terça-feira, 15 de setembro de 2009

Problematizar o futuro

"As políticas e as práticas de educação e formação que nos são, actualmente, propostas procuram induzir processos de conformidade social relativamente a um presente que é o resultado de um fatalismo e a um futuro que se antecipa como inexorável. Esta perspectiva da educação, presente na «aprendizagem ao longo da vida», está nos antípodas de uma concepção de educação permanente, encarada como o trabalho que cada um realiza sobre si próprio, na construção de si, de uma visão e de uma intervenção no mundo, o que implica admitir que o mundo social, como construção humana, pode ser compreendido e objecto de uma acção transformadora. Nas palavras de Paulo Freire, isto implica percepcionar o futuro não como algo de inexorável, mas sim como algo de problemático. O papel central da educação e da formação consiste, então, em ajudar a problematizar o futuro. Ora o pensamento educativo que suporta a «aprendizagem ao longo da vida» propõe-nos justamente o contrário, ou seja, uma «desproblematização do futuro», o que corresponde a «uma ruptura com a natureza humana, social e historicamente constituindo-se. O futuro não nos faz. Nós é que nos refazemos na luta para fazê-lo» (Freire, 2000, p.56). Como não se cansou de repetir Freire, ao longo de toda a sua obra, não há projecto educativo que não esteja associado a um projecto social e político."


Canário, R. (2001). Adultos - da escolarização à educação. Revista Portuguesa de Pedagogia, 35, 1, pp. 85-99.

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