Pelo caminho deparei-me com uma parede que fala.
Uma de várias: em Coimbra, são muitas as que verbalizam.
09h20min: a hora marcada. Local: Casa da Cultura. Este seria o espaço onde se realizaria o evento “Educação e Formação
de Adultos: reflexões, competências, atividades e perfis profissionais”,
promovido pela ANALCE.
Tinha tudo para ser uma manhã de debate. Mas não
foi (só). Foi uma manhã e prolongou-se para o início da tarde, perante a
resiliência dos estômagos vazios e, em alguns casos, de centenas de quilómetros
de distância de casa.
Embora o Doutor João Costa (Secretário de Estado da
Educação) não tenha podido comparecer, a quem o representou (Doutor João Couvaneiro) competiu
elucidar os presentes relativamente a aspetos mais práticos, respondendo a
algumas dúvidas. Foi clarificado, desde logo, que não há a possibilidade de
existir um Centro Qualifica por município, mas que se realizará um esforço para
que nenhuma zona do território fique a “descoberto”. Neste sentido, pretende-se
que a rede de Centros aumente para 300 no início de 2017, motivo pelo qual no
início do ano haverá nova fase de candidatura para mais 42 Centros.
Ciente de que a precariedade é uma forte ameaça à
situação dos profissionais e à estabilidade das equipas, transmitiu a imagem de
que este é um dos aspetos que muito tem merecido atenção.
O financiamento dos Centros sempre foi, é e será uma
das questões mais sensíveis; no entanto, à data ainda se encontram a decorrer
reuniões interministeriais no sentido de “fechar” este aspeto. As “novidades em
breve” deixarão, mais uma vez, muitas equipas numa corda bamba de ansiedade e
esperança…
A Doutora Ana Cláudia Valente (vogal do Conselho Diretivo
da ANQEP) abordou a questão do contexto de criação e de funcionamento dos CQEP
e clarificou, com referência à legislação, o papel dos profissionais afetos às
equipas, reforçando a ideia de que estas devem ser tão competentes,
multidisciplinares e profissionais quanto possível.
A experiência do Professor Doutor Alberto Melo
concede-lhe o inegável privilégio de falar da Educação e Formação de Adultos à
luz de um olhar ímpar e irrepetível sobre “os novos ou velhos desafios à
Educação de Adultos”. De facto, pelo exemplo que tem sido junto de diversas
missões (nacionais e internacionais) em áreas como o desenvolvimento local, a cidadania
ativa, a democracia participativa e a educação e formação de adultos… muito
teria a ensinar(-nos)! Começou, precisamente, por uma questão retórica: “como
falar de 42 anos em 15 ou 20 minutos?”. Soube, na realidade, a pouco.
Por fim, o Professor Doutor Luís Alcoforado incidiu
a sua intervenção sobre os “Centros Qualifica: perfis, competências e
atividades” referindo, entre outros aspetos de igual pertinência e valor, que
os profissionais em educação e formação de adultos devem dominar os princípios
epistemológicos da área; saber acompanhar a exploração do vivido, a reflexão
crítica, a construção de projetos e a experimentação de novos papéis; conhecer
a oferta formativa e os contextos; e ser capaz de criar sinergias.
Não terminou a intervenção sem relembrar que hoje
(10 de dezembro) comemora-se o Dia Internacional dos Direitos Humanos. E,
precisamente por isso, não poderia ser melhor a data para levar a efeito este
debate.
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Sim, porque a Educação (de Adultos, inclusive) é
também um direito, devendo ser pensada a partir dos espaços e dos projetos
pessoais e do Ser, do Estar e do Fazer em comunidade.
Mas hoje, para mim, enquanto profissional na área, foi
mais do que isto. E mais do que aquilo que cada intervenção nos levou a pensar
e a avaliar. Hoje voltei a sentir o espírito que existia nos momentos
formativos durante o período de vigência dos CNO.
Perante o ambiente intimista instalado naquela sala
da Casa da Cultura, por instantes senti rever a "família CNO" que se
juntava nos encontros nacionais e nos cursos de formação descentralizados.
Hoje voltei a sentir prazer em olhar para a sala à
procura de "rostos virtuais" com quem, tantas vezes, se constroem discussões que
alimentam o nosso pensamento e o fazem crescer. E senti, acima de tudo, que continua
a valer a pena acreditar na Educação e Formação de Adultos.
De facto, onde há comunicação, há desconstrução. E
onde há desconstrução, há potencial transformador e ecoformativo. E hoje houve comunicação.
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