sábado, 1 de março de 2008

Avaliar um Professor.

"Estamos em 2008 e o presente executivo governamental refere que irá, a todo o custo, implementar o processo de avaliação de professores.

Pois bem… Como se avalia um professor? Ou melhor, como se avalia o desempenho de um professor?

A regulamentação que entrará em vigor, fala, entre muitas outras coisas, que a avaliação do docente está relacionada com as notas que os alunos têm na sua disciplina. Este não é o único parâmetro, mas é um deles.

Ora, sabendo nós que as escolas têm por tendência a criação das chamadas “turmas de nível”, isto, alunos bons todos juntos numa mesma turma, assim como, os que têm maior dificuldade também todos juntos noutra turma, resultará em duas coisas… Ou o mesmo professor é bom e mau… ou existirão professores muito bons e outros muito maus…

Existe neste processo um princípio de base muito errado. Começou com a divisão de uma carreira feita, não pelo mérito, mas pela tecnocracia de um sistema artificial de valorização de alguns em detrimento de outros. Avançou com o erro colossal de colocar nas escolas, sem ajuste, um poder centralizado na figura de uma só pessoal, o director. Passou e passa diariamente pela existência de dezenas de reuniões para mostrar um trabalho que não se consegue fazer por não ser possível estar numa reunião e preparar aulas e actividades ao mesmo tempo. Ganhou força e nos últimos anos tem sido evidente essa mesma força, na introdução de práticas burocráticas e ultrapassadas de controlo e registo que transformam os docentes em funcionários públicos administrativos que, por mero acaso, também dão umas aulas. Prosseguiu por via do afastamento dos alunos do contexto de aprendizagem. Introduziu nas escolas uma tecnologia sem mudar metodologias. E culmina agora com uma forma de avaliação que não fará mais do que dividir os professores, levado pelo temor de cumprir e não pela vontade e motivação de fazer melhor, a serem polícias de si mesmos na pior visão que se pode ter do que o Estado espera de uma profissão e de profissionais que se desejam humanistas, humanos e presentes.

Sou, como sempre fui, a favor de uma igualdade entre o trabalho dos professores e dos restantes profissionais de qualquer outro sector. Como tal, concordo plenamente com a avaliação de desempenho. Mas não esta. Não desta forma.

Rege a lei da guerra, do Japão do século XII que a melhor estratégia num combate em que a força é desigual é sempre a de dividir para reinar. Maquiavel adaptou depois essa teoria para alertar o príncipe… e leia-se, ou melhor, leiam aqueles que a estão a implementar, que Maquiavel pensava que os perigos de ter muitos contra muitos era muito maior do que a de ter aqueles que faziam da mudança de mentalidade a sua profissão, junto a si, a trabalharem consigo no futuro da educação e no futuro de uma nação.

Pensemos pois que avaliar um professor é ser capaz de dizer como, com que qualidade, de que mãos sai o futuro de um país e não se este é melhor, mais ou menos “excelente” do que o outro. Uma escola não é um professor. São todos. É uma comunidade. Um comunidade construtora do futuro."

Do autor, publicado no Jornal Trevim.

Sem comentários: