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terça-feira, 6 de novembro de 2018

Faz-me falta a liberdade ... Prends garde à toi!

Estou cansada
da ordem,
das regras homogeneizadas,
das veneráveis Portarias obsoletas
da hipocrisia dos discursos inovadores,
da mudança prometida em gotas de autonomia
do atraso crónico da inovação anunciada
da consternação perante a inoperância
da inoperância perante a consternação
da resistência de que se reveste o poder,
da verdade da mentira, sem que se minta de verdade,
das correntes legisladas que me impedem de avançar
dos sussurros que encorajam
das decisões que não chegam
dos buracos no terreno que piso
do tempo de espera que, de tão lento, desespera
das trincheiras que se vão construindo
da trova que passa e do vento que nada me diz
da omissão pesada
do sucesso fictício
da absurda importância da presença física, em eras de virtuosismo virtual assíncrono
da vetusta irrelevância de aprendizagens significativas, em prol de presenças percentuais
do silêncio que invade os meus ouvidos ávidos de som, de sim, de sem, de nada

Estou cansada
de querer soluções,
de criar pontes, bem sei, despudoradamente, e, aliás, quem sou eu para as querer criar?
de acreditar no homem inteligente
de olhar um pouco para além da ponta do meu nariz
de ver o que tantos não querem ver ou ler, nem ouvir, nem saber
de escrever letras aparentemente translúcidas em correios que não obtêm respostas
de ouvir palavras ocas de quem nada quer dizer
de esperar desesperadamente
de acreditar que o homem é inteligente (já o disse?)
de marcar passo no espaço lamacento da evolução e da promoção do sucesso

Faz-me falta a esperança
a ética e os valores,
a criatividade
a paixão
a confiança, ah! a confiança! 
o entusiasmo
a pertinência
a ousadia
a significância
a vontade de querer ir mais além e de o poder fazer...
Faz-me falta a fé!
Faz.me falta a liberdade...
[Lamúria para um Projeto EF@]

 - Dis-moi, Stromae, c'est comme ça qu'on sème?

"Prends garde à toi
Si tu t’aimes
Prends garde à moi
Si je m’aime

Garde à nous. Garde à eux. garde à vous
Et puis chacun pour soi
Et c’est comme ça qu’on s’aime s’aime s’aime s’aime
Comme ça consomme somme somme somme somme..."

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Aprendizagem ao Longo da Vida: aprender não tem idade

Implementados no âmbito do Programa Qualifica, os Centros Qualifica de Norte a Sul do país desejam dar resposta à procura por mais qualificação, com vista à obtenção de melhor qualidade de vida, de um melhor emprego, num paradigma socioeconómico cada vez mais exigente, nomeadamente quanto às literacias digitais, mas não exclusivamente. Os Centros Qualifica pretendem estimular o gosto por aprender, tornar a formação uma realidade acessível a qualquer pessoa, quaisquer que tenham sido as circunstâncias que levaram à interrupção da escolarização: mais que um desígnio nacional, a Aprendizagem ao Longo da Vida surge como um direito do cidadão do século XXI.

