sábado, 15 de setembro de 2007

Estado de Alma da Educação em Portugal

Imagine que estava em 1910. Nos jornais iria ler que o objectivo político era simples: que muitos portugueses conseguissem, simplesmente, ler, escrever e contar. Esta luta pelo ensino e educação começava aqui. Na esperança republicana de melhorar a escolaridade. E repare o leitor na palavra referida. Escolaridade. O tempo de estudo na escola, nos bancos de madeira e nas secretárias solitárias. Mas o princípio era simples. Seguem-se anos de instabilidade política. Em 1933, as regras marcadas por uma nova Constituição definem que à frente do país estaria um só homem. Uma só força. Estes tempos marcam o ensino em Portugal essencialmente pela ideia que é necessário controlar o maior de todos os poderes: O conhecimento. O Saber passa a ser de poucos. A educação, um bem maior. Ler, escrever e contar está em cada aldeia pelas escolas primárias, pelos lugares e os mestres-escola. Poder representativo de um ideal. Nem todos, só poucos, podiam aceder ao poder do conhecimento. Em Abril tudo mudará. Em 1974 o país liberta-se. O desejo é simples. Democratizar o ensino. Em 30 anos, agora contados, mais de 6 reformas e pequenos ajustes que tudo mudam. Acaba-se com as Escolas Industriais e Comerciais. Minimiza-se a importância do ensino profissional. Eram precisos doutores. Formam-se Universidades. Públicas, Privadas e assim-assim. O Ensino vira-se para o saber científico e esquece o resto. Produzem-se excelentes teóricos. O mercado absorve-os. Treina-os na prática que lhes falta. O país é pequeno. Rapidamente o sistema afunila-se. Muitos para poucos lugares. O governo olha sem resposta. Olha e vê que mais de metade dos portugueses continuam sem o ensino básico e mais de setenta por cento sem o ensino secundário. Olha para o abandono escolar como um mal. Não como uma consequência. As escolas choram incessantemente sobre esse abandono. Os alunos pensam na razão de estudar se mesmo os “doutores” não conseguem emprego. A sociedade vira-se para o desejado regresso da via profissional. Estamos em 2007. As escolas precisam agora de mudar. Tomar os três modelos e não excluir nenhum. É preciso aprender com os erros do passado. Três vertentes: A escola tem que ser uma Escola-Ciência. Porque é preciso especializar, porque é preciso conhecer e descobrir. Mas a mesma escola tem também que ser uma Escola- Profissão. Porque nem sempre é preciso teorizar. Aprender a fazer é uma saída para tantos. Um caminho para excelentes profissionais. Deixamos de falar em escolaridade, passamos a falar em qualificação. Está a perguntar sobre a terceira via? Pois é, durante este meu discurso de 1910 a 2007 o esqueceu-se de milhares de pessoas que aprenderam com e na sua profissão, obtiveram formação profissional, aprenderam línguas ou técnicas. Essa escola, a da vida, hoje também tem que ser valorizada pelo sistema de ensino. É a Educação e Formação de Adultos. Talvez seja também altura de pensar neste campo. Portugal e o seu Sistema de Ensino não se pode dar ao luxo de deixar ninguém de fora. É necessário e urgente pensar nesta área de aprendizagem. O futuro está nas mãos de todos. Aprendendo.
Texto publicado no Jornal Trevim. Autoria própria.

1 comentário:

José Carrancudo disse...

O que se fez em 30 anos é desmontar aquilo que funcionava razoavelmente, sem montar o que conseguisse funcionar. Devemos recriar as escolas profissionais e repor os métodos de ensino válidos nas escolas de ensino científico. As universidades privadas para nada servem a não ser dar canudos aos boys, ridicularizando a própria ideia de um curso superior. Infelizmente, este M.E. não é mais competente que os anteriores.