consideramos que para os adultos, este processo é crucial, visto que resulta num aumento significativo da sua valorização pessoal e num re-investimento na formação, que anteriormente lhes estava vedada. Acresce ainda o facto de cada PRA (Portefólio Reflexivo de Aprendizagens) ser o testemunho de vivências singulares e conhecimentos empíricos – alguns perdidos no tempo – que por este meio se preservam.»

João Henriques e Helena Silva


A visão de um adulto certificado para o nível Secundário:

«Pediram-me para falar sobre minha experiência no processo RVCC, portanto aqui vai.
Devido à minha actividade profissional, sinto necessidade de me manter em permanente formação, pois o sector da manutenção e construção de máquinas apresenta constantes inovações, desde novos materiais até métodos de produção mais eficazes e novos processos de controlo, o que me obriga a uma actualização constante. No entanto, depois de todas estas formações e experiência adquirida faltava-me algo que atestasse os meus conhecimentos e me permitisse continuar. Por isso, assim que ouvi falar no processo RVCC não hesitei, procurei o centro cujo método de trabalho melhor se adaptasse à minha disponibilidade, inscrevi-me e assim iniciei o processo.
Durante o processo tive momentos de sucesso mas também alguns de desânimo, principalmente no princípio, quando me debati com a dificuldade de compreender o que era pedido no referencial. Mesmo quando o compreendia, sentia dificuldades em o adaptar às minhas experiências. No entanto, quando estas dificuldades surgiam, contava sempre com a ajuda dos técnicos que, com toda a paciência, me ajudavam a ultrapassá-las.
O processo não foi fácil, nem eu queria que o fosse, pois quanto mais difícil mais valorizado seria. Agora com o 12º ano é como se tivesse desaparecido um obstáculo do meu caminho, proporcionando-me um futuro com mais oportunidades. Uma destas oportunidades foi a de me inscrever num CET de Electricidade e Automação Industrial, que tanta falta me fazia. Neste CET, já percorri quase um terço do caminho e o que me falta de conhecimentos académicos sobra-me na experiência de vida, o que me permite, com muita dedicação, ir terminando os módulos com notas razoáveis.
Com a finalização deste CET consigo garantir a posição na empresa onde trabalho, pois ela está num processo de certificação e com isso surge a necessidade de cada sector ser liderado por uma pessoa com formação adequada e certificada.
Nunca é demais relembrar que para mim se não fosse o processo RVCC nada disto era possível.»

Lino Neves

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Será que a Experiência, chega?

«Sendo todos os princípios do nosso entendimento apenas aplicáveis a objectos da experiência possível, toma-se evidente que todo raciocínio racional, que se aplica às coisas situadas fora das condições da experiência, ao invés de alcançar a verdade, apenas deve necessariamente chegar a uma aparência e a uma ilusão.
Mas o que caracteriza tal ilusão é que ela é inevitável (…) a tal ponto que, mesmo quando já nos apercebemos da sua falsidade, nos não podemos libertar dela. (...) De facto, o campo da experiência nunca nos satisfaz. (...) A nossa razão, para se satisfazer, deve, pois, necessariamente, tentar ultrapassar os limites da experiência e, por consequência, persuadir-se infalivelmente de que por esse caminho alcançará a extensão e a integralidade dos seus conhecimentos, coisa que ela não pode encontrar no campo dos fenómenos. Mas esta persuasão é uma ilusão completa: estando totalmente para além dos limites da nossa experiência sensível todos os conceitos e princípios do entendimento, e não podendo então ser aplicados a qualquer objecto, a razão ilude-se a si mesma quando atribui um valor objectivo a máximas completamente subjectivas, que, na realidade, apenas admite para sua própria satisfação.
(...) Todos os nossos raciocínios que pretendem sair do campo da experiência são ilusórios e infundamentados. (...) Não só a ideia de um ser supremo, mas até os conceitos de realidade, de substância, de causalidade, os de necessidade na existência, perdem toda significação e não são mais do que vãos nomes de conceitos, sem qualquer conteúdo, quando ousamos sair com eles do domínio das coisas sensíveis. (...) Quando nos não limitamos já a aplicar a nossa razão a objectos da experiência e tentamos alargá-la para além dos limites dessa experiência, resultam daí proposições dialécticas que a experiência não pode nem contraditar nem confirmar e cada uma das quais não só é isenta por si mesma de contradição, mas também encontra na natureza da razão condições que a tornam necessária; infelizmente, a asserção contrária não assenta em razões menos boas e menos necessárias. (...) Tais asserções capciosas dão origem a uma arena dialéctica onde a vitória será do partido que mantenha a ofensiva e onde aquele que for levado à defensiva terá de sucumbir.

