sexta-feira, 2 de setembro de 2011

É uma vez um livro...

Na Educação na Aldeia percorrem-se trilhos e trechos de “lições”; de vida, devidas. Num tecido social impregnado de pressupostos que o tingem com a essência do que se deseja uma efetiva Aprendizagem ao Longo da Vida, nesta “Aldeia Globalizada” que é a Sociedade há paralelismos interessantes. Mensagens que, embora sediadas num contexto, podem ser extrapoladas para outros. É o caso que se segue e que pode ser lido na íntegra neste caminho da aldeia…

Era uma vez um livro. Um livro fechado. Tristemente fechado. Irremediavelmente fechado. Nunca ninguém o abrira, nem sequer para ler as primeiras linhas da primeira página das muitas que o livro tinha para oferecer. Um dia, mais não podendo, queixou-se:
— Ninguém me leu. Ninguém me liga.
Ao lado, um colega disse:
— Desconfio que, nesta estante, haverá muitos outros como tu.
— É o teu caso?
— Por sinal, não — esclareceu o colega, um respeitável calhamaço. — Estou todo sublinhado. Fui lido e relido. Sou um livro de estudo.
— Quem me dera essa sorte — disse outro livro ao lado, a entrar na conversa. — Por mim só me passaram os olhos, página sim, página não… Mas, enfim, já prestei para alguma coisa

— Eu também — falou, perto deles, um livrinho estreito. — Durante muito tempo servi de calço a uma mesa que tinha um pé mais curto.
— Isso não é trabalho para livro — estranhou o calhamaço.
— À falta de outro… — conformou-se o livro estreitinho.
Escutando os seus companheiros de estante, o livro que nunca fora aberto sentiu uma secreta inveja. Ao menos, tinham para contar, ao passo que ele… Suspirou. Não chegou ao fim do suspiro, porque duas mãos o foram buscar ao aperto da prateleira. As mãos pegaram nele e poisaram-no sobre os joelhos.
Começou a folheá-lo e, enquanto lhe alisava as primeiras páginas, foi dizendo:
— Este livro tem uma história. Comprei-o no dia em que tu nasceste. Guardei-o para ti, até hoje. É um livro muito especial.
Lê — exigiu a voz da menina.
E o pai da menina leu. E o livro aberto deixou que o lessem, de ponta a ponta.
Às vezes, vale a pena esperar.
(António Torrado)
Antes de servir de calço, reina e impera a esperança e a expetativa (em muitos) de ver surgir (um)a resposta para os trajetos e procedimentos concursais diluídos neste período de impasse. E de espera ativa e desperta…
Fica a crença que o empenho dos agentes diretamente implicados na fase da consolidação da identidade da Educação Permanente e Formação de Adultos em Portugal, aliado à travessia que estamos a constatar (fruto de conjunturas políticas, sociais e económicas) será um marco na solidificação de uma verdadeira Sociedade de Aprendizagem ao Longo da Vida. E a esperança de, no final, se poder ouvir e dizer, argumentando e fundamentando: “valeu a pena esperar”.
Nesse momento, esses agentes educativos e atores sociais serão as páginas da História da Educação de Adultos em Portugal de um “calhamaço” e consultar-se-ão como forma de auto e hetero aprendizagem, rumo a uma plataforma e a uma estrutura cada vez mais alicerçada e consistente.

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