segunda-feira, 12 de março de 2007

Conhecimento Formal e Informal

Do meu ponto de vista (pessoal, logo questionável!), um dos grandes constrangimentos que se levantam ao nível do informal ou não formal prende-se com a nossa ansiedade em os tornar … formais. Vou tentar explicar. É muito frequente encontrarmos casos de iniciativas concretas que assentam em aprendizagens de cariz informal ou não formal, mas que acabam por ser em si um meio para atingir um fim claramente formal. No entanto, se reflectirmos sobre a nossa forma de ser, de estar, de agir ou de pensar (inequivocamente idiossincrática) e a compararmos com as nossas aprendizagens formais, verificamos facilmente que a nossa aprendizagem ao longo da vida está muito para além do ensino formal, tradicionalmente tipificado e em “pacote” que todos recebemos mais ou menos por igual. Creio que isto assenta numa razão “natural”, pois existem características inerentes à espécie humana que nos fazem não ficar indiferentes ao que os nossos sentidos captam em diferentes contextos e situações de vida. Ora é aqui que devemos situar o informal e o não formal, proporcionando actividades que partam das pessoas, do que elas têm para nos transmitir e não fazer o contrário, ou seja, “impor” algo que queremos que as pessoas aprendam. Este é o primeiro passo para “ganhar clientes”. Dar ouvidos a alguém, dar importância ao que diz e reagir de forma activa, não só estabelece um primeiro ponto de contacto, como potencia outros, alicerçados na autoconfiança, autoestima e motivação para a interacção. Paralelamente, deveremos ter um conjunto de animadores que saibam gerir a riqueza do que é transmitido e a partir daí criar condições de autoavaliação de cada um pense, aí sim, que outras aprendizagens significativas poderia acrescentar às que já possui. A partir daqui a selecção de um grupo e a planificação de todo o trabalho a realizar seria muito mais eficaz e poderia ser articulado com aspectos formais, identificados com necessidades de inserção ou reforço de estabilização numa determinada comunidade. De facto, as aprendizagens não formais ou informais não têm que estar fatal e obsessivamente ligadas às aprendizagens formais e à certificação directa, existindo como seu “parente pobre”. Muitos adultos necessitam que se faça um trabalho de base, de proximidade, com vista à construção do “chão” (cidadania, ambiente, regras sociais básicas de convívio, etc,) onde possam erguer outras aprendizagens mais complexas, mais distantes do seu campo vivencial directo. É neste trabalho de base que as aprendizagens não formais ou informais podem “brilhar”, tendo aqui um papel fundamental e insubstituível. O insucesso de alguns percursos formais deve-se exactamente ao grande salto que se quer que os seus beneficiários dêem, se compararmos o seu ponto de partida com os objectivos finais propostos.
(Paulo Santos)

Sem comentários: