sexta-feira, 25 de abril de 2008

A Escola em Abril

«Meu pensamento
partiu no vento
podem prendê-lo
matá-lo não!»

Canta Adriano Correia de Oliveira

Um aluno com 14/15 anos pára diante de um cartaz com um fundo vermelho e umas letras a negro. «25 de Abril, Sempre!». Pára para ver se entende que turma terá desenhado aquele cartaz. Vê que é uma exposição. Sala 23. Passa, sem parar, para o pateio onde se fala do jogo de Futsal que irá ter lugar no pavilhão de ginástica lá mais para o fim do dia.

Quando passava pelo cartaz, do lado oposto, um grupo de professores colavam mais cartazes sobre o Dia da Liberdade. Entre fita cola, papel e algum jeito para nivelar o cartaz, falava-se de como era no tempo em que não se podia falar, naquela mesma escola, sobre a Liberdade.

Estes dois mundos não se cruzaram na escola. O aluno foi à exposição porque tinha que ir. Os professores queriam ver nos olhos dos alunos a força, o gosto, o anseio de saber mais que outrora tiveram.

Eu, com a distância que me permite estar só de passagem naquele corredor, penso comigo que a escola de hoje esqueceu Abril. Não o dia. A essência.

Dirá o leitor que hoje a escola é livre. Que hoje, na escola, já não se ensina o pensamento único. Que já não se transmite o culto e a imagem de um Estado que queria ser Novo. De um líder que queria ser eterno. Dir-me-á o leitor, que a escola de hoje é democrática. Que todos têm acesso à escola e nela podem entrar. Dir-me-á que hoje, as condições materiais são muito melhores. Que hoje, as sala de aula estão cheias de tecnologia e de democracia no acesso à leitura, ao conhecimento, ao saber, à aprendizagem.

È aqui, caro(a) leitor(a) que digo que a escola esqueceu Abril. É agora que elevo a minha palavra, como Adriano Correia de Oliveira, que cito, e falo do pensamento.

O aluno que passa pelo cartaz e não o entende. A visita à exposição que não o motiva, tudo parte, essencialmente, da falta da maior liberdade de todas. O Entendimento. Para entender o mundo é preciso saber. É preciso estudar. É preciso aprender. É preciso pensar.

A escola hoje esqueceu esse Abril. Aquele que queria o pensamento livre, rico, pleno, completo. Aquele que queria uma escola democrática mas onde o conhecimento fosse rei e senhor como cantava Ary dos Santos.

É preciso viver Abril na escola. Libertar aqueles que passam sem pensar, sem aprender, sem saber. Só sabendo, só ensinando, só dando conhecimentos a tantos alunos que hoje reconhecem a escola só como lugar de passagem se pode, efectivamente, cumprir a Escola de Abril, libertando o pensamento do carrasco da ignorância.

Publicado pelo autor no Jornal Trevim.


1 comentário:

Anónimo disse...

Este seu texto vai de encontro ao meu pensamento: houve a "revolução política do 25 de Abril", mas falta concretizar a "revolução das mentalidades" e aí a escola falhou, falhamos todos...

Georgina