Emmanuel Kant, in 'Crítica da Razão Pura'

segunda-feira, 22 de junho de 2009

As três questões a pensar…

Quero destacar neste pequeno texto de reflexão, três questões que emergem da implementação, nos últimos anos, da certificação por via do processo de RVCC, ao nível da equivalência do Ensino Secundário. Falo dos efeitos “não previstos” desta certificação em várias co-relações estabelecidas pós processo.

a) Sendo o processo de RVCC assente na validação de competências adquiridas (?) ao longo da vida e estando as entidades do Ensino Superior (algumas já em parceria com entidades de outros sectores) a promover os Cursos de Especialização Tecnológica, não faz qualquer sentido que, um adulto que tenha completado o seu processo de RVCC de nível secundário e apresente o seu certificado para acesso a estes cursos, veja o mesmo ser equiparado à nota de valor 10, sem análise de portefólios ou outros mecanismos de seriação para o acesso. Há que repensar, entre entidades tutelares (ANQ, ME e MCTES) como fazer esta articulação para não criar desníveis injustificáveis.

b) A conclusão de um processo de RVCC de nível secundário permite uma diferenciação em função das competências detidas pelos adultos que pode ser um efectivo factor de valorização pessoal e profissional para os mesmos. Esta diferenciação passa pela creditação em função das competências evidenciadas. No entanto, essa mesma diferenciação não é visível nos certificados/diplomas pelo que, o seu efeito potenciador de reflexão e integração em contexto é perdido.

c) O trabalho feito pelas equipas, na orientação pós processo de certificação do nível secundário, para além do PDP, deve ser seguido de forma a promover uma orientação concreta no apoio aos adultos com vista à sua integração num contexto de formação superior ou profissional. Valorizar as vias abertas para a qualificação neste domínio é fundamental. Pode passar pela organização de “workshops”, “cursos de Verão”, “mostras de ofertas formativas” que complementem esse mesmo apoio.

Ficam três ideias para reflexão.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Educação de Adultos: Reflexão

«A educação deve ser vista como um processo total, que inicia na infância e vai até a fase adulta. O que diferencia a educação da criança e do adulto é sim o saber adquirido pela experiência acumulada trazida pela educação informal. As diferentes modalidades e tipos de educação derivam dos diferentes graus do desenvolvimento fisiológico e psicológico e especialmente depende das possibilidades sociais.
Um adulto não deve ser condenado à condição de iletrado e educar as crianças enquanto seus paiscontinuam analfabetos. A educação de adulto é condição necessária para o avanço do processo educacional, infantil e juvenil dentro da sociedade. Deve-se pensar a educação de adultos uma actividade integrante e não complementar, pois o dever da sociedade é educar na infância.
A questão educacional não pode proceder de forma abstrata, imprecisa, genérica, desvinculada do contexto histórico-social e existencial do educando. Ao pensarmos educação, devemos antes de qualquer coisa compreendê-la a partir da concepção de Homem que devemos formar. O conteúdo dessa educação deve emergir das condições materiais e existenciais das massas populares, e possuía uma visão positiva a respeito das massas populares, concebendo-as como construtoras do processo de desenvolvimento nacional. Existem lacunas ainda na educação pelo facto de que tradicionalmente os programas voltados à educação de adultos muitas vezes os tem tratado como crianças, utilizando materiais didáticos, metodologias e práticas que não condizem com as especificidades desta faixa etária. Nesse sentido, o acto de educar para o desenvolvimento não se reduz à transmissão de conteúdos particulares de conhecimento, nem tão pouco o ensino de determinadas matérias; é muito mais do que isto, pois se trata de preparar o educando para um novo modo de pensar e de sentir a existência em face das condições sociais com que se defronta; é dar-lhe a consciência de sua constante relação com comunidade, país e mundo, e que todo o seu saber deve contribuir para o empenho coletivo de transformação da realidade.»
Fonte: Aqui.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Para pensar.


Filme grego com legendas em Inglês.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

sábado, 30 de maio de 2009

A Arte de Ensinar

Fora, um pouco do espírito/temática deste blog (ou não) deixo uma reflexão.

"Nos últimos tempos a comunicação social divulgou um registo de uma conversa de uma professora com os seus alunos. Numa sala, uma voz em jeito de grito e uma ou duas frases ditas em tom autoritário e desajeitado (na forma, conteúdo e razão) deixavam uma ideia controversa sobre o que se havia passado. Falou-se de falar em Educação Sexual, de desrespeito, da ausência de moderação na linguagem e de muito mais coisas que qualquer pessoa diz sobre um discurso proferido daquela forma. Pior ainda a atitude programada de quem gravou a aula sem autorização recriando o pior, do que já nos esquecemos, de tempo de um estado mais "novo" do que este...
Não me compete, neste espaço, julgar o que se passou. Muito menos tecer qualquer comentário sobre o conteúdo, forma ou razão da dita conversa com os alunos. Mas quero deixar uma reflexão.
Falamos, nós professores, no respeito pela função que exercemos. Falamos muitas vezes na autoridade que falta. Reitero um pensamento que me acompanha quando entre e saio dos portões de uma escola ou de qualquer local onde o saber deve ocupar lugar. Eu sou professor em todos os momentos, mesmo quando não estou a dar uma aula, mesmo que aqueles não sejam os meus alunos, nem aquela a minha escola ou o meu local de trabalho. Quantos de nós, olhámos para os nossos professores, mestres, aqueles que nos ensinaram, como exemplos a seguir? E ao olhar, não olhávamos só para o momento em que nos estavam a ensinar entre quatro paredes. Olhávamos para cada instante e cada situação. Cada justiça ou injustiça. Julgávamos cada palavra ou atitude.
Ser professor é um exercício de cidadania activa. De ensino pelo exemplo nas atitudes, nos gestos e nos modos.
Não é por via de uma legislação, de um estatuto ou de uma regulamentação que se dá exemplos. É por via dos actos, diários, do contacto diário com os alunos, na forma como com eles comunicamos, na forma como transferimos o que somos e o que eles podem ser que conseguimos esse respeito que tanto desejamos. 
Para além deste ensino pelo exemplo, há que valorizar outro respeito tanto ou mais importante. Falo do respeito dos alunos e dos professores pela aprendizagem. Anos e anos a fio a balança andou por um lado ou pelo outro. Pendendo para o lado da autoridade sem fundamento do professor. Pendendo, como está agora, para o lado do aluno sem razão lógica. Resta recentrar a balança naquilo que foi esquecido: a aprendizagem. E com a procura de ganhar esse respeito pela aprendizagem, pelo conhecimento e pelo saber podemos ganhar, de novo, a escola como lugar de excelência para o futuro."
Do autor do blog, a publicar.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Valem mais as vidas que os livros...

