segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Aprender: dor ou prazer?


Jacques Rozier, realizador francês, numa curta metragem de 1955, "Rentrée des Classes" ilustrou magistralmente o prazer de faltar às aulas, um conceito tão fácil de aceitar que ninguém o contesta!
No nosso imaginário colectivo, a vida fora da sala de aula continua, naturalmente, mais apetecível do que dentro dela.
Paradoxalmente, a aprendizagem ficou, portanto, ao longo dos tempos, associada à noção de contrariedade, esforço, trabalho e dor. Por que motivos estranhos se entendeu que a aprendizagem "pura e dura" seria mais eficaz do que aquela que acontece quando está ou foi associada a memórias prazerosas? Porquê associar a dor ao conhecimento? Porquê transformar o estudo num castigo e num dever e acoplar a noção de culpa a quem não segue este preceito?
Augusto Cury, eminente psiquiatra brasileiro, na sua obra "O Código da Inteligência", refere que "A dor anula a busca da excelência nos seus mais diversos aspectos".

Cientistas conceituados como o nosso António Damásio estabelecem relações entre os conceitos de emoção e da neurobiologia e referem que as nossas células mudam com a aprendizagem, guiadas pela emoção. Aliando o prazer estético e a aprendizagem, António Damásio apontou a arte como uma forma de encontrar estímulos capazes de desencadear "um estado neurofisiológico de grande coerência e harmonia".


Hoje, felizmente, estamos a redescobrir que o prazer proporciona bem-estar, equilíbrio e saúde.
Não vos estou a falar do prazer imediato, da impaciente e insaciável sede dos sentidos. Não se trata da busca pela satisfação egocêntrica dos bens e prazeres consumistas e materiais imediatos ou transitórios.Não.
Refiro-me ao prazer refinado do reencontro com o belo, que nos enleva e eleva, paulatinamente, em cada sussurro de alento; gradativamente, em cada movimento harmónico; profundamente em cada inspiração da essência fractal do Noûs que permeia a vida, desde a origem do cosmos, como nos propôs Anaxágoras, o filósofo grego.

Podemos começar por olhar para o mundo com um olhar diferente. E mostrar aos nossos formandos que esse olhar é fundamental para que fiquem despertos para um novo mundo. Podemos começar por motivar para a aprendizagem, para a descoberta da beleza e das potencialidades que existem em nós. Era disto que falavam Jacques Bergier e Louis Pauwels com o seu "Despertar dos Mágicos". Os mágicos somos nós, formadores e formandos, todos claramente aprendizes.
Trata-se de uma clara mudança de paradigma, à qual convém sermos capazes de nos adaptar. Vai ser preciso re-aprender a aprender. Nesta nova linha de pensamento, seremos todos, de novo, aprendizes de aprendentes.
Mens sana in corpore sano complementa-se agora com mens sapiens in anima laeta, aliando o conceito de inteligência ao de felicidade.

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