sábado, 4 de fevereiro de 2012

Os cavaleiros da Ordem do Referencial

Graças às Novas Oportunidades, conheci as nossas gentes de muito perto, ouvindo  as suas esperanças e os seus receios, associados a um percurso escolar interrompido por razões várias, muitas vezes de índole económico-social. Pessoas que não puderam continuar a estudar e que tiveram que entrar precocemente no mercado de trabalho. Vi os seus olhos a brilhar de orgulho, depois de passarem pelo processo RVCC. Segui o percurso de alguns que continuaram os estudos no Ensino Superior, com sucesso. Outros conseguiram emprego. Outros, empreendedores, investiram a coragem na sua própria empresa. Outros ainda, descobriram que iriam aprender ao Longo da Vida, para sempre.
Há na natureza deste processo, um fator essencial cujo segredo óbvio revelo sem pudor, pois toda a gente o conhece. Trata-se do R. R de reconhecimento, aquele que toda a gente procura desde a mais tenra infância. Lembram-se? A criança vira-se para o pai ou para a mãe, ou para ambos: "Ó Pai, Ó mãe, olha, olha, olha, já consigo andar de bicicleta, já consigo nadar, já consigo escrever, já consigo ler, já consigo...." Neste processo, é a autoridade constituída simbolicamente pelos elementos da  sessão de júri, técnicos e formadores especializados, avaliadores externos, que vai reconhecer as aprendizagens formais e informais, os adquiridos, a experiência . 

E com o reconhecimento social das suas competências, o candidato fica reconhecido, ou seja: agradecido! Não é por acaso que “reconhecido” tem este duplo significado. A palavra esconde em si um sorriso autêntico e partilhado. De um lado, o sorriso de quem participou ativamente no reconhecimento do outro, conferindo-lhe créditos como elemento de pleno direito do grupo social e da comunidade. Do outro, o sorriso de quem deu um salto na sua evolução, na sua aprendizagem e no seu percurso de vida.
O processo RVCC permite estabelecer novas conexões entre candidatos e técnicos, à imagem do que se passa entre sinapses, reforçando a estrutura social local, criando condições para que o sentimento de pertença e de identidade favoreça o desenvolvimento de grupos sociais mais fortes e mais empreendedores.
Ignorar esta realidade pode representar uma oportunidade perdida de permitir que Portugal cresça, de facto, ao ritmo europeu.

Mas a vida nas Novas Oportunidades mudou... com ruídos de trovoada sideral, numa singularidade de evento paradoxal, no espaço-tempo, semelhante ao que conseguimos imaginar que possa acontecer à luz, na proximidade de um buraco negro. . Dizem por aí que vão acabar, que andam por aí os donos dos anéis do poder, que se acercaram dos Centros, que os querem transformar, eliminando alguns e reformando outros. Dizem por aí, num sussurro tumultuoso anunciando sismo, que o futuro acaba já amanhã. Dizem que nada poderá deter as transformações que se avizinham e que o Reconhecimento já não pode ser feito, porque, paradoxalmente,  não foi reconhecido..... Dizem tanta coisa por aí....

Eu gostava de dizer mais uma. Como qualquer um de vós, sou apenas uma semente. Sou pequenina e, embora de aparência frágil, sou resistente. Contenho em mim os segredos da vida, aprendi a ser resiliente, a adaptar-me às mudanças e às vicissitudes do percurso, sem nunca deixar de ser eu, mesmo no coração da tempestade. As sementes contêm tudo dentro de si. Vejam no que se transforma uma semente de oliveira, numa árvore magnífica, com um pouco de terra, água da chuva e a luz do sol. Já não é uma semente, agora é uma árvore e promete sombra, proteção e alimento. Cada oliveira conta uma história de vida, retorcendo o tronco para se adaptar aos ventos contextuais e circunstanciais. Todos temos essas faculdades dentro de nós. Todos podemos crescer e aprender a dar. Sem medo e com o orgulho de termos crescido em nome de uma causa maior.
Por isso, também no mundo da Educação e Formação de Adultos, quais cavaleiros da Ordem do Referencial, defensores dos princípios de respeito, confiança, criatividade, colaboração e inovação, importa mantermos a capacidade de nos adaptarmos a um mundo em mudança constante e cuja  única condição permanente é precisamente a da transformação. Sejamos, então, capazes de nos adaptarmos à realidade emergente, aprendendo com Einstein que nos encontramos sempre em novos patamares da realidade, ascendendo em aprendizagem, etapa a etapa, com a responsabilidade acrescida de não o podermos nunca mais ignorar: “ A mente que se abre a uma nova ideia, jamais voltará ao seu tamanho original”

3 comentários:

BlueShell disse...

Li o seu texto atentamente e me revi nas suas oalavras: sou formadora de LC e CE Básico e de CLC - secunário;
pertenço ao Cno do agrupamento de escolas de Mangualde. E preocupa-me que o governo queira acabar com esta iniciativa; preocupa-me pelos adultos que frequentam, ou que poderiam vir a frequentar este processo. veja...não é por mim...se o Cno acabar eu tenho lugar na minha escola, aui mesmo em Mangualde: sou a mais velha do quadro e a primeira a escolher níveis no que toc ao ensino regular! Por isso, o meu receio e a minha revolta se aacabarem com o Centro é, como disse , pelos adultos.
Sempre tivemos a preocupação de fazer um processo sério...nem sempre cumprindo as metas...obviamente. Mas os adultos ficam, sim , felizes. Sei disso porque o vejo...no olhar, no sorriso...de cada um dos adulto s certificados.

Obrigada pela oportunidade de expor a minha opinião e o meu receio. Este blog deveria ter mais divulgação.

Grata,
Abraço

Cláudia Branco disse...

Parabéns!Excelente texto!

Cláudia Branco disse...

Parabéns!Excelente texto!