«Defende Cleantes a opinião de que em nada nos interessam as ideias dos homens e que acima de tudo devemos pôr o seu carácter, a honestidade e a firmeza, a independência e a lisura do seu procedimento. Se de política tratamos, Cleantes, que, por definição, é honesto, sentir-se-á muito bem representado ou muito bem governado não por aquele que, incluindo nos seus programas de eleição ou nas suas declarações ideias que perfeitamente se harmonizam com as dele, depois aparece apenas como um membro de toda a raça infinita dos que sobem por fora, mas por aquele que, tendo-o porventua irritado com a sua maneira de pensar, em seguida vem habitar a ilha minúscula dos que sobem por dentro. Se de dois candidatos que se apresentam, um está no partido contrário ao nosso mas é um honesto, seguro cidadão, e o outro se proclama correligionário, mas nos deixa dúvidas sobre a integridade moral, diz Cleantes que ninguém deve hesitar: o nosso voto deve ir para o que dá garantias de uma fiscalização séria dos negócios e não deixará que se maltrate a Justiça. Sobretudo se formos moralistas, isto é, se acreditarmos que o mundo se salvará pela moral; e, como cumpre a moralistas, se quisermos que o mundo se salve pela moral.
O mesmo acontecerá, por exemplo, nos domínios da filosofia: rio-me do estoico que usa um manto despedaçado e uma grande barba mal cuidada e vai à nona hora espreitar as damas amáveis do Foro; rio-me do pregador que não tolera a riqueza e vive num palácio, que desdenha a política e mergulha nas intrigas de Nero, que louva a paz dos campos e prefere o tumulto de Roma. E, ao contrário, darei lugar, entre os bustos domésticos, àquele Epicuro que defendeu o prazer (se defendeu o prazer), que amou a vida e desprezou os deuses, mas tão santamente procedeu e tão nobremente morreu nos seus jardins de Atenas; poria a seu lado Lucrécio, o homem de que nada sei, que adivinho, porém, austero e puro. Porque uns contribuíram com palavras e os outros contribuiram com actos; certamente, quando vier a hora de se reconhecer na palavra nada mais do que uma ferramenta, uma das muitas que serviram a erguer o edifício humano (temo que a palavra humano seja estreita), hão-de valer mais as vidas do que os livros e ninguém nunca mais se lembrará dos que apenas tiverem deixado atrás de si as páginas que escreveram.»
Agostinho da Silva, in 'Textos e Ensaios Filosóficos'

terça-feira, 5 de maio de 2009

Uma questão para reflexão: Sim ou não?

Já deixei esta pergunta em jeito de reflexão noutros contextos. Retomo agora um ponto de discussão que espero que venha a ter lugar neste blog. Estamos ou não a cumprir este perfil de competências para os adultos certificados no nível Secundário?

Pode participar deixando um comentário com uma ideia, uma análise de caso ou simplesmente com uma reflexão sobre o assunto em questão.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A Iniciativa Novas Oportunidades: Reflexões com olhos no Futuro

Ao longo dos últimos anos tenho defendido a implementação do processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências como uma das maiores mais-valias que a Iniciativa Novas Oportunidades conseguiu trazer para a Educação e Formação de Adultos no panorama nacional nos últimos anos. Esta conquista de reconhecer nos adultos saberes adquiridos ao longo da vida foi uma conquista fundamental dos últimos anos sendo, desde já, um dos factores mais positivos deste movimento em torno da valorização das competências adquiridas pela aprendizagem pela experiência. No entanto, tenho que renovar um alerta. 
Muito se tem falado na qualidade (e já referi que não é factor favorito na minha discussão) do trabalho desenvolvido pelos Centros Novas Oportunidades. Vamos entrar numa fase onde este factor, a que associo o muito mais fundamental reconhecimento social do processo de RVCC, vai pesar em função do cumprimento de metas para um fim. É nesta altura que os alertas fazem mais sentido. Porque o reconhecimento social do processo de RVCC (ou de qualquer outra coisa em que se tenha transformado do processo que agora os adultos terminam nos Centros Novas Oportunidades) depende essencialmente, não de um número final, mas sim de uma valorização efectiva para a sua qualificação. E isso não pode ser esquecido pelas equipas e pela tutela. De nada vale ter um número imenso de pessoas certificadas quando poucas estão, de facto, num caminho ou roteiro de qualificação contínua.

Na minha perspectiva urge pensar e consolidar, nesta fase, algumas ideias:

a) Que se (re)desenhe a metodologia de RVCC em função da prática que os Centros Novas Oportunidades trabalham. Isto é, que e formule uma nova metodologia em função do trabalho prático, teorizando sobre o mesmo, e não procurando aferir o que resta do processo de RVCC no contexto de aplicação prática da Iniciativa Novas Oportunidades. Estamos perante a emergência de uma nova realidade e não na consequência da aplicação do processo de RVCC num contexto. 

b) Que se fundamente a validação das competências num efectivo balanço de competências sobre um contexto de História(s) de Vida e não sobre um relato autobiográfico simplesmente realizado por orientação e co-construção das equipas técnico-pedagógicas.

c) Que se refunde as práticas basilares da Educação e Formação de Adultos, nomeadamente que os percursos sejam ajustados às necessidades e anseios dos adultos e não em função de objectivos técnicos de um sistema.

Consideramos fundamental (re)pensar estes processos num contexto de efectiva qualificação para os adultos. É por isso que, cada um de nós, trabalha. Não para números. Não para metas. Mas para uma qualificação efectiva e uma mudança desejada na Aprendizagem ao Longo da Vida para cada um dos adultos que hoje, procura, um Centro Novas Oportunidades como via de conclusão de um percurso de qualificação…

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Se hoje fosse 24 de Abril de 1938...

«Para assinalar os dez anos de governo de Salazar, é editada, em 1938, uma série de sete cartazes intitulada “A Lição de Salazar”, distribuída por todas as escolas primárias do país. A escola é o palco privilegiado para a inculcação dos valores defendidos pelo Estado Novo. Os manuais escolares, livros únicos para o então Ensino Primário, criteriosamente seleccionados pelo Ministério da Educação Nacional e adoptados por longos anos, dão-nos imensos exemplos desses valores: a glorificação da obra do Estado Novo e do seu líder, Salazar; o papel subalterno da mulher, limitada à função de esposa e mãe; a caridade que, quantas vezes, substitui a função social do Estado; a catequese, incutindo os rudimentos da doutrina católica; a gloriosa história pátria que transforma Portugal na Nação mais bela do mundo e de que o Estado Novo é o mais legítimo herdeiro.» Fonte: aqui.


segunda-feira, 20 de abril de 2009

Onde está o Processo RVCC?

Uma das questões que tenho abordado com as várias equipas de Centros Novas Oportunidades que acompanho tem sido a questão do papel da metodologia de RVC que ainda se mantém, principalmente ao nível da qualificação para certificação do Nível Secundário.

Tenho registado que, com a criação de um conjunto de instrumentos de apoio (quer instrumentos de mediação, quer instrumento de apoio à formação complementar) e uma certa confusão entre a construção de uma abordagem autobiográfica e o registo da(s) História(s) de Vida, os princípios metodológicos do processo de Reconhecimento de Competências (RVC) estão a perder-se. Uma das principais peças em “esquecimento” é o Balanço de Competências. Cada vez mais consulto portefólios concebidos em função do Referencial de Competências-Chave e menos nas competências demonstradas pelos adultos sem ter como base de trabalho esse mesmo instrumento.

Tenho referido publicamente que é necessário e urgente fazer uma pausa para pensar. Pensar se a metodologia de RVC ainda faz sentido tal como se encontra definida nos seus princípios orientadores fundamentais ou se devemos, de facto, (re)criar uma nova metodologia com base num contexto nacional que faz associar a esta metodologia um conjunto novo de estratégias de apoio/formação aos adultos que integram hoje os Centros Novas Oportunidades. Fica levantada a questão que, considero neste momento, fundamental discutir.