quarta-feira, 25 de junho de 2008

Desafios: As Equipas dos CNO.

Como escrevi na passada segunda-feira, esta semana estou a levantar algumas questões em torno dos pontos de melhoria possível e desafios à qualidade na implementação do processo RVCC e da Iniciativa Novas Oportunidades.

Quero agradecer aos 327 participantes que já responderam ao inquérito que ontem deixei neste espaço. Espero em breve ter muito mais respostas e elaborar um documento que depois publicarei no final da semana com os resultados.

Hoje a minha análise centra-se nas equipas dos Centros Novas Oportunidades. Ao longo dos últimos anos tenho acompanhado vários CNO e tenho-me deparado com várias constatações de facto que ainda não tinha partilhado aqui.
Uma das questões que torna evidente é (e claro na realidade dos vários CNO que conheço), e ao contrário do que se tem ideia, a estabilidade das equipas. Principalmente ao nível dos profissionais. Estabilidade, digo, tempo de relação da pessoa com a entidade e nada mais. A verdade é que os CNO tem uma tendência para formar as equipas criando um espírito muito próprio. Isso leva tempo, investimento e acima de tudo dedicação. Poucas são as alterações nas equipas, ao nível dos profissionais RVCC que acompanhei. Muitos(as) são os mesmos, nos mesmos CNO de há 4/5 anos para cá. Mas esta relação contrasta com uma certa indefinição na relação laboral (até aqui com recibos verdes e agora com contrato) e nos difíceis horários de trabalho. O trabalho nocturno, diário e de acompanhamento é extenuante para todos os recursos humanos dos CNO. Não há momentos. Há um contínuo permanente de respostas a dar, de orientações a realizar e de decisões a tomar. Isto não se aplica só aos profissionais RVCC mas a toda a equipa. Da coordenação aos formadores. As dificuldades de uma gestão financeira e humana, assim como, da gestão do tempo são situações difíceis de superar.
Mas a verdade é que, ao longo do tempo, os CNO deixaram de existir. Parece estranha a afirmação mas não é. Hoje, na maioria dos casos, os CNO são equipas de profissionais muito qualificados e preparados para os desafios emergentes da inclusão na escola da Educação e Formação de Adultos e não meras organizações formalmente instituídas.
Sempre o disse publicamente que o primeiro acto de respeito da minha parte é sempre para com os coordenadores, profissionais e formadores que fazem os CNO. Aqui fica esse reconhecimento público de respeito, de reconhecimento e de parabéns pelo imenso esforço e dedicação nestes últimos anos.

Agora os desafios. Não são poucos.

1. Quanto aos profissionais: A estabilidade contratual parece ser uma realidade atingível, veremos se as mudanças de equipas que permite não alteram a lógica para que foi criada. Penso que acima de tudo é necessário credibilizar a função. Por um lado, a meu ver, é essencial implementar um processo de certificação profissional (já criado) para formação inicial e contínua. Por outro é preciso criar uma forma de articulação de práticas, a meu ver, centrada na formação inter-pares. O reconhecimento social passa pela afirmação pessoal da função exercida e isso só pode acontecer com a auto-conciencia da mesma.

2. A gestão de recursos humanos nos CNO tem que se tornar mais "empresarial". No bom sentido, claro. A verdade é que o adulto é o centro do processo e a resposta a este deve ser rápida, ajustada e orientada. Mas não podemos esquecer a necessidade de articulação entre a vida profissional e familiar dos coordenadores, profissionais e formadores para o fazer. A flexibilidade de horários em presença, o trabalho de orientação no local, a formação complementar, as orientações por plataformas de criação de portefólios digitais e todos os instrumentos que permitam essa flexibilização devem ser implementados e usados como forma de valorizar a vida pessoal e profissional de todos e a resposta necessária do CNO como um e não como soma das partes.

3. A formação em contexto. Penso que os CNO esperam muito pela formação "oficial" da ANQ e outros e existem «boas práticas» que podem ser partilhadas. A criação de pequenos encontros, com o espírito workshop, funcionam muito melhor que os grandes encontros locais.
Depois existe uma necessidade de informação. A formação é necessária, mas mais necessária, em muitos casos, é a informação. Uma das realidades com que me confronto como Avaliador Externo é ir a uma sessão de júri, perguntar no final como vai continuar os estudos e a resposta ser: RVCC. A razão é simples. Falta de informação da equipa sobre ofertas, falta dessas mesmas ofertas e muitas vezes, falta de conhecimento sobre o enquadramento da certificação profissional necessária. O papel do técnico superior minora este facto mas toda a equipa deve articular-se para a qualificação do adulto em torno de um objectivo de continuação dos estudos académicos ou resposta mais profissional. Para isso é urgente e necessária a partilha de informação.

Aqui ficam mais algumas reflexões e desafios. Novamente e principalmente para os CNO com que trabalho e onde a palavra "facilistismo" morreu à nascença todo o meu reconhecimento profissional e pessoal pelo excelente trabalho realizado até à data e a minha palavra de que tem sido uma honra trabalhar com todos.

1 comentário:

Mafalda Branco disse...

Olá João!

Não pude deixar de sorrir quando vi este post. É engraçado porque hoje mesmo, na formação em Coimbra, deixei como sugestão aos CNO, sobretudo aos coordenadores (a quem penso que cabe essa função), a realização de reuniões periódicas entre 2 ou 3 Centros, com o objectivo de partilharem experiências e práticas, no sentido de evolução e melhoria contínua (o famoso "benchmarking")! Acho que mais do que os Encontros entre muitos Centros, estas sessões poderão ser verdadeiramente geradoras de novas aprendizagens e de novas perspectivas sobre a operacionalização dos processos, que se pretende cada vez mais eficiente e de maior qualidade.

Mafalda Branco