sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Sentidos e Significados da Aprendizagem ao Longo da Vida

Data de 2010, mas as palavras e a preocupação deste artigo continuam presentes. E bem. O cenário da Educação estende-se de forma ampla. E diversa. Os movimentos e mutações que a envolvem são complexos. E deixam, por vezes (quantas vezes, ultimamente em tão pouco tempo?!), os músculos perplexos.


Do ponto de vista teórico e conceptual…

…a aprendizagem ao longo da vida – embora não necessariamente com esta designação – tem estado presente no pensamento sobre educação de diversos autores ao longo dos tempos, bem como na reflexão que acontece nos organismos internacionais há já várias décadas.
A centralidade crescente da ideia de aprendizagem ao longo da vida nas políticas educativas europeias conduz a que alguns autores se interroguem sobre até que ponto estaremos a assistir à emergência de uma “era de Aprendizagem ao Longo da Vida” que contrasta com uma “era de Educação” que poderá estar em claro declínio (Tuschling & Engemann, 2006).
A emergência daquela expressão como ideia central dos discursos e políticas educativas é coincidente com a intensificação do papel da União Europeia na área das políticas educativas. Tal intensificação vem-se sentindo desde o ano 2000 na sequência do Conselho Europeu de Lisboa no qual se estabelece uma nova visão estratégica que só pode ser alcançada mediante o investimento significativo no setor educativo/formativo.
Ainda que a ação política europeia não se organize em torno de sanções e imposições aos diferentes Estados, verifica-se que através da discussão e construção partilhada de diagnósticos, recomendações e planos de intervenção, as orientações europeias acabam por se constituir como referentes incontornáveis para cada um desses Estados.




Do ponto de vista substantivo…
…a aprendizagem confunde-se com a própria existência humana e, neste sentido, teve sempre lugar ao longo da vida e em diferentes espaços da nossa existência.
Segundo uma perspetiva histórica, é possível identificar referências a pensadores, desde a Antiguidade Grega e Romana, que encararam os processos educativos de forma abrangente, simultaneamente, do ponto de vista dos tempos e espaços em que se aprende: nunca a aprendizagem se reduziu à idade inicial do ser humano.
A ideia de aprendizagem ao longo da vida, entendida como um processo que acontece em diversas fases do ciclo de vida dos indivíduos e nos diferentes espaços da sua existência, implica (re)alargar o âmbito dos conceitos de educação e aprendizagem, reconhecendo a relevância de espaços e tempos educativos que estão para além dos espaços e tempos escolares.




Do ponto de vista das práticas e sistemas educativos…
…o (re)conhecimento da abrangência da ideia de aprendizagem ao longo da vida dá origem a desafios relativamente ao seu modo de funcionamento que podem encerrar alguma novidade.
No entanto, de acordo com os autores do artigo, importa sublinhar que a ampla difusão da ideia de aprendizagem ao longo da vida pode encerrar alguns riscos associados a entendimentos redutores do termo:
  • Aprendizagem ao longo da vida vista como educação de adultos, como de resto está subjacente aos indicadores estatísticos (como por exemplo os disponibilizados pelo Eurostat) que a medem através da participação de adultos em ações de educação/formação.
  • Estreita associação entre aprendizagem ao longo da vida e sistemas educativos, esquecendo que a aprendizagem decorre também em espaços informais que não se estruturam em termos de objetivos educativos e que correspondem às atividades diárias relacionadas, designadamente, com o trabalho, a família ou o lazer.

A estes sentidos restritivos da ideia de aprendizagem ao longo da vida acrescem, pelo menos, dois grandes riscos de reducionismo no modo como esta ideia se tem tornado um elemento central das políticas educativas europeias, que têm sido objeto de estudo por parte de diversos autores (ver, por exemplo, Biesta, 2005 e 2006; Nóvoa, 2005; Canário, 2003; Lima, 2003):
  1. Subjugar a aprendizagem ao longo da vida a finalidades profissionais e de competitividade económica, reduzindo os processos de aprendizagem dos indivíduos a meios para assegurar a capacidade produtiva de cada um de nós.
  2. A aprendizagem ao longo da vida tende a ser entendida, sobretudo, como um processo que é responsabilidade exclusiva dos indivíduos. Nos termos de Biesta (2006), trata-se de considerar a aprendizagem como um assunto e uma responsabilidade do indivíduo, menorizando a necessidade de criar condições que favoreçam a emergência de dinâmicas de aprendizagem ao longo da vida e a adesão dos indivíduos a essas dinâmicas. Essas condições, favoráveis à aprendizagem ao longo da vida, passam por uma multiplicidade de estratégias como as oportunidades educativas e formativas dirigidas a diferentes tipos de públicos, os mecanismos de reconhecimento e validação de aprendizagens informais, os apoios concedidos aos indivíduos (financeiros, mas também logísticos) para frequentar ações de educação e formação, entre outras.

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