domingo, 15 de março de 2009

Criar uma metodologia: Ideia(s)

Tentar criar uma metodologia/teoria no contexto educativo nunca tem um princípio e um fim definido. Por isso, o fundamental para mim foi encontrar a ideia fundamental.

A ideia fundamental da teoria "Connecting the Dots" está relacionada com a interligação dos conhecimentos e da mobilização dos mesmos para se transformarem em saberes em acção por via da adequação dos contextos de aptidão e estruturação racional.

Passo a explicar a lógica da teoria. Sei que muitos vão perguntar como é que é possível ligar princípios e teorias opostas em algum momento. No entanto, vou tentar explicar o que me serve de suporte à ideia de base e não a sua sustentação teórica em si mesmo.

Lembro-me, quando estudava no 12.º ano, de ter uma professora de Filosofia, creio que o seu nome era Inês, a quem todos temiam o primeiro teste. E temiam porque só tinha uma pergunta. A pergunta era: “O que é uma cadeira?”. A maioria era corrido com negativa. Era por esta via que a professora Inês nos introduzia no mundo das diferentes abordagens sobre os conceitos e correntes da Filosofia. Foi por ai que cheguei às Categorias da Razão de Kant. Eis então um ponto fundamental da teoria que apresento. O homem é um ser racional que, tendencialmente, organiza compartimentando o conhecimento em categorias que lhe reservam uma lógica de existência/inexistência, assim como de utilidade/inutilidade.

Outra componente da ideia desta teoria está relacionada com um princípio simples. Lembro-me de estar, um dia de sol e ao passar na Marginal que liga Lisboa a Cascais, olhar para o farol que se situa perto de Caxias e parar um pouco o carro para olhar para as entradas dos barcos ao largo do Bugio. Reparei que, de acordo com a sua dimensão, objectivo e destino, cada um tomava o seu caminho diferente. Liguei esta imagem à árvore da vida de Klimt. E para a teoria que estou a desenhar tirei duas ideias fundamentais. Que deve existir um caminho de formação de base comum, como o rio ou o tronco da árvore, mas que, cedo, devem entrar as orientações (farol) e as escolhas (ramos). Assim, se falarmos em ensino-aprendizagem, falamos de uma formação de base (colocaria a Língua e a Matemática) e depois, caminhos diferenciados com escolhas entre ofertas de formação, isto é, disciplinas/áreas de competência de escolha livre.

Mas regresso às influências. E lembro-me que, ultimamente tenho lido inúmeras obras de António Damásio. E eis que me podem acusar de chocar Kant ou a lógica de um método com a Emoção explicada por Damásio. Mas o que retiro de Damásio é fundamental para a estrutura de decisão e não para a essência do processo de aprendizagem em si.

“Podemos ser Hamlet durante uma semana ou Falstaff por uma noite, mas tendemos a regressar ao ponto de partida. Se tivermos o génio de Shakespeare, podemos utilizar as batalhas interiores do si para criar o elenco inteiro de personagens do teatro ocidental – ou no caso de Fernando Pessoa, para criar vários poetas diferentes, os seus heterónimos. Porém, ao fim e ao cabo, é um Shakespeare idêntico a si mesmo (e não um dos seus personagens) que se reforma tranquilamente em Stradford, e é um Pessoa idêntico a si mesmo (e não Ricardo Reis) que bebe até ao esquecimento e morre num hospital de Lisboa.” O Sentimento de Si. O Corpo, a emoção e a neurobiologia da consciência, Lisboa, Europa-América, 2000

Ora, é por esta via que, sinto que a orientação vocacional ganha um papel fundamental e que tem sido muito esquecido nas escolas e na educação, quer de adultos, quer de jovens. É esta estratégia que pode apoiar na decisão. Na escolha e na sistematização/planificação de um caminho de aprendizagens para cada aluno/adulto.

E vou terminar este ponto com outra influência. No último ano estive inscrito num Mestrado da Universidade de Aveiro. Multimédia em Educação. Inscrevi-me por via de querer saber mais sobre a Teoria da Flexibilidade Cognitiva. Encontrei, não a explicação, mas a prática. Mas, como é meu hábito, mais do que ir para “aprender”, fui para tomar parte de um movimento que está a surgir. E encontrei, em duas cadeiras, dois fundamentos que considerei extremamente importantes: o conceito/teoria de Connectivismo e o dos marcos de aprendizagem. Curiosamente, este último conceito foi-me apresentado numa das cadeiras que considerei menos interessantes. Do primeiro conceito/teoria retirei a lógica da mudança da aprendizagem colaborativa e em rede que as novas tecnologia potenciam e do segundo um modelo de avaliação sustentado nas conquistas de aprendizagens e analise formativa dessas mesmas aprendizagens.

E que desenho final posso apresentar? Imagine-se o seguinte. Um plano, de estudos/aprendizagens/desenvolvimento de competências, individual, desenhado à medida de um aluno, com uma formação de base comum, num escola onde esta formação de base era secundada por uma oferta múltipla de áreas de competência/disciplinas criadas pela equipa de docentes, quer em áreas científicas, quer em áreas diversar (Das Artes ao Desporto) e que, um aluno/adulto apoiado na sua decisão de desenho de percurso de aprendizagem em função da sua persona seguiria para cumprimento de um percurso de educação/formação. Basicamente, ligando os pontos (Connecting the Dots) entre aprendizagens.

Na educação e formação de adultos o processo seria invertido. O processo de RVC serviria de base para a (re) descoberta das aprendizagens realizadas pela/na sua História de Vida e o desenho de um plano de formação a realizar teria em conta essa mesma aprendizagem e os objectivos de qualificação desenhados. Sobre esta vertente falarei no próximo texto.

Ficam algumas ideias.

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