Imagem: Excalibur by Arbebuk in deviantart.com
Hoje, no final de mais um dia de intenso trabalho - 12 horas - percebo que é imperioso deixar, neste espaço, um desabafo que ficará à minha inteira responsabilidade.
Lancei-me nesta aventura de corpo e alma e a alma foi ficando maior, à medida que na jovem equipa do Centro Novas Oportunidades (que tenho o privilégio de coordenar), inventávamos máquinas voadoras e viagens ao centro da terra para dar resposta ao que nos tínhamos proposto realizar. Tivemos o privilégio de trabalhar com fadas e duendes, aprendemos a realizar fórmulas mágicas, lançámos o traçado de muitas viagens iniciáticas e sentimos que, em nós todos, candidatos e equipa, acontecia um processo alquímico: havia, nesta demanda, a descoberta de um pedaço da nossa Pedra Filosofal. Entrar na floresta dos druidas implicou aceitar uma estranha e arrepiante neblina inicial, velo de práticas intuitivamente ocultas, mas caminhando seguros em direcção ao objectivo, avançámos sem medos, para receber, da mãos da Dama do Lago, a nossa Excalibur, em troca do compromisso de respeitarmos e defendermos princípios consagrados no Sagrada Floresta dos Carnutos. Jurámos e cumprimos. Ou julgávamos que cumpríamos. O nosso reflexo no Lago era frequentemente reforçado pelo reflexo de grandes espelhos estrategicamente espalhados pela floresta. Um reflexo brilhante que salientava aspectos reais, porque de espelhos mágicos falamos, porque a verdade cromática sobressaía no olhar de quem connosco se cruzava e havia partilha e a alma crescia... Não. Não estou a confundir com o ego. Estou mesmo a falar de Alma , filha de Anima e de Noüs, inefável divindade presente em cada ser vivo, recolhida sob uma casca protectora para lidar com as difíceis aparências vivenciadas em cavernas diárias de jogos de sombras...
Folclore, ilusões e utopias, mitos ou elucubrações, diriam alguns, todavia nômenos de uma verdade intangível e intemporal absoluta, no caldeirão de Merlim, transformavam-se, de facto, em fenómenos observáveis, vividos com a força da nossa percepção do Mundo, tal como ele nos aparece.
As pedras e pedregulhos foram repouso e suporte para alcançar uma visão maior: fizemos com que se transformassem em dólmenes e cromeleques, alinhados com constelações, numa rede global primitiva, antepassada de mágicas teias virtuais.
Na floresta dos Carnutos, ouve-se nitidamente a linguagem dos pássaros, apenas perceptível quando o sol está a despontar, como um manto de música a cobrir a suave textura de folhas e bolotas caídas de azinheiras, carvalhos e sobreiros, residEntes resistEntes ainda adormecidos, à espera que a sua voz também se faça ouvir.
Aprendemos ali a Sonhar de olhos abertos. Comíamos pérolas de maná, que nos chegavam, como combinado no Tratado da Távola, com regularidade suficiente para não sentirmos o temível jejum.
Mas naquele dia, algo mudou, o Entes murmuravam notícias aterradoras de algoritmos surgidos do Outro lado dos Espelhos, esferas de fogo anchimalgénicas perdidas em fractais meteóricos, em rota de colisão eminente com a floresta. Nem fraqueza nem oportunidade. Uma clara ameaça. As pérolas de maná. Ou melhor: o seu racionamento. Ou pior: a devolução de pérolas que nunca tínhamos chegado a receber. Quase um dízimo...
Em perfeito jejum, de olhos bem abertos, como Blimunda Sete-Luas, vimos entranhas e vísceras viscosas, por debaixo do velo epidérmico luminoso que cortinava as entradas da floresta, realidade anatómica insuportável até para a vista iniciada de Cavaleiros protectores do Graal...
Sim, é de dinheiros que estou a falar. O dinheiro é como a energia do sol: precisamos dela para que a floresta viva. Excalibur foi forjada a partir do metal nobre que nos alimenta a alma. O dinheiro é a seiva que nos alimenta o corpo.
Na floresta abriram-se poços sem fundos, desalinhados de Rosas e Ventos, com nove níveis de profundidade visíveis e outros tantos invisíveis. Surgiram lendas de druidas, inebriados em divinas comédias, que nunca mais foram vistos, depois de se debruçarem à beira de tais abismos.
Seria o fim da floresta, se nada fosse feito. Morte lenta ou imediata, a crónica já se anunciava, em concertos de insuportáveis vuvuzelas.
Mas se não morremos, podemos ficar mais fortes e, ainda, conhecer as fraquezas e ameaças para as quais descobrimos novas fórmulas de eficácia e varinhas de melhoria...
Algo está mal no reino do Rei Artur? Aqui não se consegue tapar o sol, nem sequer com as peneiras de quem distribui pérolas. Vamos então, com o olhar protegido por lentes abrunhosas, fazer "o que ainda não foi feito"...
Chegou a hora de Despertar os Mágicos, de aplicarmos à realidade a construção da Utopia sonhada. É preciso conhecer as vísceras para as manter de boa saúde. As pérolas de maná são necessárias porque sustentam a estrutura de bronze da nossa lâmpada aladínica, atómica e anatomicamente.
Não cremos que a cegueira nos sirva mas queremos ver melhor para melhor servir o sonho de contribuir para a construção de um Portugal Melhor.
Por favor, deixem-nos trabalhar...
Anabela dos Santos Luís
4 comentários:
Brutal desabafo, muito bem escrito!
Acho que é já um sentimento generalizado, a alma enfraquece aos poucos. Indagamos se seremos nós os eleitos. O Lago já não reflecte, devido aos dias nublados.
Parabens pelo texto.
Gostei muito.
Pois. Tiraram o tapete ANQ, que no meio disto tudo, era quem mais velava pela qualidade. Agora tiram o tapete financeiro. Não tarda...
Parabéns pelo texto, apesar de muitas referencias ao mundo do fantástico a realidade não é muito diferente...Partilho da mesma opinião nesta Avalon
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