quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A des/re/construção do PRA (II)

(CONTINUAÇÃO)

A viagem da descoberta consiste não em achar novas paisagens, mas em ver com novos olhos (Marcel Proust)

Os teus amores não me interessam, António... E vou esquecer-me dos meus porque também não são relevantes para ti. Fala-me do que aprendeste, de como queres que a sociedade te veja. Fala-me do que fizeste e do que ficou por fazer. Diz-me por onde andaste e o que aprendeste com as tuas escolhas.
Olha para ti neste espelho - chama-se referencial, sabias? não te parece que as tuas vivências podem levar a uma reflexão profunda? Claro que sim. Com esta metodologia podes identificar, reconhecer e valorizar saberes, competências, atitudes e comportamentos que foste adquirindo em contextos de vida e de trabalho e que não se materializaram ainda num certificado oficial.
Vais ver que tens tanto para partilhar, António, que nem imaginavas que assim poderia ser. És muito maior do que tu. E muito maior do que eu alguma vez conseguirei ver.
Olha António, eu não te vou dizer o que escrever, porque te respeito, embora vontade não me falte, às vezes, de te sussurrar modelos, ideias, sugestões, daquelas que se encaixam tão bem no teu perfil, aquele que já me chegou, bem definido e delineado, porque foste acolhido e encaminhado com o carinho requerido. Não, não te estou a falar dos teus atributos físicos, não é desse perfil que se trata, embora esse teu ar sereno faça ressoar em mim uma ou outra corda sensível aos teus olhos castanhos de encantos tamanhos. Não. Quando falo de perfil refiro-me à imagem aproximada de quem és ou podes ser, de como actuas ou podes vir a actuar. Sabes, aquela impressão com que ficamos quando conhecemos alguém e com a qual, mesmo sem querer, estabelecemos logo uma distribuição interna pelos vários sectores das nossas configurações classificativas.
Inquietação e desconforto: é o que vais sentir aqui e ali, nessa des/re/construção do teu Portefólio reflexivo de aprendizagens, quando te aperceberes que o conhecimento está num permanente estado de porvir. Mas essa mesma abordagem de descoberta tem procedimentos heurísticos que conferem um novo valor às tuas experiências de vida, atribuindo-lhes dimensões e valores individuais e sociais. Não desesperes, António: este espelho parece ainda tão baço quando olhas para ele, mas com a minha ajuda, o reflexo tornar-se-à cada vez mais nítido e preciso, prometo.
(CONTINUA)

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