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terça-feira, 30 de maio de 2017

Do seminário “Educação e Formação para a População Adulta”…



Sessão de abertura (Luís Filipe Menezes, David Justino e António Gomes Ferreira)

A adoção recente da “Agenda para as Novas Competências na Europa” coloca grandes desafios a Portugal, pois apesar dos progressos alcançados nas últimas décadas subsiste um expressivo défice estrutural de qualificações na população adulta portuguesa. Assim, e tendo por base a importância de promover um momento de reflexão coletiva em torno das necessidades de educação e formação das pessoas adultas – tanto para o aumento da sua escolarização, como para o desenvolvimento das suas qualificações profissionais -, a FPCEUC foi palco, no dia 29 de maio, do Seminário “Educação e Formação para a População Adulta”, organizado por esta Faculdade e pelo Conselho Nacional de Educação.


1.º PAINEL | Análise crítica da evolução das políticas e retrato atual

Ana Cláudia Valente abriu o 1.º painel e, assim, a “ordem de trabalhos” com a apresentação intitulada “Adultos e participação na Aprendizagem ao Longo da Vida: desafios para Portugal”. Salientou que a taxa de participação desagregada por níveis de qualificação é reveladora do significativo atraso do nosso país e que são os adultos mais escolarizados quem mais procura formação. Afirma existir, assim, um grande desafio estrutural colocado a Portugal (cujos valores estão completamente invertidos em relação àquela que tem sido a tendência da UE): romper com a “low skills trap”. Referiu, ainda, que é necessário ter em consideração a “procura” (sabendo que a idade e a escolaridade são as variáveis que mais contribuem para explicar a participação na ALV e que a escolaridade de ensino secundário aumenta em 83% a probabilidade de participar), mas também a “oferta” (considerando que os processos de RVCC, os Cursos EFA e as Formações Modulares Certificadas constituíram-se como as respostas de qualificação da população adulta). Aponta, face ao que tem sido a EFA nos últimos anos, três desafios: (1) reduzir a “quase inevitabilidade” da desigualdade na participação em ALV, não esquecendo as pessoas que apresentam mais baixas qualificações e contrariando o “peso” da idade; (2) apostar na educação e formação formal, mas sem desperdiçar o contributo e a complementaridade das aprendizagens não formais nem a necessidade de formação relevante, com sentido e qualificante, em períodos de desemprego; (3) promover orientação ao longo da vida através de: redes e parcerias locais, serviços de proximidade, plataformas de mobilização para a ALV, capitalização de percursos de formação e experiências anteriores e regresso de adultos com percursos de formação por completar.

De seguida, assistiu-se à intervenção de Paula Guimarães com um contributo alusivo às “Políticas públicas de educação de adultos e aprendizagem ao longo da vida em Portugal: circunstâncias e desafios”. O ano de 2000 marcou o surgimento de ofertas inovadoras, como os processos de RVCC e os Cursos EFA. Após 2005, a educação de adultos ganhou destaque na agenda política e o elevado financiamento concedido, sobretudo por via da UE, favoreceu um aumento significativo da participação dos adultos, levando a reconhecer o esforço no cumprimento do direito à educação para todos. No entanto, 2011 marcou uma forte viragem, que se traduziu na desvalorização política e social da educação de adultos, na expressiva diminuição do financiamento e das ofertas existentes e no reforço dos dois sistemas de educação e formação existentes (a escola/educação formal e os centros de formação profissional) marcados por práticas frequentemente escolarizadas. Emergiram, assim, novos desafios, entre os quais podem sublinhar-se dois: (1) o necessário relançamento político, institucional e profissional de um sector que se mantém pouco reconhecido socialmente; (2) a forte dependência do financiamento da UE (não havendo mudanças na situação atual, poderá agravar a tradicional tendência de descontinuidade e intermitência das políticas públicas) deveria dar lugar a uma maior intervenção do Estado Português. 


2.º PAINEL | Necessidades de educação e formação de pessoas adultas em idade ativa

Joaquim Ferreira abriu o 2.º Painel com a comunicação "Trajetórias pessoais de desemprego e reemprego: fatores pessoais e contextuais", salientando logo no início que o desemprego é também uma forma de exclusão. Neste sentido, referiu que a investigação sobre o desemprego aponta para as consequências adversas deste para as pessoas e para as comunidades, sendo o trabalho considerado por diversos autores como determinante para a saúde psicológica e para o bem-estar. Apontou, ainda, alguns desafios no âmbito das políticas públicas de formação e emprego e do aconselhamento de carreira, nomeadamente: (1) promover o acompanhamento/aconselhamento e orientação ao longo da vida; (2) construir comunidades de responsabilidade social (envolvendo as pessoas que estão mais na periferia, com menos qualificação e com menos recursos financeiros).
 
