quarta-feira, 20 de junho de 2007

Reflexão

Após a audição sobre Aprendizagem ao Longo da Vida e os Desafios do Emprego promovida no âmbito do Debate Nacional de Educação, Fernanda Marques, Directora do Centro RVCC da ANOP, Associação Nacional de Oficinas Projecto, publicou uma síntese das análises e propostas apresentadas, onde se lê:
“O primeiro grande mal-entendido respeita às metas quantitativas. É necessário reafirmar o que desde sempre tem vindo a ser afirmado por todos os responsáveis que operam no terreno: as metas com que o Estado português se comprometeu foram irrealistas, claramente políticas e divorciadas de um efectivo estudo prévio de quantas pessoas seria possível certificar anualmente em cada Centro de RVCC respeitando as metodologias e os processos aplicados ao reconhecimento, validação e certificação de adquiridos. Este “desconhecimento” por parte dos órgãos da Administração Pública que tutelam os Centros de RVCC teve a sua tradução numa permanente pressão sobre os Centros no sentido de os obrigar a certificar anualmente um número de candidatos muito superior àquele que a dimensão e a constituição das equipas técnicas poderia permitir; este facto traduziu-se num atropelo, de gravidade variável, às metodologias inerentes ao reconhecimento, validação e certificação de adquiridos que tem (e terá) como consequência a progressiva desvalorização do valor social do diploma assim alcançado.
O segundo mal-entendido de base prende-se a uma visão reducionista que vê no sistema de RVCC a “grande” solução para os problemas da sub-certificação da população portuguesa. Se esta visão não estava presente no final dos anos 90 quando, através do grupo de Missão para a Educação e Formação de Adultos mais tarde ANEFA, se começaram a estruturar dispositivos de intervenção diversificados e complementares destinados a intervir junto dos activos portugueses sem qualificação escolar e profissional tais como os cursos de Educação e Formação de Adultos, as Acções S@ber+ e os Clubes S@ber+, a extinção da ANEFA e a ausência de políticas de continuidade nesta área rapidamente conduziram à visão acima referida.
O terceiro mal-entendido de base prende-se com o desprezo ou a secundarização da especificidade do processo conducente ao reconhecimento, validação e certificação de adquiridos quer ao nível das metodologias aplicáveis quer ao nível dos grupos alvo a que se destina, e que teve eco quer em muitos Centros de RVCC quer ao nível da tutela na expectativa de que, pela “simplificação” do processo ou uma maior abrangência deste– nomeadamente jovens adultos - , se pudesse finalmente atingir números que para todos eram tidos como inatingíveis.”
In: Blog da Formação

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