Há, nas Histórias de Vida dos candidatos em processo de RVCC uma representação social de uma época, de um país, de vivências e acima de tudo, de uma forma de ver a escola e a aprendizagem. Hoje, por ter ouvido um conjunto de experiências e relatos de vida significativos vou centrar a minha reflexão nas imagens e representações que me enriqueceram.
Uma das minhas reflexões em torno do acto de certificação associado ao processo de RVCC centrava-se (e centra-se) no “modelo” de candidato que o referencial de competências-chave, para o nível secundário, tem na sua essência. De facto, este documento, na sua génese teve e na sua aplicação tem, um modelo social e significativo do que socialmente pode ser representativo de um cidadão actual numa sociedade como a vemos na contemporaneidade. E sempre pensei que seria impossível um candidato atingir a certificação com as 88 competências. No entanto, e como sempre, a realidade tem forma de nos mostrar que o que julgamos impossível é, de facto, possível. Tive a honra de estar presente numa sessão de júri, no Centro Novas Oportunidades da Escola Secundária Fernando Namora, em Condeixa. A proposta de créditos que me foi enviada, junto com o Portefólio Reflexivo de Aprendizagens (PRA), relatório final e Plano de Desenvolvimento Pessoal transformaram-se numa evidência para mim que o trabalho desenvolvido pela equipa (da profissional às formadoras) era sério, consistente e rigoroso. O trabalho de análise do PRA, pedido de fundamentação de alguns crédito da minha parte para os formadores, assim como, uma troca de ideias com a profissional que acompanhou o adulto resultaram numa verificação efectiva do excelente trabalho feito. Mas, o trabalho do Avaliador Externo é sempre “a seco”, isto é, sem conhecer o adulto pessoalmente. Foi com essa expectativa que ia para esta sessão. Conhecer os adultos (4 adultos terminaram o processo nesse dia) e em particular o Sr. José Carlos Reis. Tenho, pela equipa do Centro Novas Oportunidades da Escola Secundária Fernando Namora uma consideração e imagem muito positiva. Como sempre, a sessão decorreu com o elevado profissionalismo e reconhecimento que é devido nestes momentos. Foi ao conhecer e assistir à apresentação do Sr. José Carlos Reis que vi que um adulto, pela sua experiência e aprendizagem de vida, pode, de facto, ser certificado nas 88 competências existentes no referencial de competências-chave. Mas quero destacar que, esse trabalho (do PRA à apresentação final) são fruto também, da qualidade e dedicação de uma equipa. Sem estes factores combinados tal não seria possível. Parabéns aos adultos certificados neste dia, em particular ao adulto referido e também à equipa que os acompanhou pela excelência do trabalho realizado.
Estive também presente numa sessão de júri no Centro Novas Oportunidades da Escola Nacional de Bombeiros. Cinco candidatos apresentaram as reflexões finais sobre o processo de RVCC, nível secundário e apoiados por uma equipa com experiência e capacidade de mobilização dos saberes com os adultos, terminaram o seu processo. Tenho a destacar que uma das apresentações finais foi feita no local de trabalho do adulto. Curiosamente tenho já visitado vários locais em vários contextos que pensei, nunca na minha vida, vir a conhecer. Esta foi uma experiencia muito interessante. A sessão de júri teve lugar numa locomotiva da CP, na ligação entre Coimbra e Serpins, mais propriamente na estação ferroviária de Serpins. A explicação da história de vida do adulto, assim como, a demonstração de algumas competências do contexto profissional resultaram num momento de aprendizagens para todos, assim como, numa reflexão e reconhecimento social do processo pela disseminação que este exemplo tem para outros futuros candidatos.
Estive ainda presente numa sessão de júri do Centro Novas Oportunidades da Escola Secundária da Anadia. Um grupo de candidatos da empresa Socertima terminaram o seu processo de RVCC de nível básico. A necessidade de obterem a equivalência ao 3.º Ciclo do Ensino Básico (9.º ano) para futura e obrigatória certificação profissional tem trazido muitos adultos ao processo de RVCC. É de destacar quando uma empresa tem essa consciência social e apoia os seus trabalhadores nesse processo. Mas quero destacar o relato e histórias de vida que foram partilhadas nessa sessão. Deste a participação em dezenas de concertos de música por um adulto, às histórias orgulhosas de um bombeiro voluntário, ao relato de uma época e da forma de viver superando obstáculos de um contexto de vida, a verdade é que a partilha dessas vivências, saberes e experiências resultaram numa sessão muito rica e muito interessante. Obrigado e parabéns a todos os adultos que terminaram neste dia uma etapa das suas vidas que, como os próprios o referiram, nunca pensaram poder vir a conseguir.
E por fim, estive presente para sessões de júri, no Centro Novas Oportunidades da Escola Secundária da Gafanha da Nazaré. Quero destacar aqui a história de duas candidatas. Duas irmãs. Na casa dos 30 anos. Duas mulheres de força, garra e determinação. Duas mulheres de olhar curioso e de vontade de viver inesquecível. Por via de uma vida com condições muito difíceis a escola foi posta de lado. Não por vontade, mas por necessidade. Naquele dia cumpriram uma etapa. Ouvir os relatos de uma história de vida dura e sofrida, com um sorriso no rosto e uma determinação de aprender mais, falando em formação e no desejo de continuar “os estudos” foi sem dúvida uma das mais importantes lições que foram deixadas neste dia. Tenho que destacar a capacidade que a equipa técnico-pedagógica tem de humanizar o trabalho realizado e apoiar os adultos no seu percurso. Parabéns a todos os adultos e à equipa pelo trabalho realizado.
Termino com uma reflexão que não é minha. Ouvi-a numa destas sessões. Dizia um adulto, o Sr. Horácio, que o deixar a escola foi motivado pela necessidade de ir trabalhar para ajudar os pais e que hoje via os “miúdos” deixarem a escola para ganharem para os gastos próprios. E deixo esta reflexão em com os sinceros parabéns a todos os adultos que terminaram nestas sessões o seu processo. Tenham orgulho em ter concluído esta etapa e que ela seja também o cumprir de um sonho.
1 comentário:
88 crédito?? os meus Parabens!
Quanto à opinião relativa ao referencial, tive o "prazer" de esta semana ter ouvido o Prof. Pedro Brogueira, autor do refencial de STC dizer que fez as fichas, o referencial...mas não sabe o que se passa no campo! Será este a forma correcta de implementar um projecto? a partir da secretária?
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