quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A des/re/construção do PRA (III)

(CONTINUAÇÃO) Quando te conheci,António, foi preciso desconstruir-me primeiro dessas minhas classificações. É que a minha função também passa por ser imparcial. Já tentaste ser imparcial? Ou então ser tão imparcial que passas a tomar o partido do outro? Agora fiz-te sorrir? ainda bem, pois convém que entre nós se estabeleça uma relação de confiança, de cumplicidade, para capitalizarmos benefícios, tempo e resultados. Até porque o processo pressupõe autonomização e um esforço de construção de ti-mesmo, que pode ser lento e doloroso. Vai ser preciso colocar cada outro no seu lugar- e isso inclui-me a mim - para que possas ocupar o teu, na desconstrução e reconstrução da tua identidade. Haverá sempre intersubjectividade, mesmo quando julgas que não há. Aliás, quando escrevemos, fazêmo-lo sempre para alguém. Já pensaste nisto António? Quando te revelas inseguro e me perguntas se está bem, quando elaboras o discurso em hesitações e escolhas, reconsiderando percursos escolares incompletos ou projectos profissionais associados a expectativas de formação, quando escreves à procura de respostas, diriges sempre a tua escrita a alguém. As diferentes versões das narrativas que me entregas são interpretações habitadas por mim... Entrei na tua casa das recordações, no teu baú de escolhas e vivências e vou tentando dar-lhes um brilho novo, orientando os raios do sol em direcção aos espelhos de que falava ainda agora, os espelhos do referencial, para, assim, conseguir realçar a pertinência e relevância dessas escolhas e vivências no teu processo de reconhecimento. Espero, desta forma, poder contribuir para desfazer em ti aquele agrume residual em relação à vida, à escola, à aprendizagem e à esperança no futuro. Espero, assim, neste meu papel de Oceânide, contagiar-te com o fogo dos deuses e despertar em ti o Prometeu adormecido, sedento de conhecimento e de arte. (CONTINUA)

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