quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Foi uma vez...

Foi uma vez uma futura ex-estagiária em 2006 num CRVCC. Este estava a dar os primeiros passos: acabara de abrir portas ao público numa época em que ainda não se sabia bem como funcionaria. Assisti, no primeiro dia, à primeira sessão de esclarecimento. Sensibilizaram-se as pessoas, puxando os seus espíritos para a aprendizagem ao longo (e em todos os espaços) da vida e fazendo-lhes sentir sede de se valorizarem. Um desafio. 

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Foi uma vez ser Profissional de RVC num CNO (parte I) em 2007 – aquela figura que acolhia, informava, esclarecia, entrevistava, encaminhava, desenvolvia sessões de balanço de competências, apoiava os adultos na construção do seu Dossier Pessoal, estudava a abertura de UFCD na região, articulava com os formadores, colaborava no diagnóstico de necessidades formativas, encaminhava adultos para formação complementar, preparava sessões de júri, organizava o dossier técnico-pedagógico, participava na elaboração do plano anual de atividades e no tratamento estatístico de questionários de satisfação.
Era uma vez um dia, algures em 2008, que fez surgir a figura do Técnico de Diagnóstico e Encaminhamento (TDE), libertando o Profissional de RVC para os adultos.

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Foi uma vez julho de 2008 e a saga dos concursos públicos, levando para arena pública a questão dos falsos recibos verdes.
E foi assim que foi também uma vez ser Profissional de RVC noutro CNO (parte II) – aquela figura agora liberta de grande parte das tarefas administrativas e burocráticas da inscrição ao encaminhamento (a cargo do TDE), que poderia dedicar-se à sua verdadeira missão: apoiar adultos no seu processo de RVC, fazendo o trabalho destes culminar num balanço de competências espelhado num Portefólio Reflexivo de Aprendizagens (também este mudou de nome)… mas que continuava a colaborar no diagnóstico de necessidades formativas, na preparação de sessões de validação (outra novidade) e de sessões de júri de certificação, na elaboração do plano anual de atividades, no tratamento de questionários de satisfação, na dinamização de atividades complementares com vista à dignificação do processo e das Histórias de Vida dos adultos. E muito mais...

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Foi uma vez agosto de 2011 e o final do vínculo contratual. Novamente, abriam concursos públicos para (re)constituição das equipas dos CNO. E, assim, deixou de ser Profissional de RVC e optou por ser TDE, assinando um novo contrato em outubro e com término a 31 de dezembro de 2013. Integrava, agora, o mundo dos funcionários públicos. Passou, então, a sentir algumas dificuldades em formalizar encaminhamentos – alguns cursos EFA tardavam em abrir, nem sempre era pacífico reunir o número de formandos necessário para frequentar uma UFCD…

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Foi uma vez fevereiro de 2012, o mês em que se anunciou o indeferimento da candidatura financeira. Muitos Centros sentiram os abalos premonitórios e aquela que era a “Família CNO” (uns conhecidos apenas de redes sociais, da NING, de blogues, do Facebook e outros dos Encontros Nacionais da Rede de Centros) tremeu… sentia-se ameaçada e a asfixiar. Começava a faltar-lhe o oxigénio, as botijas escasseavam. As águas agitavam-se e os ventos começavam a assobiar e a trazer nuvens ao céu azul da EFA.
Foi assim que, contrariando o que meios de comunicação afirmavam, ocorreram imensos despedimentos da Função Pública.
Começava a ser destruído o sistema nacional de reconhecimento e validação de competências, ao qual se seguiria toda a Educação e Formação de Adultos.
Os adultos despediram-se depois da assinatura do “passaporte da transferência” e levaram na mala o trabalho produzido e uma palavra de aconchego e de incentivo. Migraram para outra entidade, na incerteza se lá rematariam o processo. Enchi-me de vazio, tal como as gavetas e os armários que foram despidos. O telefone deixou de tocar.

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Com as réplicas sísmicas começou a faltar tema e somaram-se (des)abafos – inclusive neste esp@ço de partilha.
Após um período de interregno em que a EFA ficou a marinar para uns e caiu em esquecimento forçado para outros (para muitos profissionais a salvação foi a reconversão profissional)… foi uma vez o dia 29 de janeiro de 2013 que lançou a público uma proposta de portaria (finalmente!), podendo-se constatar a criação da figura do Técnico de Orientação, Reconhecimento e Validação de Competências (TORVC). Nada mais nada menos do que aquela figura de 2006.
Bem-vindos a (pelo menos – quem trabalhava na área há mais tempo, será mais certamente…) 2006!

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Foi uma vez ser TORVC… aquela figura que já havia sido (sob outra designação) em 2006. Agora, à frente de um CQEP cuja missão foi revista pela Portaria n.º 135-A/2013, de 28 de março, dirigindo-se também a jovens a partir dos 15 anos e vendo introduzida a etapa de “informação e orientação”: numa fase debilitada da EFA em Portugal, com candidaturas para abrir sabia-se lá quando, com adultos sem resposta formativa (à falta de oferta) “pendurados” no SIGO nas diversas etapas prévias ao encaminhamento...

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De 9 anos em prol da EFA trago no meu Portefólio de Desenvolvimento Vocacional (mudou de nome mais uma vez!), acima de tudo (porque o processo é deles, para eles e com eles) os adultos que conheci – autênticos laboratórios de experiências – e o balanço que faziam, que recordo ser a melhor recompensa para cada um e que (me/nos) “tocava” pela imensidão que viam neste trajeto de (re)conquista e de descoberta. Saíam de forma bem diferente da que os fez entrar – sobretudo, mais autoconfiantes e desejosos de continuar.

Foi assim que, também eu, saí.
E na (ainda) incerteza e indefinição de sobrevivência de muitos CQEP da rede nacional, o alargamento dos temas e das notícias deste esp@ço foi a forma encontrada para manter este “céu” vivo – uma herança de um Avaliador Externo que tanto nos deu e ensinou -, sem tantos ventos, sem tantas águas agitadas… na esperança que os CQEP conquistem o seu meritório terreno na EFA em Portugal e contribuam para a consolidar e estabilizar.

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