sexta-feira, 27 de junho de 2008

Desafio: Qualificar

Hoje deixo a última reflexão desta semana em que olhei para a Iniciativa Novas Oportunidades e elaborei algumas considerações, em jeito de desafio, sendo que, pelas reacções que me chegaram por e-mail, algumas foram do agrado de alguns, outras nem tanto. Mas assim é a liberdade de opinião e de expressão e a riqueza de confrontar a nossa visão com a de tantos para a melhoria de um projecto que todos reconhecemos como inovador.

A minha última questão/reflexão centra-se na palavra "Qualificar". Publicamente já tenho dito que este é o desafio em que estamos envolvidos e não sei até que ponto o estamos a ganhar.
Passo a explicar. Ouvia ontem, no encontro em Alcobaça, a Dra. Maria do Carmo Gomes ( e onde conheci o Paulo e a Isabel do CNO da Escola Maximinus de Braga), cujas ideias e visões partilho, lançar a provocação à audiência de retirar a palavra "certificação" do contexto de implementação das estratégias de RVC. Esta provocação não é mais do que aquilo que tenho como um dos maiores desafios da Iniciativa Novas Oportunidades na sua globalidade. Dos jovens aos adultos. O problema não se centra na certificação. Centra-se na qualificação. E esse é o maior dos desafios. De que vale aumentar a escolarização certificada da população se não se qualifica efectivamente essa mesma população para os desafios do futuro em termos profissionais e escolares?
Tenho defendido a ideia, e já o fiz quando publiquei neste espaço umas ideias para o Plano de Desenvolvimento Pessoal que a qualificação não é um momento. Um momento é a certificação. A qualificação é um processo de consciencialização da aprendizagem ao longo da vida e da formação/melhoria/desenvolvimento pessoal e profissional. E é esse desafio que os CNO podem estar a perder. Ou melhor, é esse desafio que Portugal pode estar a perder. Ouvi, também no encontro o que já referi várias vezes aos CNO com que colaboro. Um profissional ou melhor, uma equipa que não vá duas ou três vezes por dia tirar dúvidas ao Catálogo Nacional de Qualificações sobre o melhor e o correcto percurso de qualificação e competências para um adulto em processo RVC não está no bom caminho. A qualificação exige um processo de informação, adequação e desafio constante de informação, orientação e competência. É neste espírito e neste principio que os CNO devem trabalhar. Não para o da certificação. Se o estão ou estiveram a fazer lançaram para mercado social e profissional um conjunto de adultos que ao terem uma segunda oportunidade de regressar à escola levaram desta, ao sair, uma resposta incompleta.

Fica então a minha provocação: Porque não olham os CNO para o trabalho realizado e questionam o seguinte: Estamos a certificar ou qualificar? A resposta, neste caso, é a essência da qualidade atingida.

5 comentários:

APMA disse...

Sem dúvida nenhuma que a obtenção de uma certificação escolar que permita aos adultos aumentar as suas habilitações é importante... Mas, no mercado de trabalho, actualmente, isto já não serve... Considero importante ajudar os adultos a definir um projecto de formação que lhes dê uma certificação profissional. Só assim eles sonseguirão dar resposta às exigências actuais... O processo de RVCC deve assim, ser um meio e não um fim!
Aida

AS disse...

Boa tarde Dr. João Lima

Concordo plenamente com as suas palavras, mas julgo que a mensagem que têm passado até agora, é a da certificação e não a da qualificação. As metas definidas são um bom exemplo!...
Parabéns pela partilha que tem proporcionado.

Alice Santos

Anónimo disse...

Como prometido, a minha opinião.

Relativamente à "questão final": certificar.

Quanto à "provocação": como se poderá responder a objectivos que se coadunam com os pressupostos e princípios da qualificação quando há uma "imposição" superior que remete para "números" e "metas"?? E que se estes não forem cumpridos, há riscos??...

Qualificar exige um trabalho cuidado, ponderado, atento e contínuo. Requer esforço. Construção. Parceria. Remete para a qualidade.

Considero que certificar remete mais para a quantidade. Para os números. Para os riscos.

Para qualificar, e não apenas certificar, a fasquia das metas talvez devesse ser (re)pensada e (re)equacionada.

Mas o que se quererá afinal? Mostrar a uma Sociedade do Conhecimento um Portugal transformado em números, uma população mais escolarizada e, supostamente, melhor preparada para fazer face aos objectivos da competição e da globalização??

Ou menos números, mas mais preparados, mais flexíveis, com maior capacidade de (re)ajustamento e (re)adaptação??

Cada vez mais se exige mais. Em qualquer contexto. Em qualquer realidade. Em qualquer espaço. Momento. E tempo.

O papel a comprovar que a pessoa está "certificada" cada vez menos se enquadra na filosofia e realidade que vivemos.

O factor tempo encontra-se em todos os lados. Para certificar é preciso tempo. Para qualificar é necessário ainda mais tempo.

Para fazer um trabalho de maior qualidade que responda às necessidades da qualificação, cada vez mais prementes e presentes, talvez fosse pertinente repensar o papel dos números e aquilo que Portugal quer, efectivamente, para o seu futuro.

Continuamos aquém, por exemplo, do perfil dos países nórdicos, modelos exemplares de implementação de medidas práticas e metodologias. O que se faz e implementa hoje no nosso país já existe há décadas nos outros.

E creio que continuaremos sempre aquém enquanto não houver uma redefinição clara do que se pretende.

Isabel Moio

Anónimo disse...

Voltei aqui para partilhar uma frase que li hoje:

"Vivemos num contexto marcado por uma rápida alteração económica e tecnológica em que as pessoas têm de actualizar continuamente as suas competências e qualificações, não apenas para o emprego mas, também, para consolidar a sua cidadania e concretizarem integralmente o seu potencial, a nível pessoal" (Correia & Mesquita, 2006)

"Qualificar" é, cada vez mais, o lema e a palavra de ordem dos nossos dias!

Isabel Moio

Anónimo disse...

Completamente de acordo com a Isabel Moio. Qualificação é o que se exige de cada ser humano. Em primeiro lugar a nivel pesoal e,só depois, a nível profissional. Uma boa pessoa mas não tão bom "trabalhador", com certeza se tornará um bom profissional. O contrário...será mais difícil.
Parece (e corrijam-me se me engano)que este país se preocupa muito mais com numeros de "doutorados e letrados" do que com a qualidade dos mesmos. Que haja oportunidade (já que não se pode exigir obrigatoriedade) de se estudar mais, mas que não haja tanto facilitismo ( anda esta palavra actualmente de boca em boca...) só para tentar enganar.

Chicoliva