segunda-feira, 19 de março de 2007

Reflexão sobre EFA

Vamos lá reflectir sobre o papel da educação de adultos em contexto escolar!
1. Antes de mais, será bom sublinharmos alguns dos planos em que se terá que concretizar a aposta neste campo da educação e formação de adultos. Um plano fundamental da afirmação da educação de adultos prende-se com a necessidade de promover a posse e uso de competências de literacia, que pode mas não se tem que concretizar em soluções educativas que proporcionam a validação escolar. Um outro, também essencial, diz respeito à necessidade de garantir aos adultos oportunidades de conseguirem diplomas escolares que não obtiveram em devido tempo, tanto através do reconhecimento e validação das suas competências, como pela construção de percursos educativos que, por serem diferentes, possam ser sucedidos. Entretanto, a educação de adultos não se pode esgotar na promoção de competências elementares. É essencial apostar num terceiro plano de afirmação da educação de adultos: a formação pós-inicial de adultos, quer ela assuma um cariz mais directamente profissional ou, então, vise uma formação cultural, científica ou técnica mais abrangente. É uma área de intervenção essencial, tanto mais que, nestes domínios, a oferta continua a revelar-se limitada e dispersa, sendo ainda escasso o envolvimento dos adultos nestes processos educativos. Finalmente, é bom considerar que a animação comunitária para o desenvolvimento constitui um plano decisivo de afirmação da educação de adultos, sobretudo se, mais do que parcela, for encarada como contexto de excelência de realização da promoção educativa de adultos.
2. Ora, este fórum pode constituir uma boa oportunidade para reflectirmos sobre o modo como, em contextos escolares, podemos contribuir para a afirmação da educação de adultos, designadamente nos quatro planos sugeridos. Os desafios que a EFA enfrenta solicitam o envolvimento de um leque alargado de instituições, respeitando e explorando as potencialidades da heterogeneidade que, já hoje, caracteriza este campo de intervenção educativa. É no quadro deste esforço abrangente e partilhado que pode ser discutido o papel da escola, a extensão aos adultos das suas responsabilidades educativas e o seu contributo para a afirmação dos direitos à educação e à cultura. O que impõe negar duas atitudes reducionistas: a idealização da escola, considerando-a como o espaço decisivo de educação dos adultos; a recusa total do papel que ela tem a desempenhar na garantia do direito à educação, por se considerar que ela é tendencialemnte incapaz de responder aos desafios do mundo contemporâneo. O fundamental será provavelemnte reconhecermos que as novas exigências colocadas a pessoas e grupos impõem que se alarguem as suas oportunidades educativas e que a renovação permanente e a um ritmo acelerado destas exigências não se compadece com um mero alargamento da escolaridade inicial obrigatória que, de resto, só agrava a situação dos adultos, aumentando o número daqueles que não atingem as novas fasquias exigidas. Só com novas estratégias e através de instituições novas ou renovadas será possível acreditar que esses adultos possam, ao ritmo das novas exigências sociais, assegurar os níveis educativos considerados como fundamentais. Em suma, o sistema educativo formal continua sendo um elemento essencial para a educação de adultos, desde que seja capaz de abandonar tentações totalizantes, (re)pensando-se no quadro de um leque alargado de instituições na resposta aos desafios educativos actuais.
3. As escolas têm que se assumir portanto, cada vez mais, como centros locais de educação, assegurando serviços educativos diversificados, indispensáveis à elevação do nível educativo da população do território educativo em que se situam. Isto exige um esforço de inserção no quadro social envolvente, para perceber recursos e necessidades educativas locais e para, interactuando com pessoas, grupos e instituições locais, se construirem as soluções consideradas convenientes e adequadas. Estas novas responsabilidades das escolas exigem pois que estas se encarem de outra forma. Cada centro educativo terá, nomeadamente, de: a) pensar-se como um centro de recursos educativos disponíveis para iniciativas de EFA, recursos em termos de espaços e materiais, mas também de iniciativas e, sobretudo, de informações, que aí sejam trabalhadas e disponibilizadas ao maior número possível de pessoas; b) aproximar-se das condições reais da vida quotidiana dos adultos e atender à globalidade das suas solicitações educativas; c) relacionar-se com o território social onde a sua acção se inscreve e procurar envolver-se com os mais variados parceiros sociais locais (com carácter formal ou informal), gerando uma rede de iniciativas educativas; d) reconhecer a diversidade e valor dos diferentes percursos de vida e formação, sendo capaz de criar complementaridades entre os diferentes programas educativos, admitindo a transição entre estes na construção de um percurso pessoal de formação; e) gerir-se e organizar-se de forma flexível, escapando a estruturas administrativas pesadas, rígidas e uniformizadas, mas sendo flexível, também, na definição de programas, locais e tempos de formação; f) recorrer a um leque alargado e heterogéneo de formadores - profissionais ou voluntários, a tempo inteiro ou parcial e com as mais diversas formações de base - e de se preocupar com a formação destes educadores de adultos, para que a sua acção seja cada vez mais qualificada e adequada aos princípios da E.A. 4. Estas são algumas pistas para uma reflexão fundamental em torno da EFA em contexto escolar. Vamos pois relatar experiências, sugerir questionamentos e reflexões, propor pistas e novas soluções!...
L. Rothes - Animador do Eixo 2

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