A defesa da autenticidade do processo de RVCC passa pela integração de uma efectiva valorização da metodologia e exploração da História de Vida. Este é uma das bases fundamentais para um trabalho de qualidade, rigor e mudança/valorização das aprendizagens ao longo da vida por cada um dos adultos que frequenta o processo de RVCC.
Estive recentemente presente, por convite da coordenação, no Centro Novas Oportunidades da Escola Secundária de Cantanhede. Considero que é fundamental para um Avaliador Externo, antes de iniciar um trabalho de acompanhamento às sessões de júri, conhecer de perto o trabalho desenvolvido pelas equipas que acompanha. Um dos componentes resultante deste acompanhamento está relacionado com o grau de confiança no trabalho realizado. Encontrei uma equipa com um elevado grau de organização e profissionalismo e dedicada a realizar um trabalho de qualidade. Foi uma manhã de troca de ideias e reflexão conjunta sobre dúvidas conjuntas que me permitiu observar que o trabalho realizado valoriza o processo de RVCC no seu reconhecimento social, assim como, no desenvolvimento de uma consciência de aprendizagem ao longo da vida para os adultos.
Acompanhei também uma sessão de júri no Centro Novas Oportunidades da Escola Secundária da Anadia. Uma sessão de júri, como as que a equipa já tem demonstrado ser capaz de organizar, mas desta vez com uma apresentação muito interessante pela inovação. Três adultas fizeram uma apresentação conjunta. Pode parecer estranho mas a verdade é que não se conhecendo anteriormente fizeram parte do mesmo grupo e decidiram apresentar conjuntamente a sua reflexão final sobre o processo e sobre as competências evidenciadas. A curiosidade esteve no facto de, serem as três adultas de origens nacionais diferentes, de Angola, Venezuela e Portugal e terem, em conjunto, feito uma reflexão sobre as vivências e culturas/aculturação que atravessaram nas suas vidas. Esta originalidade resultou num trabalho final muito curioso.
Estive também presente numa sessão de júri no Centro Novas Oportunidades da Escola Secundária da Gafanha da Nazaré. Quero destacar o trabalho de preparação que a equipa desenvolve com os adultos para as sessões de júri. E quero deixar uma palavra de parabéns à Dra. Carina e Dra. Marília, assim como, aos formadores pelo trabalho de estruturação de um processo efectivo de evidência e reforço de competências realizado com e para os adultos. Há, de facto, no trabalho que é realizado por esta equipa uma dedicação e aproximação/reaproximação dos adultos à escola que é de louvar, uma vez que, a aprendizagem como instrumento de melhoria das condições sociais de vida resulta, em vários exemplos observados nesta sessão, numa real melhoria do autoconhecimento dos adultos sobre a sua História de Vida.
Por último, quero destacar um momento que guardarei como o mais enriquecedor que vivi no âmbito da implementação do processo de RVCC. Estive presente numa sessão de júri no Centro Novas Oportunidades da Escola Secundária de Maximinos, em Braga. Tratou-se de uma sessão de júri para certificação de nível secundário. Devido à distância não tinha ainda reunido com a equipa para esta sessão e apenas trocado vários contactos por via de correio electrónico. A minha expectativa era elevada. Digo mais, muito elevada. Pela leitura e análise dos Portefólios encontrei uma abordagem diferente do que se tornou, mais ou menos, normal encontrar. Eram portefólios centrados na História de Vida e desconstruindo as Histórias de Vida a partir dessa linha central. Eram portefólios onde o referencial era visto, não como um instrumento de trabalho, mas como um suporte para a validação. Foi com esta abordagem que a minha expectativa foi crescendo e a minha curiosidade sobre as apresentações dos adultos e interacção com a equipa se foi adensando. E o que fui encontrar? A melhor experiência que tive como Avaliador Externo até à data e o trabalho mais autêntico que registei. Um trabalho de excelência, de rigor, de brio e de uma humanidade profundamente transformadora. Encontrei a essência do que é e deve ser um processo de RVCC e do que é e deve ser uma sessão de júri. Encontrei uma organização simples mas profundamente completa e inovadora. Da exposição de fotografia realizada em parceria com o Museu da Imagem (exposição essa sobre a escola no Estado Novo), à organização da sala que permitia uma visualização de todos e por todos, estive perante uma organização plenamente conseguida. E sobre as apresentações? À Luci, ao José e ao Carlos, adultos que terminaram o processo de RVCC só posso deixar o meu sincero obrigado. Obrigado porque me transformaram. Obrigado porque aprendi. Obrigado pelas Histórias de Vida partilhadas e pelas palavras trocadas em jeito de conversa como se a vida fosse, como dizia o Carlos, um quadro. E parabéns. Sinceros parabéns pelo tanto que nos deram. Pela capacidade que tiveram de trabalhar com a equipa e deixar fluir todo um conjunto de saberes e competências que se tornaram evidentes sem a necessidade de as forçar com um qualquer instrumento artificial. Neste momento fiquei profundamente feliz por saber que, na escola, era agora possível validar competências que a vida lhes conferiu e ver isto feito com uma verdade e qualidade que pensei nunca encontrar. Tenho que fazer o paralelo com um documento partilhado nesta sessão onde o Ministério da Educação, no ano de 1989, enviou como resposta a um destes adultos o seguinte: «Queremos esclarecer que não é competência deste gabinete (ME) certificar formações estranhas ao Ministério da Educação, bem como, reconhecer a experiência profissional.» Esta resposta foi enviada a quem, este dia, terminou o seu processo com 88 créditos. Quão longe, felizmente, estamos desta realidade hoje e quão merecidamente, nesta sessão estes adultos terminaram o seu processo com uma certificação de nível secundário. E sobre a equipa? Só quero deixar uma palavra. Essa palavra é também de obrigado. Obrigado ao Carlos (Coordenador), ao Miguel e à Ana (Profissionais RVCC), à equipa de formadoras e ao Paulo (Antigo Director do CNO que me apresentou à equipa e com esta trabalhou), por me terem mostrado que com profissionalismo, dedicação e acreditando que é possível trabalhar o processo de RVCC na sua essência com verdadeira autenticidade e qualidade se pode, de facto, mudar e transformar cada um de nós e recolocar em cada adulto, a qualificação e a aprendizagem ao longo da vida como elemento fundamental para o futuro. E os meus parabéns. Sentidos e sinceros parabéns pela excelência do vosso trabalho tendo sido uma honra ter vivido esta experiência com esta equipa e com estes adultos. E novamente, obrigado por me terem mostrado que, aquilo em que acreditei sempre, é possível e na sua essência (e na prática) nos muda como seres humanos e como contínuos seres em evolução e aprendizagem.
Ficam, como sempre, os meus sinceros parabéns a todos os adultos que terminaram o seu processo nestas sessões. Que este seja um sonho concretizado, mas também, uma porta aberta para novos desafios e novas aprendizagens!
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