"(...) A avaliação de competências não é, pois, um processo em si mesmo distinto da avaliação em geral. A dificuldade que agora se torna mais visível resulta do facto de, na avaliação escolar, haver um conjunto de procedimentos sobretudo “classificativos” instalados na cultura, que deixam muito na sombra a efectiva avaliação com todo o trabalho de exigência, regulação permanente e articulação de procedimentos que ela exige. A visibilidade das competências no discurso curricular e no campo das políticas internacionais de educação e de trabalho não irá permitir, a médio prazo, que o modelo de funcionamento da escola se mantenha nas suas rotinas antiquíssimas e poderosas, que tendemos a olhar como “naturais”.(...) Avaliar competências vai obrigar a focar a avaliação naquilo que o nosso ensino conseguiu ou não. Como sempre se deveria ter feito... Não se avalia uma competência listando perguntas ou pedindo exercícios mais ou menos mecânicos que, supostamente, nos indicam se o aluno “sabe a matéria”. O esforço começa, como já referimos, na adequada clarificação dos objectivos em termos da(s) competência(s) pretendida(s), e no desenvolvimento do trabalho das aulas de modo a orientar nesse sentido. Não se abandona nenhum conteúdo, mas têm todos de ser sempre repensados face ao que pretendemos que se faça com eles e através deles. Assim, aquilo que constitui objecto de ensino e de avaliação num currículo orientado para competências, não se organiza em função de sequências temáticas, mas em função da competência pretendida. (...) Em que reside a especificidade? Não na especial dificuldade de conceber situações de avaliação deste tipo - o que até pode ser muito simples - mas em focar a actividade (quer de ensino, quer de avaliação) na construção de meios para verificação de como é que o aprendente “se mexe” face ao que se pretendia que ficasse apto a saber fazer, relacionar, usar, mobilizar… Isso implica pensar os porquês e para quês de cada actividade, ou de cada elemento de avaliação, em função da concretização da competência pretendida com exemplos da sua utilização eficaz. Implica perguntarmo-nos: O que é que ele/ela vai demonstrar ao fazer isto que estou a pedir? De que outras formas pode ser também demonstrada esta mesma competência nesta tarefa? E outras tarefas, que não sejam perguntas?(…) Não se trata, pois, de uma complexidade maior, mas de uma análise mais fina e permanente do que fazemos e para quê - Que pretendo eu que os meus alunos aprendam, de que quero que fiquem capazes, ao organizar este trabalho, esta tarefa? E como é que este instrumento ou tarefa de avaliação me pode mostrar que ficaram realmente capazes? (…) Implica, sim, romper com uma lógica de anos, que nos leva a conceber aulas como momentos organizados em função de “percorrer” um conteúdo (vulgo, dar uma matéria…) que daí a uns tempos se perguntará num exercício, teste ou a dita ficha de avaliação (será que avalia mesmo?…) para, em vez de “dar aulas” nos tornarmos “construtores de aulas”, enquanto tempos e espaços de pensar sobre, de compreender realidades, de transformar as informações em conhecimento consistente, de ampliar o conhecimento com que se começou, de realizar tarefas exigentes que, ao envolverem novos conteúdos, ensinem e “obriguem” a pensar, a compreender, a usar... "
Maria do Céu Roldão (2003)
Gestão do Currículo e Avaliação de Competências
As questões dos professores
Ed. Presença
1 comentário:
Enviar um comentário