Nos últimos tempos estive presente em três sessões de RVCC de nível Secundário. Três CNO que iniciaram aqui uma caminhada para a certificação de tantos adultos cujo desafio de ver reconhecidas as suas competências teve aqui um dos primeiros passos para a sua qualificação. Aqui fica uma resenha desses júris e de outros...
O primeiro júri que quero destacar foi o que se realizou no CNO da Escola Secundária de Arganil. Os candidatos estavam expectantes, a equipa na expectativa e eu com o desejo de ver o trabalho realizado com a qualidade e humanismo a que me habituaram ser apresentado. Como sempre, nas últimas sessões em que estive presente, os júris foram acompanhados presencialmente por elementos de outros CNO (neste caso da escola de Ansião e Oliveira do Hospital). Tenho que destacar a qualidade dos portefólios apresentados, da organização do júri, da apresentação realizada pelos adultos e do trabalho de preparação que foi realizado por uma extraordinária equipa de pessoas que, acima de tudo, respeitam sempre os adultos que demonstram, naquele momento, as suas competências pela sua história de vida e encontram neste CNO um local de integração e de reconhecimento do seu valor.
Outro júri teve lugar no CNO da Escola Secundária de Pombal. Já aqui referi que considero que a utilização do modelo de ePortefólios tem as suas vantagens e tal foi, mais uma vez, demonstrado em sessão de júri. Mas como já tanto referi vou destacar aqui outra ideia. Tive, nesta sessão, dois adultos que haviam já concluído o processo de RVCC para a equivalência ao 9.º ano neste CNO. Estavam agora, passado um ano, de novo em júri. Esta realidade destaca dois factores importantissimos. Por um lado, que o acolhimento a estes adultos, por parte do CNO da Escola Secundária de Pombal os cativou. Por outro que reconhecem neste processo uma mais-valia para a sua vida pessoal e profissional e como tal o credibilizam. Este é o caminho. Acolher para dar a oportunidade de recomeçar.
E eis que chegou o dia do primeiro Júri de RVCC Secundário do CNO do Agrupamento de Escolas de Ansião. Este júri teve várias coisas que queria destacar. Para além de estarem presentes para assistir CNO como o da Escola Secundária de Pombal e de Condeixa, também a ANQ esteve presente pela representação da Dra. Cristina Milagre. Mas esta presença fez-se, pela primeira vez, por videoconferência. De uma forma simples, a apresentação da adulta, a Cidália, foi transmitida para a ANQ em tempo real e todos ouvimos as palavras finais da Dra. Cristina Milagre destacando o bom trabalho realizado. Da minha parte tenho a dizer que foi uma dos momentos mais gratificantes enquanto avaliador externo que tive. Principalmente pelo excelente trabalho de toda a equipa, que acompanhei, mas acima de tudo, pelo humanismo que encontrei num CNO onde o adulto é o centro de todo o processo e de todas as preocupações. Ao Dr. Pedro Catarino, à Dra. Mafalda Branco e a toda a equipa os meus sinceros e sentidos parabéns!
Outro júri, também que me marcou e recordarei por muitos anos foi aquele que tive o privilégio de acompanhar na fábrica da Bosch/Vulcano em Aveiro, sob intervenção do CNO da Escola Secundária de Sever do Vouga. Não foi o primeiro júri que fiz em contexto industrial mas este teve o requisito de ser realizado numa unidade fabril de grande dimensão e reconhecimento nacional, assim como, com um conjunto de adultos que, pelos anos de trabalho, assim como, pela competência técnica e pessoal se revelaram uma boa surpresa. Destaco a visita guiada que dois adultos fizeram às instalações da fábrica e com quem aprendi muito. Por tal, obrigado. Parabéns também à equipa do CNO da Escola Secundária de Sever do Vouga pela capacidade de intervenção, organização e multiplicidade de actuação que conseguem.
Estive também presente no primeiro Júri de RVCC Secundário do CNO da Secretaria Geral do Ministério da Educação. Não vou, deste júri, destacar nada mais do que apenas um exemplo de humanidade e vida que recordarei por muito tempo. Uma adulta que, pela sua história de vida venceu inúmeras situações. Naquele dia, mostrou a todos que é possível sempre, com o pouco tempo que temos, fazer mais. Dedicou-se a uma causa nobre de ajuda aos sem-abrigo, os quais ajudava ao fim de semana. Para tantos que usam o seu tempo sem pensar nos outros eis que surge ali uma exemplo para todos os que estiveram presentes naquele dia e que, pelo suave rosto e sentimento de dádiva que transparecia daquela adulta, tiveram um exemplo de que é possível fazer sempre um pouco mais. Parabéns a todos os adultos.
