No silêncio atroz destes dias de dezembro, o frio acutilante da ausência de palavras corta, lancinante, qualquer argumento, por mais caloroso que este queira ser.
Sedentos de luz, os organismos procuram, na resiliência dos dias, transpor os obstáculos pétreos e romper a crosta da rotina, em sequências de absurdas suposições, considerações e confusões. Vêem-se sorrisos de complacência resignada, ouvem-se palavras de esperança natalícia, mescladas do terror de não querer ver nem saber do abismo subliminar do desemprego.
A Matrix impede rasgos de clarividência, criando situações de "déjà-vu" e sobressaltos no hiperespaço, com seminários de endorfinas e esclarecimentos de nada.
É querer acabar com a noite sem o alvorecer, é querer fazer do inverno o espelho do verão, é pedir ao ditador que semeie a liberdade e que a deixe florescer.
Condenam-se várias gerações à escravatura da indolência em prol de uma organização que não as protege, não as defende, não lhes garante segurança nem conforto.
Trabalhem! Poupem! Paguem! Produzam! É esta a vida que os meus pais me desejaram? É esta a vida que eu quis para os meus filhos? É este o mundo em que acredito? É esta a lição que o meu planeta me deixa?
O Rapto de Europa - Guido Cagnacci |
Europa, toma cuidado que este touro não é Zeus! Estamos reféns de um deus menor que nos mata, encurralados nos corredores dos corretores e especuladores, condenados às sevícias de quem nos diz que é para o nosso bem e para o bem do país.
SIM. O SILÊNCIO MATA.
Mata a criatividade e o génio, mata o desenvolvimento e o progresso, mata o amor pelo que nos rodeia e por aquilo em que acreditamos.
Mata-nos,insidiosamente, impiedosamente, mata-nos sem pedir licença.
Mas enquanto fôlego houver, hei-de pegar na minha voz e cantar...
"Não importa sol ou sombra
camarotes ou barreiras
toureamos ombro a ombro
as feras.
Ninguém nos leva ao engano
toureamos mano a mano
só nos podem causar dano
esperas..."
Ary dos Santos
1 comentário:
Muito bem escrito! Reflecte o que sentimos! Tb trabalho em EFA (RVCC PRO) e este texto descreve exactamente os nosso tempos recentes! Resisteremos!
Enviar um comentário