segunda-feira, 9 de março de 2009

Aviso: Que não se esqueça o processo de RVC

Penso que é o momento de fazer esta reflexão e publicar uma posição que tenho tido publicamente e que penso ser útil esclarecer. Tenho assistido, nos últimos anos mas principalmente no final do ano passado e início do presente, a um fenómeno que achei curioso inicialmente e começo a achar preocupante neste momento. Durante muitos anos ouvia falar, aos adultos e às equipas, no processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC). Hoje, este conceito foi substituído por outro… As Novas Oportunidades. O que se ouve é algo como: “Eu vim para as Novas Oportunidades.” ou “ Estou a completar o 9.º ano pelas Novas Oportunidades.”. Não nego a importância de uma “imagem de marca”. Não nego também que foi, devido a um estratégico uso da publicidade e marketing que a Iniciativa Novas Oportunidades teve/tem o sucesso que actualmente se verifica. Mas não posso deixar de alertar que, em alguns casos, o conceito essencial em que esta iniciativa assenta se está a perder. Isto é, a essência do processo de RVC, assente numa metodologia de Balanço de Competências está na base dos percursos de qualificação que os Centros Novas Oportunidades oferecem aos adultos e não qualquer outra coisa que, entre orientações técnicas, metas, desvios metodológicos introduzidos pela organização demasiado formal do processo e outras influências que tais tendem a deformar de tal forma a lógica essencial do processo que os próprios adultos deixam de falar de Reconhecimento de Competências e passam a falar em Certificação e Novas Oportunidades. Temos que, enquanto profissionais de rigor e da Educação, pensar prospectivamente e começar a procurar usar conceitos para o futuro como a ideia da Aprendizagem ao Longo da Vida e das Competências como “Saberes em Acção”. É por isso que, quando digo que é preciso pensar sempre “fora” do conceito “Novas Oportunidades”, falo nesta capacidade que podemos ter, equipas, tutela e avaliadores de efectivamente não fixar a qualificação/certificação adquirida num projecto/iniciativa que é determinado por um momento social e/ou político e desenharmos um projecto que teve este ponto de partida mas que terá o seu futuro numa estratégia sustentada de resposta no âmbito da Aprendizagem ao Longo da Vida como mecanismo continuo e continuado de valorização das aprendizagens e da educação/formação de adultos em Portugal. Fica uma reflexão em jeito de aviso…

1 comentário:

Mafalda Branco disse...

Olá João!
Fico muito satisfeita por ver que lança este "aviso" ou faz esta reflexão. É urgente que nos debruçemos sobre ela. Penso também muitas vezes no que está a acontecer actualmente, com a massificação desta Iniciativa. E é preciso não nos esquecermos dos pressupostos em que ela assenta: aprendizagem ao longo da vida, metodologia de balanço de competências, de abordagem autobiográfica, de construção de um portefólio reflexivo de aprendizagens. Às vezes assusto-me quando vou a algumas formações/ encontros e ouço falar de tudo menos disto, que é a essência, o ponto de partida do processo de reconhecimento de competências. Quando se fala, a maior parte dos técnicos considera que estamos a ser utópicos, pois "é impossível cumprir metas com estas metodologias"... Isto é preocupante, na minha perspectiva. Então, mas afinal, que metodologia se está a utilizar? De que estão a partir os processos de reconhecimento e validação de competências? Não é da história e da experiência de vida dos adultos?... Por isso compreendo e concordo perfeitamente com o que defende nesta reflexão. E penso que é da responsabilidade de todos nós, porque somos profissionais, implementar as metodologias referidas, numa lógica de credibilização do processo e, acima de tudo, do trabalho por que cada um de nós é responsável. Apesar de todos os constrangimentos ou dificuldades com que nos possamos ir deparando, temos essa obrigação!
Bom trabalho!
Mafalda Branco