terça-feira, 4 de novembro de 2008

Trabalhos? Desafios? As minhas dúvidas...

Nos últimos tempos tenho assistido atentamente à lógica com que muitos Centros Novas Oportunidades estão apoiar os adultos na construção dos seus Portefólios. Falo aqui essenciamente do nível Secundário. E vou deixar duas ou três linhas de reflexão em torno do processo como um todo.

Sou um observador do que, no espaço da internet se vai passando sobre as Novas Oportunidades e o processo RVCC em particular. Vejo diariamente surgirem espaços, mensagens em blogs, comentários em redes sociais e ajudas entre várias pessoas ligadas ao processo RVCC. Mas há uma coisa que me tem deixado preocupado. São as "dicas". Ou os "trabalhos". Ou os "desafios". Ou as "propostas de actividades". Tudo isto para um processo que se chama de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competência.

A minha primeira reflexão vai no sentido de questionar esta lógica de "propostas de trabalho" que passam por analisar um vídeo sobre um tema ou fazer isto ou aquilo como análise de factos, acontecimentos ou reflexões. Estamos a falar de Reconhecimento. Não estamos a falar de Formação. Não são os profissionais e formadores que devem "criar" essas competências. Que essa lógica possa ser adoptada num curso de Educação e Formação de Adultos é sem dúvida uma estratégia válida. Mas não o é para o RVCC. Muito menos para adultos/candidatos que estão a procurar ver reconhecido o que aprenderam ao longo da vida ao nível da equivalência de um nível Secundário.

O resultado são Portefólios onde abundam "trabalhos" sobre Reciclagem, Direito do Trabalho, Tecnologias e mais uns quantos temas iguais em todos os adultos/candidatos que, muitas vezes, não possuem essas competências e por esta via as equipas reconhecem uma coisa que não existia mas que se torna evidente por estratégia errada e que desvirtua a lógica interna de um processo que se baseia em conhecimentos, capacidades e aptidões adquiridas.

Dir-me-ão que as pressões das metas e mais uns quantos argumento se tornam válidos para implementar estratégias como esta. Não, não se tornam. Desvirtuam o próprio processo que na sua essência é válido. A ideia que ainda se mantém de que o adulto/candidato é senhor das decisões no seu percurso de qualificação ajuda ainda mais neste processo de confusão do que é uma metodologia com mérito. As equipas têm que tomar decisões. Não digo que não usem todas as estratégias para apoiar os adultos quando estes estão em processo. Passando pela formação complementar às UFCD's/Modulares (que já são enxertos no meio deste processo) todas as estratégias devem ser usadas. Mas há que afirmar abertamente que o processo RVCC não é para todos. Não faz sentido para todas as 500.000 pessoas que recorreram às Novas Oportunidades para regressar à escola.

Estamos numa fase de olhar para esta Iniciativa que tem o mérito fundamental de ter feito regressar a tantos candidatos o desejo de ver melhorada a sua qualificação e explicar que para se conseguir essa certificação há pressupostos a cumprir. A existência de um perfil de competências inicial é um deles. A experiência, o conhecimento e mérito são outros. E a experiência, o conhecimento e o mérito são também objectivos. Do candidato e do processo RVCC em si mesmo.

2 comentários:

Mafalda Branco disse...

Olá João! :)
Há já vários posts que tenho querido comentar, mas como sabe o tempo tem sido difícil de gerir! :)
No entanto, perante este alerta não posso deixar de dar a minha opinião. Não podia estar mais de acordo com o que diz, e ainda bem que alguém tem a coragem de pôr o dedo na ferida, como se costuma dizer. Não tenho dúvidas de que o processo RVCC, sobretudo o de nível secundário, está a ser escolarizado, transformado em algo que nada tem de reconhecimento ou de balanço de competências. As metas não são desculpa. É possível reconhecer, acompanhar a construção de portefólios com qualidade e cumprir metas? Talvez, se houver vontade, esforço, empenho e formação para isso. Mas é necessário, acima de tudo, saber o que, como e porque se faz. Com humildade, mas com segurança. É preciso que a Agência faça uma recolha de boas práticas e as divulgue e apoie, para que tenham outra credibilidade que não apenas o nome individual de um ou outro técnico. É preciso formar, ainda mais e sempre os elementos das equipas com uma base sólida de possibilidades de trabalho. Todos sabemos que as metodologias a utilizar são o balanço de competências e os PRA, mas o que é isso, como se operacionaliza? Como levar os adultos a reflectir sem dar formação? É a estas e a muitas outras questões que urge responder. Quem responderá?...

Anónimo disse...

Eu tenho, entretanto, uma outra ordem de dúvidas: estou num CNO desde há já três anos e agora como a questão da avaliação se está a pôr, gostaria de saber como é que os colegas nas escolas vão ser avaliados...sobretudo os que, como eu, estão a tempo inteiro no CNO (tenho imensas horas de RVC como formadora e ainda 3 mediações EFA NS).
Estará alguém na mesma posição que eu? A minha Coordenação sugeriu que fôssemos avaliados com as mesmas fichas, mas eu nem os objectivos individuais consigo formular porque nada daquilo se aplica à nossa situação...
Obrigada.