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terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Aprendizagem ao Longo da Vida: aprender não tem idade

Implementados no âmbito do Programa Qualifica, os Centros Qualifica de Norte a Sul do país desejam dar resposta à procura por mais qualificação, com vista à obtenção de melhor qualidade de vida, de um melhor emprego, num paradigma socioeconómico cada vez mais exigente, nomeadamente quanto às literacias digitais, mas não exclusivamente. Os Centros Qualifica pretendem estimular o gosto por aprender, tornar a formação uma realidade acessível a qualquer pessoa, quaisquer que tenham sido as circunstâncias que levaram à interrupção da escolarização: mais que um desígnio nacional, a Aprendizagem ao Longo da Vida surge como um direito do cidadão do século XXI.

Numa notícia veiculada pela TSF online em 2003, descobrimos que o provérbio “Burro velho não aprende línguas” está ultrapassado. A notícia refere que os resultados de uma investigação conduzida pela Dra. Angela Friederici, neuropsicóloga e linguista alemã, diretora do Instituto Max Planck, foram publicados na revista americana «Proceedings of the National Academy of Sciences» (www.pnas.org) e garantem que os adultos podem aprender uma língua estrangeira com tanta fluência como o seu idioma materno “Our findings demonstrate that a small system of grammatical rules can be syntactically instantiated by the adult speaker in a way that strongly resembles native-speaker sentence processing
(ANGELA FRIEDERICI, 2001-Brain signatures of artificial language processing: Evidence challenging the critical period hypothesis).  
O estudo realizado pela Equipa do Instituto Max Planck de Ciências Cognitivas descobriu que as regiões do cérebro usadas para processar a língua materna eram ativadas durante a aprendizagem de um novo idioma. Angela Friederici refere que, para aprender um segundo idioma, a fluência na língua materna é um fator muito mais importante do que a idade. Por isto, o velho provérbio tem que ser arquivado por caducidade e adaptado a estas descobertas científicas: “Aprender não tem idade”.
Obviamente, não é apenas de línguas que se trata, nem de um simples capricho, como referem alguns que se deixam ficar acomodados à sua condição limitada. Trata-se de um direito associado à cidadania do século XXI.
Ao longo do tempo, os conceitos foram-se adaptando às características do meio ambiente, transformando-se de acordo com as vivências engramadas e as necessidades emergentes, visando, na adaptabilidade, manter alguma homeostasia social. Por outro lado, a ideia que construímos sobre o conceito vigente de literacia vai moldando, igualmente, as nossas ideias e as nossas atitudes perante o que entendemos ser o ensino ou a educação.
Hoje, quando falamos de info-excluídos, referimo-nos, na globalidade, àquela franja da população que não domina o conjunto de competências básicas de escrita e de leitura que nos fornecem os computadores: a utilização da tecnologia em ambientes educativos é, sem margem para dúvida, uma nova forma de literacia. No entanto, aprender no século XXI (EPALE) implica bem mais do que adquirir competências digitais. É preciso saber filtrar o conhecimento a partir da pesquisa por entre universos de desinformação, por entre meios massificados de comunicação e universos privados de publicidade consumista, em que somos e estamos constantemente envolvidos.
Nos nossos dias, quem não domina as competências digitais não conhece a informação globalizada, sendo facilmente ludibriado por propostas menos escrupulosas, nem é cidadão de pleno direito, com tudo o que abarca o conceito alargado de cidadão da Aldeia Global em que se tornou o mundo das redes sociais. Fazer parte de uma comunidade, mesmo que apenas por alguns instantes, aumenta o prazer de viver. Ora, existem miríades de universos culturais, ainda pouco cartografados, construídos a partir do que cada um de nós lê, ouve, vê, publica, segue, guarda, reencaminha, gosta ou não… num nível tão consistente quanto pode ser um universo cultural individual.
Num tempo de aprendizagens não-formais e informais, não importa tanto quem ensina ou o que ensina, mas sim o que cada um aprende. Como nos alertou Einstein, no mundo da educação, é sobretudo preciso criar condições para que a aprendizagem aconteça, despertando a motivação, o prazer de perceber a pertinência do que se aprende e adequando essas condições ao momento da vida em que se aprende. 

Aprender não tem idade: é uma necessidade.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A Ciência da Vida

“O artista traça os pormenores quase como se tacteasse, e cada linha que acrescenta, reforça o retrato, mas nunca o torna definitivo. Aceitamos isto como o método do artista. Porém, a física actual mostrou-nos que este é também o único método de conhecimento. Não existe conhecimento absoluto e aqueles que o reivindicam, quer sejam cientistas ou dogmáticos abrem as portas à tragédia.”Jacob Bronowski

