sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A Orquestra


"Gosto de ir ver a orquestra. Vou ouvi-la, também, mas gosto mesmo é de a ver: enche-se-me a alma de uma outra forma; junto à beleza da música o encanto de ver o homem ser como deve ser. Dominar um instrumento musical leva muito tempo. É preciso tornar os gestos sólidos e finos. Exige o aperfeiçoamento constante de qualquer coisa que nasceu connosco, deve desenvolver-se dentro de nós e brotar mais tarde, com naturalidade, como a água da fonte."

A mesma solidez encontra-se na Educação e Formação de Adultos. Uma pauta foi criada há várias décadas e, desde então, diversos agentes que foram virando as páginas da História da Educação em Portugal, estudaram estratégias para aprimorar a melodia concertada dos instrumentos teóricos e pedagógicos e as ferramentas metodológicas que iam sendo manipuladas para tornar o som ainda mais afinado. 
"O belo som que produz é incapaz de se encher de sentido sozinho. Alguns instrumentos podem ser ouvidos, com agrado, sem acompanhamento; outros, nem por isso… Mas cada um deles só se torna verdadeiramente grande quando se apaga e se faz esquecer, passando oculto, como simples gota de água, no mar maravilhoso que é a sinfonia. E há uma obediência maravilhosa. Um senhor de aspecto frágil, já com certa idade e ar de sábio, tem nas mãos uma batuta e dirige com gestos ligeiros todos aqueles sons e todas aquelas vontades individuais. O violinista não se liberta quando lhe apetece. E não pode brilhar: deve conter-se, prendendo-se aos seus tempos próprios e ao papel concreto que lhe corresponde."
E é intenção que as vontades individuais criem uma teia de relações, pois só dessa forma o som fará sentido. Sozinhas, cada uma por si, proporcionarão um tom parcelar. Conciliadas e articuladas, darão vida a um projeto. Aqui, as Redes Locais para a Qualificação (RLQ) poderão deter um papel fundamental na promoção de uma conduta de Aprendizagem ao Longo da Vida nas esferas local e regional. No entanto, esta operacionalização levanta algumas questões: a sustentabilidade das próprias redes no futuro próximo e a necessidade de tornar a sua intervenção mais estruturante, o que exigirá o envolvimento de uma ampla diversidade de atores locais e um reforço adicional da capacidade técnica acumulada. Esses diversos atores são os instrumentos da orquestra: muitos, isolados e sem acompanhamento, apagam-se… Todos são necessários porque todos têm o seu papel, a sua função e a sua missão. É a teia de instrumentos que transmite articulação sonora.
"Há muitos olhos atentos à mão que segura a batuta. Não se sentem constrangidos nem se revoltam. Procuram é a fidelidade ao seu pequeno papel, a melhor forma de passarem despercebidos: a perfeição pequena que é necessária à grande perfeição da sinfonia. E eu gosto de ir ver a orquestra também porque compreendo de novo que é possível obedecer com liberdade, e que não é humano fazê-lo à maneira dos escravos: com raiva e de má-vontade."
Também neste contexto específico a batuta marca presença... aqui! Comanda a engrenagem, levando-a à produção de uma melodia que se deseja que siga a mesma linha condutora: a mesma pauta, a mesma configuração musical, um ritmo acertado e sintonizado.
"Não há nada maior para fazer do que a sinfonia. O homem deseja ser grande e tem os seus sonhos. Mas se aquilo que sonha for verdadeiramente grande, ele não poderá realizá-lo sozinho. Um homem por si só não é capaz de construir uma ponte, ou uma estrada, ou uma universidade. Ou a paz, ou uma família. Não educará os filhos. Não será sequer capaz de se construir a si próprio. É perdendo-se na sinfonia que ele se encontra a si mesmo do tamanho que sonhou."
Um simples violino bem manuseado proporciona um bom momento musical. Mas, juntos, todos os instrumentos dão lugar a uma rede de sentido(s): plena, rica e enriquecida. E agora… Que mudanças irá o maestro apresentar à Orquestra?

Fonte: "A Orquestra" (Paulo Geraldo) - Educação na Aldeia

3 comentários:

Anabela dos Santos Luís disse...

Lindo! Uma sinfonia de palavras e conceitos, magnificamente encimada pelo virtuosismo de Vanessa Mae. Obrigada :))

Anónimo disse...

Em Rede(s), somos sentido(s)! :)

Isabel Perez disse...

Belíssima metáfora, Isabel! (Quando eu crescer quero escrever assim...!)
Abs

Isabel Perez
belita00@hotmail.com