Numa notícia veiculada pela TSF online em 2003, descobrimos que o provérbio “Burro velho não aprende línguas” está ultrapassado. A notícia refere que os resultados de uma investigação conduzida pela Dra. Angela Friederici, neuropsicóloga e linguista alemã, diretora do Instituto Max Planck, foram publicados na revista americana «Proceedings of the National Academy of Sciences» (www.pnas.org) e garantem que os adultos podem aprender uma língua estrangeira com tanta fluência como o seu idioma materno “Our findings demonstrate that a small system of grammatical rules can be syntactically instantiated by the adult speaker in a way that strongly resembles native-speaker sentence processing
(ANGELA FRIEDERICI, 2001-Brain signatures of artificial language processing: Evidence challenging the critical period hypothesis).  
O estudo realizado pela Equipa do Instituto Max Planck de Ciências Cognitivas descobriu que as regiões do cérebro usadas para processar a língua materna eram ativadas durante a aprendizagem de um novo idioma. Angela Friederici refere que, para aprender um segundo idioma, a fluência na língua materna é um fator muito mais importante do que a idade. Por isto, o velho provérbio tem que ser arquivado por caducidade e adaptado a estas descobertas científicas: “Aprender não tem idade”.
Obviamente, não é apenas de línguas que se trata, nem de um simples capricho, como referem alguns que se deixam ficar acomodados à sua condição limitada. Trata-se de um direito associado à cidadania do século XXI.
Ao longo do tempo, os conceitos foram-se adaptando às características do meio ambiente, transformando-se de acordo com as vivências engramadas e as necessidades emergentes, visando, na adaptabilidade, manter alguma homeostasia social. Por outro lado, a ideia que construímos sobre o conceito vigente de literacia vai moldando, igualmente, as nossas ideias e as nossas atitudes perante o que entendemos ser o ensino ou a educação.
Hoje, quando falamos de info-excluídos, referimo-nos, na globalidade, àquela franja da população que não domina o conjunto de competências básicas de escrita e de leitura que nos fornecem os computadores: a utilização da tecnologia em ambientes educativos é, sem margem para dúvida, uma nova forma de literacia. No entanto, aprender no século XXI (EPALE) implica bem mais do que adquirir competências digitais. É preciso saber filtrar o conhecimento a partir da pesquisa por entre universos de desinformação, por entre meios massificados de comunicação e universos privados de publicidade consumista, em que somos e estamos constantemente envolvidos.
Nos nossos dias, quem não domina as competências digitais não conhece a informação globalizada, sendo facilmente ludibriado por propostas menos escrupulosas, nem é cidadão de pleno direito, com tudo o que abarca o conceito alargado de cidadão da Aldeia Global em que se tornou o mundo das redes sociais. Fazer parte de uma comunidade, mesmo que apenas por alguns instantes, aumenta o prazer de viver. Ora, existem miríades de universos culturais, ainda pouco cartografados, construídos a partir do que cada um de nós lê, ouve, vê, publica, segue, guarda, reencaminha, gosta ou não… num nível tão consistente quanto pode ser um universo cultural individual.
Num tempo de aprendizagens não-formais e informais, não importa tanto quem ensina ou o que ensina, mas sim o que cada um aprende. Como nos alertou Einstein, no mundo da educação, é sobretudo preciso criar condições para que a aprendizagem aconteça, despertando a motivação, o prazer de perceber a pertinência do que se aprende e adequando essas condições ao momento da vida em que se aprende. 

Aprender não tem idade: é uma necessidade.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

De regresso ao cais ... ou um barco chamado QUALIFICA


Na nossa escola há umas escadas onde se pode ler um poema, quando se sobe. As letras foram coladas uma a uma e estão recortadas cuidadosamente para caberem no espelho dos degraus, obrigando-nos a refletir nas imagens das palavras que o compõem.  
Curioso é que nunca parei para ler o poema todo de uma vez, mas a cada subida, ficava invariavelmente com um eco na memória, daquela primeira frase e do título.
Sísifo

Recomeça…Se puderes, Sem angústia e sem pressa.
O resto do poema ficando para trás, sentia, ao chegar ao topo das escadas que a intenção fora a de nos levar, vezes sem conta, a recomeçar a escalada, em busca de um qualquer caminho duro, no futuro. E chegava a sentir vaidade em viver numa escola com uma escada poética, parecia até que, por vezes, se animavam aquelas letras pretas recortadas quando alguém parava para ler melhor e mais um pouco...
E os passos que deres,

Nesse caminho duro

Do futuro,

Dá-os em liberdade.
Mil subidas sem ler, outras tantas descidas, ali, sob os nossos pés, a alegoria da vida a passar despercebida para quem não queira ver. Mas quando a alma silencia todos os ruídos do dia e os fantasmas da noite, brotam dos degraus da escada mágica, palavras recheadas da sapiência dos antigos... 
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo Ilusões sucessivas no pomar
E vendo Acordado, O logro da aventura.
Aqui estou eu, de novo, a empurrar o mármore montanha acima, a lançar o barco para longe do cais, a ajustar a vela ao vento, segura da nova aventura, sem logro, ladeada de marujos decididos a chegar a bom porto.

És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura Onde, com lucidez, te reconheças.    
Miguel Torga, Diário XIII
Não é só minha a loucura, pois somos mais que muitos, a querer com uma gota de água reconstituir o mar e com um grão de areia reerguer a praia,  grão a grão, gota a gota: assim é a nossa tarefa perante o desafio de relançar a Educação e Formação de Adultos e de combater o abandono escolar, promovendo a Aprendizagem ao Longo da Vida. 
Estou de volta!... e o meu barco chama-se Centro Qualifica de Cister.



Vídeo Promocional do Programa Qualifica from ANQEP on Vimeo.