Depois, um dia imenso e pleno de vivências. Júri no CNO do NERGA, com um excelente trabalho realizado. Encontrei neste CNO um dos maiores desafios que tive em termos de metodologia. Foi uma desafio pela inovação e pela qualidade. Foi uma desafio que me levou a pensar na estratégia utilizada. Hoje consigo ver as vantagens deste modelo e o quanto a equipa trabalhou e trabalha para o implementar com a qualidade que o faz. Parabéns aos adultos e parabéns à equipa.
Depois, o primeiro júri do CNO da Escola Secundária Campos Melo. Em primeiro lugar reitero o que disse pessoalmente. Não gosto do conceito de reconhecer competências. Gosto do conceito de demonstrar. Há uma diferença. A diferença está no respeito que temos perante os adultos em processo. Foi isso que encontrei neste CNO. Os adultos tinham um pleno conhecimento das competências que demonstraram ao longo do processo de RVCC articulando estes com o referencial de competências-chave. Destaco também uma análise final que cada candidato fez ao tipo de competências que demonstrou. Este tipo de apresentação demonstra muito trabalho realizado por uma equipa com experiência e que apostou na qualidade. Parabéns.
Por último estive na entrega de diplomas dos candidatos certificados do Processo RVCC do CNO do Agrupamento de Escolas João Franco. Cerca de 350 pessoas estiveram presentes na escola para receberem o seu diploma. Esteve presente o Secretário de Estado da Educação e a Dra. Maria do Carmo Gomes, em representação da ANQ. Mas o que destaco são duas coisas. A equipa do CNO e o seu coordenador olhavam a sala como quem sabia que aquelas pessoas, a todas elas, o seu trabalho abriu novas portas, deu-lhes um novo futuro. E destaco o olhar brilhante e os comentários dos adultos que já conhecia das sessões de júri e que me segredavam que nem acreditavam que estavam ali depois de tantos anos a aprender com a escola da vida. Aquele era, foi e será o seu momento. Um momento para recomeçar. Parabéns a todos.
1 comentário:
Olá João!
Obrigada pelas palavras que nos dirigiu, sabe que as retribuímos!
Foi, sem dúvida, uma experiência inesquecível este 1.º Júri de Nível Secundário. Não só pelo Júri em si, mas por vários aspectos, que gostaria de destacar:
1.º Pela Cidália, com quem tive o privilégio de trabalhar e de aprender imenso ao longo do tempo em que a acompanhei e que foi um desafio a nível profissional e um exemplo a nível pessoal;
2.º Pela equipa com quem tenho o prazer e a honra de trabalhar diariamente e que me tem acompanhado em todos os momentos com o mesmo espírito: fazer cada vez melhor, no sentido da qualidade e do rigor, mas também (e sempre) do humanismo que é necessário e essencial no trabalho com adultos;
3.º Pela partilha com colegas de outros CNO, que estiveram presentes com o mesmo objectivo: aprendermos e crescermos uns com os outros naquela que é a nossa missão;
4.º Pela videoconferência com a Dr.ª Cristina Milagre, que foi, sem dúvida, um privilégio e um prazer, não só pela sua simpatia, mas sobretudo porque nos permitiu ter um feedback do trabalho que realizámos;
5.º Por uma etapa que cumprimos (apenas a primeira...). Muitas vezes, ao longo deste ano, pensámos: "como vamos fazer? não percebemos nada disto... será que vamos conseguir? como é que se operacionaliza o referencial? como o explicamos aos adultos?...", entre muitas outras coisas que penso que são comuns a todas as equipas envolvidas num projecto pioneiro. Por isso, certificar a primeira pessoa foi uma emoção, um momento extremamente gratificante e que nos veio trazer um maior ânimo e ainda mais esperança e motivação: "afinal até somos capazes"!
Por todos este motivos e ainda mais alguns, nunca esquecerei o dia 22 de Julho de 2008 nem as pessoas com quem tive o privilégio de o partilhar.
Por isso, obrigada a todos (Cidália, João, Pedro, Cláudia, Susana, Angélica, Elsa, Guida, Luísa, Margarida Sousa, Margarida Valente, colegas e amigas de Condeixa e Pombal) por tudo o que me proporcionaram!
Mafalda Branco
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