O tempora O mores, diria Cícero, de novo, se agora vivesse...
Os tempos são de turbulência efervescente, as notícias nem sempre o são, os suspeitos ficam suspeitos, os culpados ficam impunes, mudam-se as vontades, albarda-se o burro à vontade de quem encomenda estudos e avaliações e, à volta da minha visão do mundo, parece girar um carrossel de incongruências...
Lembram-se de como era andar no carrossel e, num espaço de tempo que não ía para além de cinco minutos, transpor para ali a dimensão do universo? Só os cavalos de madeira e os coches eram percetíveis; os nossos pais e amigos, que nos acenavam do lado de fora daquele mundo, eram uma imagem fluida e desfocada, distante da nossa realidade inquestionável do momento. O que contava, ali, era a motivação suprema do instante que consistia em conseguir agarrar o engenho em forma de pingente de cortinado com que nos acenavam e que nos iria dar direito a mais uma voltinha de graça.
Uma ilusão feita à imagem da ilusão do mundo. O fascínio pela viagem no carrossel tinha uma dimensão hipnótica, provavelmente herdeira de um qualquer arquétipo de ciclos e da sua magia ancestral...
Quando cresci, descobri que, enquanto eu estava no carrossel, os adultos descansavam, porque eu estava controlada e confinada àquele espaço naquele tempo, a usar da minha ilusória liberdade de escolha e a desenvolver atividades preparadas para mim, por eles...
Tomei consciência do carrossel e dos seus cavalinhos de papel, mas nada disso me retirou a paixão pela viagem...
E agora?
Que carrossel é este em que nos encontramos?
Que pingentes são estes, agora, que nos distraem da percepção da realidade circundante?
Quem anda a escolher as cores dos cavalos e as sonoridades da música com que nos deixamos embalar?
E quem são os que, do lado de fora deste carrossel, nos observam, enquanto estamos ocupados com os pingentes que nos darão direito a mais alguma coisa, talvez, em setembro?
Não é preciso ter resposta para todas as perguntas, basta ter a consciência da sua existência.
Mas é preciso não perder a noção do prazer e da paixão, para prosseguir na viagem.
No mundo mágico da Educação e Formação de Adultos, descobri a dimensão inovadora e transformadora do reconhecimento e da confiança, referências fomentadoras da reconciliação com a aprendizagem ao Longo da Vida. Estabeleceram-se pontes entre formandos e formadores, formando-se redes de relações, impensáveis no século passado. Para quem ficou, mentalmente e ideologicamente, no século passado, a dimensão libertadora da confiança apresenta-se como uma ameaça: cresce a cidadania, o espírito crítico e um posicionamento mais responsável numa sociedade cada vez mais complexa e dinâmica.
Quem tem medo desta mudança paradigmática de consciência na população portuguesa?
Quem tem medo de cidadãos mais qualificados para a vida?
O modelo de reconhecimento de competências procurou permitir a conciliação entre as vertentes do desenvolvimento pessoal e profissional. Mais que um dever, a Educação e Formação de Adultos, deve ser entendida como um direito, consagrado na Constituição, nos artigos 73º e 74º.
Sem comentários:
Enviar um comentário