segunda-feira, 20 de julho de 2009

Avaliação da Iniciativa Novas Oportunidades…

Durante vários anos acompanhei a implementação do Processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências. No último ano (ou anos) esta iniciativa ganhou uma dimensão muito mais massificada, assim como, um linha mais politizada e mediática. Foram, neste contexto, apresentados os primeiros resultados da Avaliação Externa da equipa da Universidade Católica, estudo coordenado pelo Prof. Roberto Carneiro.
Gostei de assistir às reacções de vários observadores atentos. Gosto sempre dos comentários feitos a quente e sobre notícias de notícias de um jornal ou de comentários que já são comentários de comentários… Gosto sempre da leitura transversal e sobre as “letras gordas” das imagens que querem fazer passar, quer aqueles que apoiam, quer os que não o fazem.
Como em qualquer outra questão gosto da prudência que o tempo de deixar assentar a poeira permite.
Faço agora uma leitura.
Durante os últimos anos tenho feito uma luta, por dentro do sistema, para a sua credibilização. Olho para os resultados do estudo feito com alguma tristeza do ponto de vista da sistematização da observação e dos resultados e com algum optimismo com aquilo que não está lá escrito em letras triunfais mas que é claro. Tiro duas conclusões positivas e duas conclusões negativas.

Destaco como negativo:
- A ausência de uma análise concreta que nos permita aferia o grau de evolução ao nível da literacia. Quer ao nível da leitura e escrita, quer ao nível da literacia digital. Os resultados revelados ao nível do uso da Internet são vazios de conteúdos e como tal, a consolidação dessa mesma prática fica por aferir.
- A ausência de uma demonstração rigorosa da consolidação de uma visão integrada, nos adultos em processo e após processo da importância da Aprendizagem ao Longo da Vida, nos seus contextos pessoais, profissionais e sociais. Fica por saber se a transformação de paradigma está a ocorrer ou não…

Destaco como positivo:
- O facto da Iniciativa Novas Oportunidades ser apresentada, e isso é claro em todos os cadernos da Avaliação Externa, como um projecto que recentrou a Educação e Formação de Adultos, tão esquecida nos últimos anos, na escola e numa escola inclusiva. Faltando consolidar o modelo, a ideia essência foi, de facto, recolocada em debate e em prática.
- Ter sido colocado em cima da mesa a questão do tempo e da exigência dos “números” como factor de disfunção no processo e na qualificação como objectivos. Se a visão prática do tempo de espera dos adultos para o processo foi colocada em cima da mesa, mais será de analisar os resultados da Avaliação Externa face ao desafio do binómio qualidade-tempo que é bem descrita nos documentos apresentados.

Não penso que a leitura simplista que o trabalho de Avaliação Externa feita é vazio ou conduz a uma “propaganda” seja o caminho de honestidade intelectual necessária. Penso que é um desrespeito profundo às equipas, que no quadro de várias alterações feitas no modelo, mas orientações e na prática conseguiram, muitas vezes “contra ventos e marés” lutar por dar qualquer coisa de novo e solidamente sustentado aos milhares de adultos que frequentaram esta Iniciativa Novas Oportunidades, vertente adultos. Assim como não é justo para muitos adultos que, com honestidade, esforço e brio fizeram o melhor para completar o seu processo com vista à certificação, tantas vezes, verdadeiramente merecida.

Se o desafio é melhorar a qualidade do trabalho que foi feito até aqui, a verdade é que tínhamos que passar por esta realidade. No entanto, nunca é de fora, de onde o olhar e a crítica é sempre mais simples de fazer que se deve comentar ou criticar. É por dentro, mudando o que consideramos menos positivo, ajustando práticas, sugerindo mudanças, provocando melhorias e integrando inovação.

Deixo só uma sugestão quer à entidade tutelar da Iniciativa Novas Oportunidades, quer à equipa de Avaliação Externa. A sugestão é simples. Promovam pequenos encontros e façam um roteiro nacional para análise de boas-práticas, assim como, de remodelação do modelo de base e usem o conhecimento do terreno produzido pelas equipas para apresentar uma (nova) solução para a efectiva Qualificação de Adultos. Fica uma ideia.

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