Estranhou o Presidente da República, que os jovens, entre os 15 e os 19 anos, não soubessem quantos países formam a União Europeia, quem tinha sido o primeiro Presidente da República eleito após o 25 de Abril e que o PS tinha maioria absoluta no Parlamento. Estranhou o Presidente da República. Não estranharia qualquer professor de qualquer escola no país. Este facto de o mais alto representante da nação olhar para os jovens e os ver alheados da política e estranhar é que, por si, é estranho. Mais estranho é este facto ser tido como preocupante. A esquerda lembrou ao Presidente da República que também ele era político. A direita falou na importância da História nacional como valor supremo da cidadania. O Primeiro-Ministro concordou a estranheza do Presidente e falou em mudar o rumo às coisas…
A mim, caro leitor, o que me estranha é tanta gente estranhar tanto essa estranha ignorância que grassa nos jovens. Basta, simplesmente, uma pergunta. Sobre o que quer que seja. Política, História, Português, Matemática… Para isso não é preciso um estudo a nível nacional. Basta perguntar a um, dois, três jovens e a resposta será clara. Não digo, obviamente, que todos são assim. A maioria, no entanto, é. Culpa? De todos. De todos nós. Dos pais, dos professores, dos políticos, de todo e qualquer cidadão que quando passa na rua e vê um jovem deitar um papel para ou chão ou gritar em vez de falar não pára e não ensina que não é assim que deve ser… Mas não é da culpa que quero falar. É do que me assusta.
Para o Presidente da República o estranho são factos de memória que qualquer um de nós pode não saber no calor da resposta a um questionário, embora saibamos que não é disso que se trata. A mim, modesto cidadão desta Republica Portuguesa, assusta-me o desconhecimento do funcionamento da Democracia. Serão estes jovens futuros cidadãos em pleno uso dos seus direitos? Saberão eles quais os seus direitos? Não será tão fácil retirar liberdades, garantias, cidadania a estes jovens que desconhecem esse bem maior que é serem livres por direito? Não é assustador que, não sabendo o funcionamento, princípios, direitos e deveres de viver em Democracia estes jovens não saibam também onde começa e acaba a sua liberdade? E ainda mais assustador: terão consciência se um dia lhes roubarem a liberdade?
Sem querer dar lições a ninguém, muito mesmo a altos representantes da nação, não é altura para estranhar. É altura para temer o futuro se a este não dermos um rumo concreto, claro e assente no que os jovens hoje esperam da política e do que a escola pode ser enquanto instrumento de iluminação nesse caminho."
Artigo do autor publicado no Jornal Trevim.
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