terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Le Roi est mort...

Foram tantas as marés que não as consigo contar!
Num barco construído com o suor de cada um dos elementos da tripulação, a viagem fez-se.
E repetiu-se, vezes sem conta, tantas quantas as necessárias, para que quem nos abordasse pudesse chegar a bom porto, na ilha das aprendizagens, em jornadas de auto-reflexão e de descoberta.

Foram tantas as noites estreladas, em tempos de acalmia, a olhar com orgulho para o céu, enquanto o caminho se formava, à frente da proa, em rasgos de água serena! Tantas as noites quantos os dias luminosos, feitos de auroras boreais, austrais e outras, cheios de reflexos do brio da existência humana, em vibração constante e em permanente transformação. 

A vida aconteceu, neste barco, com risos e lágrimas, cantos e palmas; houve cheiros de chás em convívios de inverno e sabores de frutos em cocktails de verão, houve encontros e desencontros, seminários, jornadas e concertos de poesia; houve trabalho árduo e rotinas prazerosas. Houve dúvidas e questões, debates e propostas, discussões animadas, partilhas e contrapontos, máscaras gregas, magias...e retortas de alquimistas...


Mas, a partir de Agora, o barco vai ficar atracado no cais. Para sempre. 
Porque eles decidiram. 
Numa azáfama desvitalizada, os tripulantes retiram lembranças, certificados de prata, tesouros e pérolas de diplomas, cofres de documentos preciosos, processam o transbordo dos passageiros, contrariados, sem qualquer assunção clara de que haja alguma real solução à vista.

Em desespero de causa, enrolam as amarras caídas aos postes do cais, num último gesto de entrega e de súplica, resistem ao apelo das profundezas do oceano, do canto das sereias e do pó de água na crista das ondas que se agigantam por detrás dos faróis norteadores, em convites de deslizes e superação egoica.
Sabem que, a partir de Agora, podem cair no abismo do esquecimento e da indignação, sujeitos que ficam às garras do desemprego, sem barco para viajar. Começam a duvidar de si e dos outros, deixando-se embalar em cantigas de diz-que disse, acusando parceiros e amigos, disparando em qualquer direção, enquanto, na sombra, eles preparam implacáveis decisões de prazos impreteríveis. 

Desta história, ainda não reza a História, havendo até quem pense que seria melhor que desaparecessem  rosários e terços de oportunidades, dando ouvidos às vozes da vergonha que agora sentem por terem vivido tal paradigma.

Marinheiros, ACORDAI!

Em perigos e guerras esforçados, 
Mais do que prometia a força humana,
a obra fez-se e aconteceu! Fomos descobridores de terras novas e, um dia, seremos considerados precursores, no mundo da Aprendizagem ao Longo da Vida. Só quem fez a viagem lhe pode dar valor, por ter percebido o seu duplo caráter criativo e transformativo, por ter feito da partilha uma estratégia de formação, por ter valorizado saberes adquiridos in and out of the box. 
Assim, o espalharei por toda a parte, 
Se a tanto me ajudar o engenho e a arte (Os Lusíadas (1572). 

Mesmo que eles, eles, não saibam nem sonhem....que, como nos ensinou  Gedeão, o sonho comanda a vida e que nas ilhas de aprendizagens, sempre que os barcos param, há casulos de mariposas à espera do tempo certo. 

... vive le Roi!





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