Posteriormente, João Caramelo organizou a sua comunicação a partir da “Agenda para as Novas Competências na Europa”.Reforçou, neste sentido, que é fundamental trabalhar sobre o que é a formação como um direito e que além de existir reconhecimento das aprendizagens ocorridas em contextos informais e não formais deve existir reconhecimento social desta prática. Acrescentou, ainda, que deve promover-se a territorialização dos processos formativos (sendo essencial uma lógica de proximidade), pois as necessidades formativas encontram-se relacionadas com as dinâmicas das próprias cidades e da diversidade de contextos. 


3.º PAINEL | A agenda política até 2020 e os desafios levantados a entidades e profissionais


Painel "A agenda política até 2020 e os desafios levantados a entidades e profissionais"
(Margarida Chagas Lopes, Luís Capucha e João Couvaneiro)

Na parte da tarde, João Couvaneiro começou por apresentar um diagnóstico geral: cerca de 55% dos adultos (entre 25 e 64 anos) não concluíram o ensino secundário; redução acentuada da rede de centros especializados em educação e formação a partir de 2012; recuo da participação de adultos em atividades de educação e formação; quebra (para números praticamente residuais) da atividade dos Centros. À semelhança dos contributos anteriores, também aqui foram registados alguns desafios, particularmente: (1) dar um novo impulso à Educação e Formação de Adultos para melhorar os níveis de qualificação da população portuguesa; (2) assumir a plena integração da educação e formação da população adulta no sistema educativo (a educação de adultos tem de ser convocada, pois ainda não está naturalizada no sistema educativo); (3) assegurar a estabilidade e a resiliência política; (4) melhorar as representações sociais associadas aos processos de educação e formação da população adulta; (5) garantir o financiamento e a sustentabilidade; (6) assegurar a agilidade dos processos de candidatura financeira e o pagamento atempado; (7) reforçar a qualidade dos processos de educação e formação da população adulta; (8) contrariar os baixos níveis de execução que os centros apresentaram nos últimos anos; (9) ampliar a oferta de educação e formação para a população adulta.

Margarida Chagas Lopes prosseguiu a “ordem de trabalhos” com uma comunicação intitulada “A Educação e Formação para a População Adulta: uma questão de responsabilidade social” através da qual realçou dois aspetos essenciais: por um lado, o de que a área da educação e formação de adultos constitui um palco onde se cruza uma variedade de interesses (formativos, sociais e políticos), onde se encontra e tenta concertar uma rede de instituições que intervêm a diversos níveis e em distintos planos; por outro lado, a educação e formação da população adulta assume-se hoje em dia como um dos principais desígnios sociais, visando a inclusão social (pois nesta fase de acentuada inovação tecnológica e económica, com crescente risco de desemprego por obsolescência de qualificações, a aprendizagem e formação permanentes e a educação e formação ao longo da vida constituem veículos fundamentais de inclusão no mercado de trabalho, sobretudo em situações de reinserção após desemprego prolongado). Sublinhou, ainda, que o risco de se ficar à margem da sociedade, da comunidade e até da família aumenta também substancialmente nos dias que correm e tanto mais quanto menor for o acesso à informação e ao conhecimento. Além disso, quem pouco estudou em criança e em jovem tem agora maior dificuldade em aprender e processar as novas formas pelas quais o conhecimento e a informação se expressam, circulam e, eventualmente partilham. Também aqui foram deixados três desafios: (1) fazer face aos nódulos de injustiça (sendo uma das mais significativas, na sua opinião, a de género); (2) promover a qualificação de gestores de pequenas e médias empresas que detêm baixas qualificações; (3) articular de forma consistente e sólida com as tutelas, de forma a não alimentar iniciativas avulsas. 


4.º PAINEL | Como motivar as pessoas adultas a investir nas suas qualificações?