E para aprender com prazer e sentir paixão de aprender é necessário (re)aprender a observar. Pode parecer banal, mas... quanto se absorve de um simples acto de observação, desde que nos levantamos até que nos deitamos (e multiplicado por todos os dias em que esses dois actos se somam)? E não observamos apenas com o olhar. Observamos com os 5 sentidos. Toca-se, experimenta-se, sente-se... articulam-se ideias e sensações e, assim, aprende-se!
No dia-a-dia devemos misturar, diria equitativamente, uma pitada da abordagem empiricista (para a qual a realidade existe e apenas se pode observar o que essa realidade reflecte em si) e uma pitada da abordagem intelectualista (que refere que a realidade em si não existe, pois o que existe é uma construção social e pessoal da mesma e, assim, o que observamos reflecte diferentes perspectivas, todas aceitáveis). Dissolvendo um pouco de ambas as vertentes, confeccionar-se-ia uma terceira conduta: neo-iluminista. Esta, resultando da “fusão” das anteriores... aceita a existência da realidade, mas também aceita os processos sensoriais (captação da realidade) e de interpretação (desses mesmos dados) de cada pessoa.
Meu pai mostrou-me de forma nítida a diferença que há entre o que sabemos e o que lhe chamamos (…). Estávamos a brincar no campo, um dos miúdos disse-me: «Vês aquele pássaro naquele trigal? Sabes como se chama?». Respondi-lhe: «Não faço a menor ideia». Obtive então como resposta: «É um tordo-de-papocastanho. Afinal, o teu pai não te ensina assim tanta ciência.» Sorri, porque o meu pai já me tinha esclarecido de que o nome de um pássaro não nos ensina grande coisa acerca dele. «Vês ali aquele pássaro?», dissera-me uma vez. É um tordo-de-papo-castanho, mas na Alemanha chama-se halzenplugel e na China é designado por chung ling; mesmo que saibas todos os nomes que lhe dão, continuas a saber muito pouco sobre ele. Enfim, saberás alguma coisa acerca das pessoas e do modo como designam o pássaro.» E continuou: «Ora, o tordo canta e ensina os filhos a voar. Voa muitos quilómetros durante o Verão e ninguém sabe como se orienta». E continuava assim por diante (…). O que é importante disto tudo é que o resultado das observações, mesmo que eu fosse incapaz de obter qualquer conclusão definitiva, é um verdadeiro tesouro, um resultado maravilhoso (…).
Richard Feynman
Conferência realizada em 1966 na 14ª Convenção Anual da National Science Teacher Association
(In Feynman, R. (1991). Uma tarde com o Sr. Feynman. Lisboa: Gradiva, 15-37)
No fundo... existem tantas interpretações como cabeças!


Portanto, “a ciência não ensina nada: é a experiência que nos ensina qualquer coisa (Feynman, 1966). Tactear o “mundo” que nos rodeia transmite-nos ensinamentos, lições, aprendizagens. Permite aumentar a amplitude dos conhecimentos e cultivá-los para que sejam efectivamente frutíferos. E a experiência ensina-nos se os sentidos estiverem programados para observar o dia e a noite, a luz e a escuridão, o cheiro e o sabor, os obstáculos e os desafios. E, assim, cada dia é uma página de um livro enriquecido e enriquecedor. A História de Vida de cada pessoa – o seu olhar, a sua observação, os seus sentidos e a sua reflexão.

domingo, 26 de setembro de 2010

Paixão de aprender

Salvador Dali: Pessoa na Janela

Charles Baudelaire in Les Fleurs du Mal

Um dia perguntaram-me de que é que eu mais gostava. Houve um silêncio dentro de mim. Gostava de muita coisa e, em simultâneo, parecia que não gostava de nada, verdadeiramente.
A liberdade, o mar, o abismo estonteante do devir eram traves mestras do meu ser, como o são para qualquer outro, não se distinguindo propriamente de forma suficientemente peculiar para que as pudesse identificar como caracteristicamente minhas.
Foi como quando perguntam a uma criança "E quando fores grande, o que queres ser?" E a criança fica com aquele ar embaraçado, porque não conhece a base de dados das coisas que se pode ser quando se é grande... Ou então quer ser tanta coisa que não consegue escolher. A pergunta parece-lhe apontar para uma resposta fechada, concreta, e logo previsível, mas, para a criança, a resposta pode estar muito para além do seu horizonte conceptual.
Aquilo de que se gosta mais é uma questão muito semelhante. No entanto, há pessoas que sabem muito bem responder a esta pergunta e, geralmente, são bem sucedidas. O José Mourinho, por exemplo, é óbvio que tem paixão por aquilo que faz. E é bem sucedido. Salvador Dali tinha uma paixão pela extravagância que, artisticamente, persiste na nossa memória. Mozart gostava tanto da música que ainda hoje nos enfeitiça com a sua Flauta Mágica... Coco Chanel encantou-se e encantou-nos criando e inovando no mundo da Moda, entre tantos outros…


Desafio-vos a descobrir, bem lá no fundo de que é que mais gostam. Se tivessem que abdicar de tudo na vida, o que restaria? Se pudessem escolher uma nova vida, se não tivessem compromissos, nem relações ou contratos, se pudessem fazer ou ser o que quisessem, só porque sim, o que seria? Sim, qual é, de facto, a vossa paixão ou talento? Lá, no fundo, de que é que mais gostam?

Confesso que não soube logo o que responder. E fiquei a pensar muito tempo no assunto e só quando parei de pensar, houve uma ideia que me saltou à memória, num movimento parecido com o de uma bola que é empurrada para o fundo do mar e, quando já nos esquecemos dela, subitamente regressa à superfície. Abriu-se como um bolinho da sorte e assim “lembrei-me” que aquilo de que mais gostava era de aprender. Não era só aprender, era aprender com prazer, era paixão de aprender.

Penso que tenho sorte. Parece-me, também, que nos falta descobrir como devolver esta paixão de aprender, tão frequente nas crianças, a quem nos aparece, em adulto, com motivações extrínsecas: ascensão na carreira, arranjar um emprego, a sociedade insiste, a família e os amigos dizem que é melhor… Trata-se de um desafio difícil, estimular motivações intrínsecas, mas é por uma causa nobre….Long Life Learning.
P.S (=“Post Scriptum”, por via das dúvidasJ): Parabéns à Agência Nacional para a Qualificação pelo rumo da nova Campanha Publicitária: "Juntos vamos qualificar Portugal"