quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Será justo?

Li, ontem, num e-mail recebido:
«Ainda há uns dias, numa sessão de esclarecimento, um adulto me perguntava: "Mas o diploma tem lá escrito Novas Oportunidades? É que, se tiver, eu sei que as entidades patronais o vão desprezar"... Esta ideia já passou, não só para a opinião pública, mas para os próprios empregadores...»
E eu, ontem também, estive presente num júri de validação ontem um mulher, na casa dos seus 40 anos, trabalhava num armazém, completamente fechado, sem janelas, 9 horas por dia (dizia ela), com um patrão que lhe pagava mal e "às prestações" como disse e em condições laborais que já só conseguimos imaginar na Revolução Industrial do início do século passado... Esta mulher, com filhos, com esta vida, durante 4 meses estudou. Fez o processo RVCC. Teve 50 horas de formação em TIC e mais 50 em Matemática. Elaborou um dossier completo e com dedicação. Foi acompanhada por um bom CNO. Um CNO que honra o projecto Novas Oportunidades. Esta mulher queria mudar de profissão. E o que vamos nós todos dizer a esta mulher, que ao fim de quase trinta anos de deixar de estudar, nestas condições, teve a coragem e a força de vontade de voltar à escola? Que há quem diga que esse esforço, representado naquele diploma, não tem valor?
Recebo diariamente centenas de e-mails. Uns com queixas, outros com pedidos, outros com desabafos. Todos são respondidos ou denunciados. Respeito sempre a confidencialidade dos autores e coloco o meu nome nos seus pedidos ou queixas para as entidades competentes. Só denunciando quem está a fazer mal este processo podemos moralizar a forma como todos olhamos para ele. Vamos dar valor ao que tem valor e acabar com o que é oportunismo, facilistismo e falsa qualidade. Só assim, mulheres e homens que merecem ver o seu esforço reconhecido com qualidade podem voltar a desejar estudar, como, aquela mulher mostrou, ontem ao fim do dia. Cada um pode e deve fazer só um pouco. Às vezes só basta um e-mail...


5 comentários:

Anónimo disse...

Mas o diploma tem lá escrito Novas Oportunidades? É que, se tiver, eu sei que as entidades patronais o vão desprezar"...

Compreendo perfeitamente esta afirmação! Conheço o processo do básico e devo dizer que numa fase inicial até havia rigor....enquanto os objectivos eram "atingiveis". Neste momento o mesmo não se pode dizer. Algumas entidades têm dificuldades em atingir números mínimos. Relativamente ao secundário, receio que venha a acontecer o mesmo...Receio o facilitismo legitimo de quem queira manter a sua entidade em funcionamento.

Anónimo disse...

Na minha opinião, julgo que o certificado, quanto muito, deveria só fazer referência à Lei, sobre o qual foi emitido, sem que tivesse qualquer logotipo relativo às Novas Oportunidades. Não penso que as Novas Oportunidades seja uma fuga para a frente, na qualificação dos portugueses, dado que é exigido a prova dos conhecimentos adquiridos ao longo da vida (experiência profissional, diplomas de cursos informáticos, de línguas, de certos cursos em que se exige a formação (exigindo o 9ºano no mínimo)durante 2 anos e que nem o 11ºano dão equivalência. Há em Portugal a falta de vontade em se criar certos protocolos entre o Estado e outras instituições profissionais, no caso da Militar, entre outras.

Gostaria de ver, à semelhança do que aconteceu a quem adquiria viaturas, por via da importação, e via a respectiva matrícula levar com a letra K. Forma injusta e discriminatória, à semelhança do que está a acontecer com as Novas Oportunidades. Julgo que já é difícil a quem quer ter uma nova chance de fazer valer os seus conhecimentos de vida, como se só quem têm diplomas é que revela conhecimentos na sociedade. É certo que nada se adquire sem esforço mas muitos dos que trabalham para sustentar as familias já dão alguma prova ao país de que contribuem com a sua força "Trabalho" para o desenvolvimento do país. Espero que se altere esta situação.

JL disse...

E o que fazer para a credibilização do processo?

Anónimo disse...

O que fazer para a credibilização do processo? Na minha opinião, a credibilização tem a haver com a aceitação, junto das entidades patronais e outras, de que o reconhecimento de competências pode ser uma alternativa (nalguns casos, desde que devidamente comprovados) na qualificação dos portugueses. Estou para iniciar o meu processo, em Janeiro de 2008, e aguardo com muita ansiedade. Espero que a minha experiência profissional, cursos informáticos e algum conhecimento da lingua inglesa, me permita obter a qualificação do 12ºano.

Para já, e atendendo ao que me é possivel perceber, do processo de reconhecimento, não é assim tão fácil de obter. O que pode ser bom para que não se tenha a ideia de que são favas contadas, a obtenção do certificado.

Anónimo disse...

Depois de ler os comentários fiquei com uma grande preocupação...alguém fala em: "...facilitismo legítimo de quem queira manter a sua entidade em funcionamento...". Onde está a fiscalização neste País? Não se brinca com o Conhecimento!!!Depois não se queixem...Acho isto muito grave e perigoso.
Alguns pensamentos:
1º)A validação, apesar de não registar por escrito, é evidente que tem vários níveis, sempre ouvi dizer que o Einstein era aluno de 10 valores...os empregadores que testem as competências dos candidatos. Não é o que tantos fazem para licenciados?
2º) Trabalho num CNO, já fui Professora no ensino oficial e sei muito bem que muitos alunos que fazem o 9º ano têm menos conhecimentos e/ou competências do que adultos que viram validados o
9º ano pelo RVCC.
3º) Para que são os Balanços lançados na base de dados? A minha preocupação quando os faço é de ser justa, não enganar ninguém. Tento colocar pontos fortes e fracos. Porque não têm os empregadores, acesso a estes balanços? Porque não pedem informações adicioanais aos Formadores e Profissionais que acompanharam os Adultos?
4º)Uma coisa é certa, a "qualidade" dos Adultos será aquela que em consciência os Profissionais no terreno lhe conferirem...Erros irão sempre existir,assim como bons e maus Profissionais, mas por amor de Deus não me digam que é só no RVCC...
5º) Já agora, quem duvida do valor deste RECONHECIMENTO, diga-me que qualidades encontra nos alunos que fazem o 9º ano no ensino oficial?
6º)Por acaso sabem os grandes incompetentes que temos a liderar situações a nível de País? Estes são bastante preocupantes... os outros coitados nunca lá chegarão... e alguns fariam bem melhor!!!

Com uma certa raiva deste mundo injusto, do oportunismo, da falta de sensibilidade, da incompetência, das vigarices, de não ver trabalho sério e empenho reconhecidos, de grandes empresas "roubarem" trabalho de alta qualidade a outras pequenas, de meninos que por terem dinheiro entram e acabam uma licenciatura, deixando de lado colegas com altas competências, por não terem tido dinheiro para entrar naquela faculdade... o outro entrou com 9,5 numa particular o outro com 14 não entra na oficial nem na particular por falta de dinheiro...

Com tristeza,
Alguém que luta por uma educação de qualidade e faz sacrifícios pelos alunos e adultos que acompanha.