“Como motivar as pessoas adultas a investir nas suas qualificações?” foi o mote da comunicação de Albertina Oliveira. As sociedades contemporâneas, caracterizadas pela aceleração exponencial das mudanças (a nível científico, tecnológico, económico, cultural, etc.) colocam-nos perante a necessidade de renovar e desenvolver constantemente os conhecimentos e competências, sendo forçoso elevar o nível educacional e formativo das pessoas. O direito de aprender crescentemente assume a forma de obrigatoriedade de aprender, sendo a nível profissional que esta última mais se faz sentir (embora os seus reflexos estejam presentes em todas as esferas do quotidiano). A disposição para aprender, porém, não é mobilizada da mesma forma em todos os adultos, nem as oportunidades de educação e formação chegam a beneficiar todos tanto quanto seria desejável. Sublinha que, de facto, é um dado recorrente que são os adultos mais jovens, os que apresentam um nível superior de educação e um nível socioeconómico mais elevado, que mais beneficiam das oportunidades educativas/formativas (como também foi possível constatar através das intervenções anteriores). Salientou, ainda, que existem três níveis integrados da motivação das pessoas adultas:
  • Nível 1 | Sucesso + Volição 
  • Nível 2 | Sucesso + Volição + Valor 
  • Nível 3 | Sucesso + Volição + Valor + Prazer 
Esta intervenção foi finalizada com algumas “inquietações”, entre as quais se destacam as seguintes: (1) trabalhar mais, mais depressa e de forma mais inteligente está a servir os interesses de quem?; (2) o planeamento da educação e formação e o modelo motivacional não podem dispensar a reflexão crítica e o compromisso com valores humanos fundamentais. 

António Fragoso encerrou o Painel com a comunicação intitulada “Investir na qualificação dos adultos: responder às perguntas ‘certas’?”. Para tal, organizou o seu discurso no sentido de responder a quatro questões nucleares: (1) quem queremos nós qualificar?; (2) que oferta formativa existe?; (3) quais os agentes educativos?; (4) quais as instituições educativas?. Em relação à primeira questão, referiu que é fundamental compreender quais as características centrais da população adulta portuguesa e se é possível, ou não, desenhar um perfil do “adulto não participante” na educação e na aprendizagem. A resposta é afirmativa, tratando-se, geralmente, de pessoas com mais de 45 anos, que auferem menos de 700€/mês, com escolaridade inferior ao 9.º ano, habitante em zonas de baixa densidade populacional (ou mesmo isoladas), com baixa qualificação profissional, não utilizador/a de computador ou Internet, desconhecedor/a de línguas estrangeiras e sem hábitos de leitura. Naturalmente é a este grupo populacional que devemos dirigir-nos quando queremos melhorar as qualificações dos adultos. Quanto à segunda questão, foi feita alusão à alfabetização, às ofertas de segunda oportunidade, às parcerias com as organizações da sociedade civil, à existência de conceitos e dispositivos de formação flexíveis e diversos (como, por exemplo, educação com alternância de períodos de formação com períodos de trabalho), validação de adquiridos experienciais e alternativas que cubram uma vasta gama de situações, propósitos e objetivos dos adultos. A terceira questão foi “respondida” com outra: onde estão os educadores de adultos, formados como tal? Neste sentido, foi discutida a pertinência de um curso (de licenciatura) específico para formar educadores de adultos. No que concerne à última questão, foi reforçado que instituições educativas são todas aquelas que respondem às necessidades locais. 

Por fim, David Justino, procedendo ao encerramento do Seminário, resumiu-o em três palavras-chave que estiveram presentes (direta ou indiretamente) em todas as comunicações: princípios, finalidades e desafios. De facto, ao alicerçar-se nos princípios que a legitimam, a Educação e Formação de Adultos deve gravitar em torno das suas finalidades, respondendo aos desafios que a sociedade (lhe) vai colocando.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Seminário “Educação e Formação para a População Adulta”





No âmbito das suas atividades, a Comissão Especializada Permanente do Conselho Nacional de Educação – Ensino e Formação Vocacional – definiu uma linha de trabalho em torno da Qualificação da população adulta.

Apesar dos progressos alcançados nas últimas décadas subsiste um expressivo défice estrutural de qualificações na população adulta portuguesa. Assim, importa refletir em torno das necessidades de educação e formação das pessoas adultas, seja para o aumento da sua escolarização, seja para o desenvolvimento das suas qualificações profissionais, assegurando a continuidade da aprendizagem ao longo da vida e a permanente melhoria da qualidade dos processos e resultados de aprendizagem.

A Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidadede Coimbra associa-se à organização do Seminário “Educação e Formação para a População Adulta”, cuja temática se enquadra na área de especialização em Educação Permanente e Formação de Adultos do Doutoramento em Ciências da Educação.

Este promete, assim, constituir-se como mais um espaço e um tempo de discussão e partilha sobre uma das áreas prioritárias de atuação sempre que tomamos consciência de que vivemos numa Sociedade e Economia do Conhecimento.

O programa provisório pode ser consultado aqui, sendo a inscrição obrigatória.