sexta-feira, 14 de março de 2008

O dia depois de amanhã.

Em solidariedade com os professores escrevi...

"Dia 8 de Março marca uma viragem histórica no interior da classe docente. De nada importa que a Ministra da Educação ou a sua equipa se mantenham em função ou não. Se é suspenso ou não o modelo de Avaliação de Professores. O que importa é que, em 140.000 professores, 100.000 estiveram na Avenida da Liberdade e desceram até ao Terreiro do Paço. Talvez uns milhares mais tivessem também desejo de estar presentes mas por motivos insuperáveis não puderam estar. Talvez as televisões e os jornais tivessem mais poder em Portugal sobre a Opinião Pública e algo mudaria.

Efectivamente, pelas últimas notícias, nem a Ministra da Educação se demitiu, nem o Primeiro-Ministro mostra nenhuma mudança de discurso e, principalmente, a equipa da 24 de Julho não mudou.

Mas uma coisa mudou. Os professores olharam para si pela primeira vez como uma classe. Não como uma manta de retalhos de profissionais da educação. Mas como professores. Uma classe unida por uma causa. Talvez a avaliação, mas principalmente por aquilo que acreditam: o ensino.

Os sindicatos capitalizaram poder. A esquerda reclamou uma certa vitória, mas a verdade é que quem mais ganhou foram mesmo os professores. A força que agora sentem ter como classe talvez lhes aponte o caminho de soluções criadas, pensadas, organizadas para essa mesma classe. Não os interesses de uns e de outros. Mas de uma verdadeira lógica colectiva.

É dessa realidade, que devidamente capitalizada, o Ministério da Educação deveria temer.

Sabendo desta força, o poder mediático do governo fez-se sentir em todas as televisões, rádios e jornais, nos dias antes e no próprio dia. O Primeiro-Ministro esperou pelo dia seguinte. Falou da força da razão. Falou da irrelevância dos números. De facto, não é isso que o preocupa. É o a auto-consciencia de classe que imediatamente tratou de travar ao dizer: “Vamos continuar a avançar.”.

Esta frase e esta atitude colocam os professores novamente na linha de partida. Como se tivessem regressado dias para trás e estivessem agora, novamente, à procura de se organizar para uma manifestação. A diferença está numa só coisa. Simples mas poderosa. Agora os professores sabem que existem como consciência colectiva. E como inteligência colectiva. São dos elementos sociais com mais poder de comunicação, de informação e de confiança social.

A mostra de força política e de actuação sobre a ordem das coisas é algo que lhes falta ainda. Não é criar o caos. É desordenar o certo, o previsível, o existente. Só assim se provocam oscilações no todo social que podem provocar mudanças. Fazer uma manifestação, estar presente, ir e vir de autocarro ordeiramente organizados, tudo isso tem a beleza do momento, a virtude de mostrar a força mas não provoca agitação. A agitação visível que urge nascer para a mudança ter lugar.

Agora a questão é de mudança. Não de manifestação de desagrado.

Resta saber o que vão fazer, os professores, no dia depois de amanhã…"

Texto do autor publicado no Jornal Trevim.

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