terça-feira, 7 de outubro de 2008

Os “erros” da implementação dos Cursos EFA.

Desde o início da Iniciativa Novas Oportunidades que fui (e até prova em contrário) serei, um acérrimo defensor dos Cursos de Educação e Formação de Adultos. Muito mais do que o processo RVCC estes percursos de formação podem, efectivamente, valorizar aprendizagens e mobilizar novas e antigas competências individuais.

Mas tenho acompanhado várias equipas de mediadores e formadores e tenho que levantar a minha voz para alguns erros que foram cometidos e que (alguns estão a ser remediados pela boa vontade de todos os envolvidos) podem por em causa a qualidade final dos cursos.

Destaco os 4 erros que considero estarem a ser cometidos:

  • O maior de todos os erros é a não implementação da chamada “co-docência”. Tive a experiência de ter dado formação em cursos EFA de nível secundário em co-docência e sei qual é a vantagem de ter um/uma colega na sala em trabalho coordenado. O tempo de atenção aos formandos e a mobilização de saberes ocorre de forma muito mais rica, individual e potenciadora de gerar efectivas competências em contexto de aprendizagem.

  • A ausência de formação às equipas. Quer os mediadores, quer os formadores (sendo de destacar o esforço que algumas Direcções Regionais fizeram recentemente para dar formação) não tiveram preparação prévia para uma nova metodologia de trabalho, de ensino e de cooperação com diversas entidades internas e externas à escola. Vai valendo o profissionalismo, dedicação e capacidade de reflexão individual e colectiva de muitos docentes.

  • A relação entre as equipas dos CNO e dos cursos EFA parecem, por vezes, demasiadamente separadas. Se ambos trabalham os mesmos instrumentos, se ambos transferem entre si formandos/adultos para conclusão, aperfeiçoamento e/ou integração porque não criam redes e recursos de comunicação formal? Porque não começam já a preparar esse terreno antes que chegue o momento e não encontrem uma solução rápida que não deixe o público-alvo sem resposta?

  • Muitos Centros Novas Oportunidades “acordaram” tarde para a existência da relação entre EFA e RVCC. É agora altura das entidades reguladoras do processo dar formação e produzirem alguma informação para orientar metodologicamente essa relação.

Este alerta é também (e dever ser também) um reconhecimento do trabalho que as equipas já fizeram até aqui. Com as dificuldades de começar um novo projecto a nível nacional, com a massificação e procura por parte dos formandos destas soluções, estas equipas dos cursos EFA têm procurado, com profissionalismo e rigor, dar resposta ao que lhes foi pedido.

Os cursos EFA são uma das efectivas estratégias de qualificação dos recursos humanos. É altura de acreditar, melhorar, dinamizar e levar a bom porto uma resposta a aqueles que regressam à escola depois de muito tempo desta afastados ou para concluírem os seus estudos que tenha a qualidade, o reconhecimento e o valor que todos desejamos.

1 comentário:

MafaldaBranco disse...

Olá João!
Começo por dizer que penso que é da discussão que nasce a luz e que a troca de ideias e as críticas construtivas podem ajudar a criar um sistema cada vez mais credível e de qualidade. Há que olhar e avaliar os aspectos positivos, mas também há que ter consciência dos aspectos que podemos melhorar! :)
Concordo com o que diz, sobretudo no que respeita à formação das equipas. Um sistema complexo como o que constitui os Cursos EFA não pode ser implementado se os elementos da equipa não souberem o que, como e porque fazer. Assisto diariamente ao esforço que muitos colegas (alguns com mais de 20 anos de sistema de ensino "tradicional") fazem para se tentarem adaptar a esta modelo. Assisto ao esforço e à vontade dos formandos. Assisto e participo do esforço que as equipas dos CNO fazem no sentido de encaminharem os seus adultos e trabalharem em articulação com as equipas EFA. Gostaria imenso de assistir ao esforço das entidades competentes em proporcionar formação (gratuita, obrigatória e atempada) a todos os elementos das equipas!...
Gostaria ainda de salientar um aspecto que me parece extremamente preocupante, sobretudo nas zonas do interior. Não há oferta formativa, não há diversidade, não há resposta adequada aos perfis dos adultos! Se assim é, como pode o encaminhamento funcionar? Como podemos prestar um serviço de qualidade aos adultos e à educação?... Ficam algumas angústias e questões que penso serem comuns a muitas equipas.
Bom trabalho!
Mafalda Branco