sábado, 31 de janeiro de 2009

As Metas: Reflexões sobre um número...

Tenho ouvido e assistido ao crescendo de um discurso que me preocupa. O discurso empurra os Centros Novas Oportunidades para uma aceleração com vista a cumprir um número. Um número que antes de mais é uma meta política. E é este número preocupa. Sempre fui defensor da existência de metas qualitativas e quantitativas a serem definidas pelos Centros Novas Oportunidades em função do seu contexto, capacidade e objectivos. Sempre entendi, no entanto, a existência de metas nacionais, claro que, relacionados com os financiamentos e demais objectivos da entidade tutelar que são, se forem realistas, compreensíveis e desejáveis. Mas tenho que me colocar do lado oposto do discurso da aceleração para o cumprimento desse objectivo do número mais ou menos mágico que sempre esteve presente, mas que agora, surge em muitas afirmações como um imperativo categórico. Hoje, muitos Centros Novas Oportunidades têm centenas de inscritos. Números muito superiores aos alunos do ensino diurno, regular. No entanto, o número de profissionais para ambos os casos são totalmente diferentes. E o trabalho de RVCC deve ser um trabalho pessoal, individual e contínuo. Não é, humanamente possível pedir mais a estas equipas sem lhes pedir também que facilitem os processos. Ou um, ou outro. O equilíbrio que se fala é sempre uma estratégia que retira qualidade para cumprir o dito número. Diz-se: “Sem perder a qualidade, organizem novas estratégias para uma resposta mais ajustada ao cumprimento de metas”. Digo, não é possível fazer esse ajustamento sem criar mecanismos que “cortam” partes ou momentos muitas vezes essenciais nos processos.
Creio que é extremamente importante que se entenda que, para muitos adultos, (muitos chegam a pedir para estar ou ficar mais tempo em processo) o reconhecimento das suas competências é o início de um regresso à aprendizagem e qualificação efectiva. E o trabalho permanente, contínuo e continuado que é necessário fazer pelas equipas não pode ter um prazo definido igualmente para todos os adultos, sem considerar os ritmos individuais e os objectivos pessoais.
Este texto é uma tomada de posição. É claro para mim que o resultado do sucesso da Iniciativa Novas Oportunidades não passa por “certificar” 1 milhão de portugueses, mas sim, iniciar um processo de efectiva qualificação e orientação para a aprendizagem ao longo da vida consolidada no maior número possível de adultos que passam pelo processo de RVC. Muito mais difícil, mas um processo que pode, de facto, mudar alguma coisa…

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