quarta-feira, 6 de maio de 2009

A Observação Participada: Para além do RVCC.

Recentemente referi neste espaço um desafio sobre a minha potencial  realização do processo de RVCC. Recebi vários e-mails e comentários o que considerei muito interessante pela reacção e troca de ideias gerada. Muitos assentavam na ideia do facto de eu, conhecendo o processo ir retirar desta experiência uma observação imparcial. Adiado que está esse desafio foi, no entanto, muito positivo para eu lançar neste espaço uma reflexão sobre uma metodologia de trabalho que é do conhecimento de muitos e que pode ser um excelente instrumento de auto-avaliação do trabalho dos Centros Novas Oportunidades (e é bom lembrar isto agora que a auto-avaliação - num "novo" modelo - está a ser apresentado aos centros). 

Aqui ficam as ideias fundamentais da "Observação Participada".

«A observação participante é uma metodologia elaborada principalmente no contexto da pesquisa antropológica. Trata-se de estabelecer uma adequada participação dos pesquisadores dentro dos grupos observados de modo a reduzir a estranheza recíproca. Os pesquisadores são levados a compartilhar os papéis e os hábitos dos grupos observados para estarem em condição de observar factos, situações e comportamentos que não ocorreriam ou que seriam alterados na presença de estranhos. Foi MALINOWSKI (1978) quem sistematizou as regras metodológicas para a pesquisa antropológica: a ideia que caracterizava o método era a de que apenas através da imersão no quotidiano de uma outra cultura o antropólogo poderia chegar a compreendê-la.

Ou seja, um dos pressupostos da observação participante é o de que a convivência do investigador com a pessoa ou grupo estudado cria condições privilegiadas para que o processo de observação seja conduzido e dê acesso a uma compreensão que de outro modo não seria alcançável. Admite-se que a experiência directa do observador com a vida quotidiana do outro, seja ele indivíduo ou grupo, é capaz de revelar na sua significação mais profunda, acções, actitudes, episódios, etc... que, de um ponto de vista exterior, poderiam permanecer obscurecidas ou até mesmo opacas.

Assim, o antropólogo deveria passar por um processo de transformação através do qual ele, idealmente, tornar-se-ia um nativo. No entanto, na medida em que essa experiência não é sistemática, o antropólogo deveria reelaborá-la, transformando-a numa descrição objectiva (científica?) da cultura. O resultado desta "transformação" consiste no texto etnográfico, onde o antropólogo apresenta uma re-elaboração de suas experiências.»
Fonte: aqui.

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