Assisti recentemente a uma cena que ilustra esta pequena revolução. Um aluno do 10.º ano dava um beijo à mãe enquanto se cruzava com esta. Ele a sair, ela a entrar. Curiosa foi a expressão que este jovem disse ao terminar o seu discurso. “Boas aulas, mãe!”.
Este caso serve apenas para ilustrar uma mudança. Silenciosa, oculta, pouco significativa (dirão alguns), discreta (dirão outros). Eu diria, substancial. Mudam-se os hábitos, as regras, a forma como olhamos para a escola e para quem nesta se encontra. Hoje, o desafio de todos os Centros Novas Oportunidades é este. O de serem centros de uma mudança efectiva na relação do indivíduo com a aprendizagem. Seja ela inicial, seja ela ao longo da vida.
Mudam-se os paradigmas de uma cultura rural, muito mais do que nos meios urbanos. Sinceramente, quem conhece escolas de Lisboa ou Porto, sabe que o hábito de acolher aqueles que “estudavam à noite” é já uma prática enraizada.
Mas a mudança ocorrer longe da vista pela dificuldade que os lugares mais remotos têm em mostrar essa mesma mudança.
Dizia-me outro dia, uma candidata à equivalência ao 9.º ano, que a mudança ocorre, na vila onde esta habitava, em coisas tão simples como no ganho para o lugar da mulher nesse contexto social. Agora, dizia, o meu marido vai menos vezes ao café. Ela tinha que “fazer os trabalhos para o RVCC” e o marido olhava pelos miúdos. Dirão alguns que esta mudança é pequena. Maior é aquela que leva pais e filhos a sentarem-se à mesma mesa, ao fim de um dia de trabalho e de escola, a ajudarem-se mutuamente na realização de actividades que a escola agora pede a ambos.
Esta última visão, talvez um pouco romântica do estudo e da aprendizagem, não esconde essas pequenas mudanças que os Centros Novas Oportunidades conseguem produzir na vida das pessoas. As equipas compostas por técnicos (agora finalmente com a possibilidade de contratação), formadores e coordenadores podem, efectivamente, ajudar a essa mudança. O seu trabalho, na grande maioria de elevada qualidade, é determinante para que, os candidatos reconheçam a importância da aprendizagem ao longo da vida e usem essa importância como exemplo para os seus filhos e para a sua comunidade.
A Iniciativa Novas Oportunidades e o processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências pode e deve ter melhorias na sua organização, estrutura e forma. No entanto, sem dúvida, que neste momento, é já um promotor de mudança. Uma mudança silenciosa mas determinante para que se valorize a aprendizagem, o acto de aprender, seja ele como for, onde for e quando for. Importante é aprender e regressar à escola para mostrar que o valor do Saber está na forma como cada um, individualmente, consegue superar as suas próprias barreiras e mudar. A si e aos outros. Para melhor.
Publicado pelo autor do blog no Jornal Trevim.
5 comentários:
Penso que o processo RVCC, bem como as outras ofertas educativas/ formativas, estão a contribuir para uma "reconciliação" doa adultos com a "escola", e digo escola não propriamente no sentido de escola pública ou espaço físico, mas no sentido da aprendizagem. Ouvir adultos dizerem que querem estudar, fazer mais formação, saber que se estão a inscrever por iniciativa própria em escolas de línguas, dá-nos motivação para acreditar que está efectivamente a acontecer uma mudança, não só a nível social, claramente importante e necessária, mas sobretudo individual, pessoal, e esta para mim é a mais importante.
Há pessoas que estão a mudar as suas vidas graças a estes processos, é isto que marca e vai ficar, mais do que os números. Números são pessoas, nunca nos deveríamos esquecer disso...
Ainda há dias uma adulta (muito jovem aliás) me dizia que depois de concluir o processo de nível básico se sentia mais preparada para ajudar e apoiar o filho na escola e que até estava a ficar "viciada" em ler os livros escolares. Não foi por ter aprendido em termos escolares com o processo, mas porque aprendeu coisas importantíssimas sobre si própria: que é capaz, que tem valor, que sabe mais do que alguma vez pensou ou lhe disseram e porque ganhou curiosidade, vomtade em descobrir coisas novas e aprender mais.
Pode ser mais uma visão "romântica" do processo, mas é aquela em que acredito e que me faz ir trabalhar todos os dias com alegria e orgulho para o "meu" CNO.
Hoje não desejo bom trabalho, mas bom descanso, porque é fim-de-semana! Também merecemos! :)
Mafalda Branco
Para mim o RVCC é como um puzzle, onde é preciso saber encaixar muito bem todas as peças e para que a tarefa fique concluída.
Dias houve de desânimo, onde tive vontade de bater com a cabeça na parede, sentia-me cansada de pensar como tinha de colocar as ideias no computador. Houve também dias de contentamento porque finalmente consegui acabar o trabalho.
Agora encontro-me num labirinto e quero ver se encontro a saída.
Quanto às sessões, algumas deixaram-me ficar confusa e a pensar que não ia mesmo conseguir, considerando que o melhor seria mesmo desistir. Outras deram-me força e vontade de continuar…
Cidália Domingues
Cidália! Que surpresa tão boa!! É muito bom para nós, que vos acompanhamos, ver-vos "desabrochar", como tem acontecido consigo! Fico muito feliz por isso! Continue a participar porque tem muito para partilhar com todos nós!
Um beijo enorme e votos de que esta tenha sido "apenas" a primeira participação!! Continue!
Mafalda Branco
Eu vou continuando a tentar acompanhar e a tentar "aderir" às novas tecnologias...
Obrigado pelas palavras de incentivo.
Um beijinho
Cidália Domingues
Olá,
é a 1ª vez que aqui venho.
Vou tentar fazer o 12º ano.
Ando a fazer por enquanto a minha auto-biografia.
Já ando com receio de como vái ser com o portfólio !!
Mas pronto! Estou a ver que o problema é mesmo geral!!!
Quero mesmo ir até ao fim! Nem que por isso tenha de andar por aqui uns 2 anos ! :))
Estou a brincar!
vamos todos para a frente! Se os outros conseguem nós tambám conseguiremos!
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